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19/07/2007 - 11h04

Pernambucanos apostam em geração de 'renegados paulistas'

Gustavo Franceschini, Especial para o Pelé.Net

SÃO PAULO - Em São Paulo, seu desempenho ficou aquém do esperado ou as chances sequer apareceram. Contudo, a fase negativa da carreira não é o único ponto comum para esses jogadores. Depois de passagens apagadas por clubes paulistas, um grupo de atletas tenta se reerguer em Pernambuco.

Não existe nenhuma política conjunta de Náutico, Santa Cruz e Sport para a contratação de jogadores com passagens pelo futebol de São Paulo. Mesmo assim, a grande concentração de atletas que carregam essa característica no currículo é no mínimo curiosa.

NÁUTICO
Divulgação
Daniel, ex-Santos e Corinthians
Volante Daniel hoje tem papel importante para o Náutico. Gléguer, Cristian e Marcel também estiveram no time nesta temporada.
Os dois times com mais "renegados paulistas" no elenco são Santa Cruz e Sport. O time tricolor, que está na Série B do Campeonato Brasileiro, conta com Marcelo Magalhães, Russo, Romeu, Marquinhos e Marcelo Ramos. A equipe rubro-negra, por sua vez, aposta em Dutra, Gustavo, Fábio Gomes, Rosembrick e Washington. O Náutico é o lanterna nesse quesito e tem apenas o volante Daniel, que em Recife virou "Daniel Paulista".

Entretanto, a ausência de jogadores com passagens pelo futebol de São Paulo não representa uma política diferente dos rivais. No início do ano, a diretoria alvirrubra apostou no goleiro Gléguer (ex-Portuguesa e Corinthians) e na dupla de meias Cristian e Marcel, que fez sucesso no Paraná há dois anos e não foi bem no Palmeiras.

Gléguer se firmou, foi destaque no Campeonato Pernambucano mesmo com a má campanha do Náutico e parecia que ia engrenar. O mesmo aconteceu com Marcel, que chegou a ser capitão da equipe em alguns jogos. Cristian, por sua vez, não deu certo, e passou a maior parte do primeiro semestre no banco de reservas.

O primeiro a deixar os Aflitos foi Cristian. Pouco antes da quarta rodada do Campeonato Brasileiro, a diretoria anunciou sua dispensa, alegando que o rendimento em campo foi abaixo do esperado. Após a goleada por 4 a 1 para o Sport, Gléguer e Marcel saíram, junto com o lateral-direito Baiano, outro jogador com histórico em São Paulo, que havia sido contratado para a disputa da primeira divisão e também decepcionou em campo.

"O Gléguer cometeu uma indisciplina, deixou um treinamento porque estava na reserva. O Marcel vinha muito bem e depois, inexplicavelmente, passou a ser uma influência negativa. O Baiano não deu certo mesmo. Foi uma aposta errada. Chegou ganhando o maior salário do Náutico e não respondeu à altura", disse Maurício Cardoso, vice-presidente alvirrubro.

SANTA CRUZ
Arquivo Folha
Marquinhos, ex-São Paulo
Meia Marquinhos hoje é destaque no Santa Cruz. Time pernambucano também conta com Marcelo Magalhães, Romeu, Russo e Marcelo Ramos, todos com passagens ruins em times de São Paulo.
Sobrou, então, apenas o volante Daniel. Com passagens muito questionadas por Santos e Corinthians (foi dispensado do último), o jogador encontrou seu espaço na equipe pernambucana e se tornou peça fundamental no esquema do técnico Roberto Fernandes.

Situação semelhante (ou ainda mais acentuada) vive Marcelo Ramos. Com uma passagem de sucesso pelo Cruzeiro no início da carreira, o jogador não fez sucesso em Palmeiras, São Paulo e Corinthians. Contratado no início do ano, tornou-se a principal arma de ataque do Santa Cruz.

Ramos foi artilheiro do Campeonato Pernambucano com 15 gols e é o maior marcador do clube na temporada com 19. Para o presidente tricolor, Édson Nogueira, a explicação para o sucesso do atacante é simples.

"O futebol tem uma máxima que diz que o que hoje não serve amanhã é solução. Se não está bem num lugar, pode estar em outro", disse o mandatário, que ainda avaliou o momento do jogador no grupo atual do Santa: "A importância dele é de goleador. Em qualquer parte do mundo o goleador tem prestígio. Aqui ele adquiriu a forma que precisava".

Além dele, Marquinhos "Catarina", que passou sem sucesso pelo São Paulo em 2004, e Romeu, campeão brasileiro de 1998 e 1999 pelo Corinthians na reserva, conseguiram seu espaço apesar da má campanha da equipe na Série B do Campeonato Brasileiro.

Outros, no entanto, não obtêm o mesmo sucesso. Marcelo Magalhães, que foi revelado no Corinthians e nunca teve chance no time paulista, e Russo, lateral que o Santos contratou como estrela no fim da década de 1990 e teve passagem apagada pelo clube, estão longe de ser unanimidades entre os torcedores.

SPORT
Divulgação
Dutra, ex-Santos
Geração de "renegados" do Sport conta com Dutra, Gustavo, Fábio Gomes, Rosembrick e Washington. Sucesso de Fumagalli na equipe é exemplo para todos.
Esses altos e baixos são menos comuns no Sport. A maioria dos atletas com passagem por São Paulo não teve sucesso contundente no clube, mas nenhum deles foi um fracasso total. O maior exemplo positivo é o meia Fumagalli, que passou por Santos e Corinthians, mas atingiu o auge da carreira apenas na Ilha do Retiro e depois se transferiu para o futebol do Oriente Médio.

"Ele estava na reserva do Fortaleza, e aqui ele teve o ápice da vida profissional. Pode perguntar isso a ele, pois ele saiu daqui chorando", disse Homero Lacerda, vice-presidente de futebol do clube, que ainda explica os fatores que impulsionaram o bom momento do jogador. "Nós criamos uma estrutura complexa para tirar o melhor de cada atleta, com preparação física e medicina ortomolecular", completou.

Mas Fumagalli parece não ser o único influenciado pela atmosfera do Sport. Rosembrick, que passou sem destaque pelo Palmeiras no ano passado, Weldon, que apareceu no Santos mas não se firmou e Washington, que decepcionou no Palmeiras após bom começo na Portuguesa, encontraram o bom futebol na Ilha do Retiro.

A valorização no Sport foi tão grande que Weldon acabou negociado com o futebol japonês. Situação parecida foi vivida por Luciano Henrique e Vitor Júnior, que chegaram ao clube pernambucano depois de passagens apagadas por Santos e Internacional (respectivamente), tiveram bom desempenho e deixaram o clube pernambucano.

Nem tão bem estão Dutra e Fábio Gomes. O primeiro teve três passagens infrutíferas pelo Santos e o segundo não teve espaço no Palmeiras, e ambos continuam sem fazer boas atuações no Sport.

Independentemente do desempenho em campo, o fato é que o número de atletas com passagem por equipes de São Paulo é muito grande, e eles povoam as três principais equipes do estado, fenômeno que não se repete em outras praças.

A explicação para esse processo não é simples. Para uns, o problema é a situação financeira dos clubes do Nordeste em geral, que perdem para as outras equipes na disputa por grandes jogadores.

"A diferença financeira que existe entre o futebol de São Paulo e o daqui é enorme. Não é que eu não queira o jogador que o Santos e o São Paulo quer. O que eu não tenho é o dinheiro desses clubes. Então eu tenho que buscar quem eles não querem mais", revelou Maurício Cardoso, vice-presidente do Náutico.

Dinheiro, porém, não é o único problema apontado pelos pernambucanos. A falta de opções melhores nas categorias de base do clube é a principal justificativa para Homero Lacerda, vice-presidente do Sport, que cobra uma mudança estrutural nas equipes do estado.

"Nossa divisão de base aqui é muito fraca. O Sport teve uma grande divisão de base na década de 1990. Se fosse a mesma coisa hoje seria bom. O ideal seria que 50% do elenco viesse da base. A solução é garimpar. A gente trouxe um Diogo, do Porto de Caruaru, e ele está arrebentando. Aí conseguimos acertar com o Bilica, que também tem qualidade", disse o dirigente.

Essa, porém, não é uma opção viável para o Santa Cruz. Pelo menos é o que pensa Édson Nogueira, o presidente do clube, que acredita que a pressão da imprensa sobre os jogadores faz com que as equipes contratem atletas com mais nome.

"Na hora em que eu trouxer um jovem da região e eu perder três jogos, vocês vão esculhambar. Existe uma cobrança muito rápida naquele jogador que você contrata. O Santa Cruz especificamente, como está financeiramente baleado, agüentou sem grandes nomes, mas chegou ao fundo do poço", avaliou o dirigente, que prevê um futuro parecido com o dos concorrentes.

"Agora partimos para um novo treinador [Mauro Fernandes] e teremos novas contratações. Não tem jogador dando sopa. Vamos cair na mesmice", completou.

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