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04/10/2007 - 09h00

Com paciência, "soccer" mira a América do Sul para crescer

Fernando Figueiredo Mello, especial para o Pelé.Net

SÃO PAULO - Habituados a serem modelos e com parte considerável da população voltada apenas para o que acontece dentro de suas fronteiras, os Estados Unidos cedem e sinalizam outra postura aos seus vizinhos que não têm o inglês como idioma oficial quando o assunto é crescer no futebol - o "soccer" deles.

Reuters
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APOSTA NOS JOVENS
A Major League Soccer, liga profissional do país estabelecida há 12 anos, inverte a corrente migratória preferencial no Novo Mundo e mira a América do Sul como palco desse "sonho americano". "Num longo prazo, nós temos a intenção de participar da Copa Libertadores, se for possível", afirma ao Pelé.Net Ivan Gazidis, vice-presidente da MLS.

Para atingir o objetivo de exportar o "soccer", Gazidis prega cautela e paciência. Tais predicados se fazem presentes no discurso do executivo quando ele discorre sobre os progressos, dificuldades e perspectivas do futebol em meio ao culto ao beisebol, ao futebol americano e ao basquete, a santíssima trindade do esporte norte-americano.

A chegada do astro inglês David Beckham e a valorização da seleção nacional, entre outros planos, são fatores que levam Gazidis a crer ser possível tal internacionalização. "Nossa ambição é ter uma liga de futebol que possa ser comparada às melhores do mundo. Não vai acontecer nos próximos cinco anos, mas acreditamos que há razões sólidas (leia quadro abaixo) para realizar esse objetivo", afirmou o cartola na seguinte entrevista:

"...Temos mais garotos jogando bola nos EUA, olhando para o futuro, do que quase qualquer outro país do mundo".
"...Temos extensão e mercado enormes, comparáveis somente aos da China."
"...Temos crescimento de população de origem hispânica, latina."
"...Temos uma sofisticada estrutura comercial esportiva montada."
"...Temos uma rede global crescente, através de internet e televisão, ligada ao futebol."
"...Temos infra-estrutura de estádios, que podem abrigar não somente jogos, mas eventos internacionais, como a Copa do Mundo."
"...Temos médicos e medicina esportiva bem desenvolvida."
"...Temos técnicos e juízes, mais do que qualquer outra liga no mundo."
DIRIGENTE DA MLS CRÊ NA ASCENSÃO DOS EUA PORQUE...
Pelé.Net - Desde 2005, os EUA disputam, na Concacaf, uma vaga na Copa Sul-Americana. O país já conseguiu duas participações (com o DC United, em 2005 e 2007). Vocês têm o objetivo de participar da Libertadores?
Ivan Gazidis: Jogar contra times da América do Sul é extremamente valioso para o desenvolvimento do nosso jogo, dos nossos jogadores, mas também pela consolidação da MLS num cenário mais internacional. Esse é o motivo pelo qual temos ficado tão entusiasmados por participar da Copa Sul-Americana. E também porque, num longo prazo, nós temos a intenção de participar da Copa Libertadores, se isso for possível.

É um objetivo para o futuro e que gostaríamos que acontecesse, mas é algo que ainda não podemos pleitear. Na hora certa, quando sentirmos que estamos prontos, nós seremos mais agressivos e vamos ver se há alguma possibilidade. Acredito que os times mexicanos tenham trazido algo novo ao torneio (Libertadores), e pensamos que os times americanos também possam fazer isso.

Pelé.Net - E o processo de evolução técnica da MLS passa necessariamente pelo intercâmbio com clubes de países vizinhos?
Ivan Gazidis: É uma prioridade para a MLS ter nossos times jogando no melhor nível possível, internacionalmente falando. Isso é importante por duas razões: a primeira é que nossos jogadores aprendem muito com essa experiência e a segunda é que nos acreditamos que ganhamos credibilidade se formos bem nessas competições.

Então, nós temos a estratégia de jogar com os clubes mexicanos primeiro, em competições que envolvam os países. Fizemos um torneio novo este ano, chamado SuperLiga, no qual enfrentamos times do México. Essa é uma parte importante da nossa estratégia.

Pelé.Net - Quais as transformações do cenário do futebol nos EUA com a chegada de David Beckham?
Ivan Gazidis Há mais atenção do mundo em nós, mas a chegada de jogadores como Beckham também ajuda os mais jovens a crescerem como jogadores e como profissionais. Nosso futuro está nos quase 20 milhões de praticantes de futebol no país. Nós precisamos desenvolver melhor esses garotos, melhor do que fizemos até agora. Então, nós estabelecemos respeito pela nossa seleção. O próximo passo é estabelecer respeito pelos nossos times, porque o nível do futebol nos EUA é muito, mas muito melhor do que as pessoas pensam.

Pelé.Net - Mas hoje o futebol dos EUA ainda é sinônimo de porto seguro para astros estrangeiros em fim de carreira. Há uma possibilidade de, no futuro, a liga disputar a contratação de revelações, como Alexandre Pato, com o mercado europeu?
Ivan Gazidis Nosso modelo de crescimento é lento, gradual e seguro. Não tentaremos competir com ligas européias e isso não vai acontecer por um bom tempo. Mas isso não significa que contratamos somente jogadores em fim de carreira. Temos um modelo no qual assinamos com jogadores de nome, como Beckham, Blanco, Juan Pablo Angel, Guillermo Barros Schelotto, Denílson, entre outros. Mas, do outro lado, também estamos assinando com jogadores jovens, especialmente da América do Sul. Mas não são os mesmos jovens que os europeus estão contratando. Esses (nos EUA) estão com fome de se provar e têm talento. Acreditamos neles.

Nosso foco não é competir nem com os europeus e muito menos até com os próprios times brasileiros e argentinos. Nosso maior foco, maior que todos os outros, é sobre o jogador americano, melhorar muito seu nível.

Pelé.Net - Em 2006, houve rumores de uma possível ida do Ronaldo para os Estados Unidos. O que há de verdade nisso? Já houve conversas com ele?
Ivan Gazidis: Há muitos rumores de jogadores virem pra cá desde que assinamos com David Beckham. Mas Ronaldo ainda tem contrato com o Milan e eu não gosto de comentar a respeito de jogadores ainda sob contrato com qualquer time. Houve rumores, mas não gosto de comentar.

Pelé.Net - O sr. acredita que a MLS pode, um dia, ter tradição e renome num nível similar às das principais ligas de futebol do mundo?
Ivan Gazidis: Nós talvez nunca tenhamos a tradição de outros lugares, mas o que temos e o que teremos nos EUA serão conquistas específicas no nosso país. Não é necessário para a MLS ser a mais popular liga dos EUA. A NFL (liga profissional de futebol americano) é, de longe, a maior e mais popular liga do mundo. Seria irreal até para a Premier League (liga de futebol da Inglaterra) pensar que pode se equiparar a NFL, quanto mais para nós.

Nossa ambição é ter uma liga de futebol que pode ser comparada às melhores do mundo. Não vai acontecer nos próximos 5 anos, mas acreditamos que há razões sólidas para realizar esse objetivo.

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