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20/05/2007 - 19h40

Romário anota 'milésimo' gol e vê status de 'maior da história'

Vinícius Barreto Souto
No Rio de Janeiro
"Do alto" dos seus 41 anos, um baixinho de 1,68m "atingiu" uma marca que o consagra de vez como um gigante. Alheio às contagens que mostram 902 gols oficiais marcados pelo atacante como profissional, Romário anotou o "milésimo" em sua lista e agora enxerga o status de maior centroavante da história do futebol mundial.

Apesar de Romário contabilizar 98 gols marcados como amador e em partidas festivas para chegar ao "milésimo", para o maior jogador de futebol de todos os tempos, o atacante já atingiu a consagração máxima.

Dadá Maravilha, que garante ter feito 926 gols na carreira, também se rende ao talento do Baixinho: "O Romário é um jogador extraordinário. Tem um tempo de bola e colocação incríveis. Mostrou isso em campo, apesar das polêmicas e do seu modo às vezes até antipático de ser. Mas ele provou com números que é bom. Temos que tirar o chapéu para o Romário porque ele é grandioso".

Mas ao mesmo tempo em que elogia Romário, Dadá também "cutuca" o Baixinho. O ex-jogador lembrou, por exemplo, da polêmica que envolve o real número de gols marcados pelo atacante na sua carreira: "Há controvérsias quanto aos gols que ele tem".

Mas as ressalvas de Dadá em relação a Romário não ficam restritas ao número de gols marcados pelo astro. "Às vezes, também não concordo com a escolha de ir para o futebol da Austrália, Estados Unidos, uns campeonatos que não têm grande credibilidade", avaliou.

Como diz que marcou 926 vezes na carreira, Dadá chegou bem perto do milésimo. Ao comentar o assunto, ele deu outra alfinetada em Romário: "Não fui um cara ambicioso, de bater pênalti, por exemplo. Se forem contar os gols do Romário, mais de 300 foram de pênalti. Mas eu não gostava de bater", declarou Dadá, que explicou por que não quis continuar jogando para chegar ao milésimo gol.

"Vontade de continuar eu tive. Mas tive vergonha na cara para saber a hora de parar. Na verdade, eu não parei. O tempo parou comigo. Porque o cara que é goleador tem que fazer gol sempre. E quando parei de fazer gols, achei que estava na hora de encerrar a carreira", contou.

Apesar disso, Dadá não acha que Romário já deveria ter pendurado as chuteiras. "Não, ele está certo. De qualquer maneira, ele tem o direito de procurar o melhor para ele. Está ganhando uma grana boa e continua com o nome dele aí. Tem que continuar mesmo", comentou Dadá.
DADÁ 'CUTUCA' ROMÁRIO
CONFIRA ESPECIAL DO GOL MIL
"O Romário é um excelente jogador e não precisa provar nada para ninguém. É claro que ele pode se comparar a mim", disse Pelé, que marcou 1.283 gols na carreira.

"Tenho todas as súmulas dos jogos oficiais que fiz gols. Não sei se ele [Romário] também tem tudo computado. Mas, se ele acredita, tudo bem. O que vale é a festa", acrescentou o atleta do século.

Não é à toa que o próprio Pelé permite a Romário se comparar a ele. Guardadas as devidas proporções, o atacante do Vasco é considerado, por outros grandes artilheiros, tão genial quanto o Rei. Pelo menos dentro da grande área.

"Com certeza, pode-se dizer que o Romário é o Pelé da grande área [definição dada pela primeira vez por Tostão]. O índice de aproveitamento dele realmente é muito grande. Na área, ele é um especialista, e por isso faz tantos gols", comentou o atacante Túlio Maravilha, que se mostrou contagiado pela saga do Baixinho em busca do milésimo gol.

"Até o fim do ano que vem, quero fazer o gol 800. Depois, vou tentar chegar ao gol 900 até os 40 anos", contou o experiente jogador de 37 anos, que diz ter pouco mais de 700 gols na carreira e atualmente defende o Canedense-GO.

Quem defende que Romário escreve seu nome na história como maior centroavante de todos os tempos parte do princípio de que nenhum outro jogador, além de Pelé (que não era centroavante), jamais chegou sequer aos 900 gols.

"Com certeza, o Romário foi um dos melhores de todos os tempos", afirmou Roberto Dinamite, que fez quase 800 gols na carreira e até hoje é o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro, com 190 gols marcados nesta competição.

O próprio Romário, quando foi questionado sobre os melhores jogadores que viu, não teve dúvidas ao escalar o ataque: "O meio jogaria com Maradona, Zico, Gérson, em homenagem ao meu pai, e Ronaldinho Gaúcho; e o ataque teria Ronaldo e eu, é claro".

Habilidade fatal
Mas não é "apenas" pelo fato de marcar o "milésimo" gol que Romário é considerado por muitos um dos maiores centroavantes de todos os tempos. No auge da sua carreira, o atacante encantou o mundo com suas características marcantes. Dono de uma habilidade incrível para entortar os adversários, o Baixinho também deixava todos para trás no arranque.

"Até a Copa de 1994, ele tinha velocidade e explosão incríveis. Dentro da área, era um jogador que fazia a diferença. Muito rápido de raciocínio e movimentos. No arranque de 30 metros, ninguém conseguia pegar, mesmo sendo um jogador baixo", comentou Roberto Dinamite.

Além disso, até hoje, Romário conserva uma característica traiçoeira e fatal: se faz de "morto" durante o jogo, quase não toca na bola, mas brilha no momento decisivo, já que dificilmente desperdiça uma chance de gol quando ela surge.

"Eu corro 10 km por partida e às vezes não consigo dar um chute a gol. O Romário anda 300 metros, chuta três vezes a cada jogo e faz três gols", comparou o meia Morais, companheiro do Baixinho no Vasco.

Para Romário, o "milésimo" gol na carreira é histórico não só para ele, mas para o futebol em geral, já que é uma oportunidade única para uma geração que não viu Pelé (único a chegar a esta marca) jogar.

"Acho que o povo brasileiro merece essa marca histórica. O milésimo gol é bom para todo o mundo. É um feito histórico, que tem de ser dividido com todas as torcidas. Os flamenguistas, botafoguenses e tricolores também têm de festejar. O milésimo gol é uma festa de todos os torcedores e coloca o futebol carioca em evidência", disse o jogador.

Roberto Dinamite concorda: "Sou artilheiro dos Brasileiros e, sem demagogia, acho isso muito legal para a carreira e a vida dele. Acho que essa marca é até mais importante para o futebol do que para o Romário".
GOL 'BOM PARA O FUTEBOL'
Essas características fazem Romário ser aclamado no futebol brasileiro. "Para mim, ele só não foi melhor do que o Pelé. Foi o melhor atacante que passou por mim, o que melhor se posicionava dentro da área para marcar gols. Não teve outro igual. Ele foi o melhor atacante do futebol brasileiro. Melhor do que o Ronaldo e mostrou isso na seleção", opinou o técnico Antônio Lopes, que lançou Romário no time profissional do Vasco, em 1985.

"É uma pergunta difícil, mas que ele foi o melhor, foi. O melhor jogador e um dos meus melhores amigos", disse o técnico Joel Santana, que trabalhou com Romário no Flamengo (em 1996), no Vasco (2000) e no Fluminense (2003), considerado pelo atacante o melhor treinador de sua carreira.

"Fico muito emocionado e feliz por ter feito parte da vida de um mito, porque o Romário é um verdadeiro mito. Ele é uma pessoa que fala tudo com sinceridade e me colocou como seu preferido. Isso é uma coisa que quase completa a carreira de um treinador, seu currículo. É como se fosse um título", comentou Joel.

Técnico de Romário no início deste ano, Renato Gaúcho incluiu o astro num grupo seleto. "Sem dúvida, ele está entre os cinco melhores que eu vi jogar. É da minha geração e aprendi muito enquanto ainda atuava. Hoje, me sinto honrado de ter participado desse momento como seu treinador", disse Renato.

Outro que citou a honra de fazer parte do projeto do "milésimo" gol de Romário foi Celso Roth, sucessor de Renato Gaúcho e atual comandante do Vasco: "Ele é um jogador de muito talento e estar aqui nesse momento é algo especial para a minha carreira".

Os eleitos de Romário
Elogiado por todos e classificado por muitos como um dos maiores centroavantes da história do futebol brasileiro, Romário revelou que os elogios motivaram a longevidade de sua carreira. O dono da camisa 11 do Vasco pensou em se aposentar nas últimas temporadas, mas desistiu em função da falta de oponentes.

"Eu estou com uma idade avançada, mas não teve nos últimos cinco anos um atacante do meu nível no futebol brasileiro. Então eu não tenho motivo para parar de jogar. Ainda posso fazer os meus gols", ponderou Romário.

Sem um "substituto" à altura, Romário destacou dois atacantes no atual momento do futebol brasileiro: "Jogando no país, eu acho que o Dodô [do Botafogo] é um jogador de talento e qualidade acima dos outros. E o Leandro Amaral [companheiro do Baixinho no Vasco] também é um atleta de talento e que passou por momentos ótimos na carreira".

*Colaboraram Guilherme Costa, Anderson Gomes e Leonardo Velasco

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