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  19/03/2007 - 09h09
Herdeiro do ex-craque Júnior tenta seguir carreira em Minas

Fernando Lacerda, do Pelé.Net

BELO HORIZONTE - Filho do ex-craque Júnior, que fez história no Flamengo e na Seleção Brasileira, o volante Rodrigo Gama, de 22 anos, corre atrás do sonho de fazer uma carreira de sucesso como jogador de futebol. Após alguns anos no CFZ, de Zico, esse carioca da gema decidiu sair de casa para buscar o seu espaço. Ele acertou com o Valério, um tradicional clube de Itabira - terra natal de Carlos Drummond de Andrade -, que disputa a Segunda Divisão do Mineiro, com o objetivo de voltar à elite do Estadual.

FILHO DO HOMEM
Divulgação
Nome: Rodrigo Gama

Idade: 22 anos

Cidade natal: Rio de Janeiro

Clubes nas categorias de base: CFZ, Fluminense, Madureira

Cubes profissionais: CFZ e Valério
A trajetória de Rodrigo Gama, apesar do pai famoso, não tem sido nada fácil. Campeão carioca de juniores pelo Fluminense, em 2002, o volante viu alguns companheiros, como o goleiro Fernando Henrique, o meio-campo Arouca e o atacante Rodrigo Tiuí prosseguirem a carreira na equipe profissional do Tricolor ou em outros clubes grandes, como o Santos, enquanto ele voltava ao CFZ, após passagem pelos juniores do Madureira.

"Ele estava preocupado, começando a duvidar das suas condições, principalmente pelo fato de muitos companheiros que foram campeões com ele no Fluminense já estarem com chances. Isso colocou dúvida na cabeça dele", revelou o pai Leovegildo Lins da Gama Júnior, que considera que a oportunidade de jogar no Valério apareceu na "hora certa". "O Valério é a chance dele, literalmente, subir a ladeira", acrescentou o ex-jogador, brincando com a íngreme topografia de Itabira, a cerca de 100 km da capital.

Antes de defender o Valério, Rodrigo Gama passou por um período de testes no Internacional B, por indicação de Abel Braga, no início do ano, mas não conseguiu um contrato, por "uma série de fatores", segundo Júnior. Sem entrar em detalhes, o jogador diz que não permaneceu na equipe gaúcha, onde fez toda a pré-temporada, por circunstâncias alheias à sua vontade. "Não foi por culpa minha, porque eu tivesse treinado mal", comentou.

O volante admite, entretanto, que numa situação como essa é impossível que não fique uma ponta de decepção. "É claro que um pouco de frustração sempre fica, porque o Inter tem uma excelente estrutura, é o atual campeão do mundo, um excelente clube, das melhores estruturas, mas serviu realmente para saber que posso jogar e posso buscar o meu espaço", analisou.

Portas abertas

Rodrigo Gama, que demonstra perseverança na busca de seus objetivos, prefere ver o lado positivo. "Serviu para ver que tenho condições de jogar. Infelizmente, não deu certo, mas surgiu o Valério e encaro como uma oportunidade excelente, afinal preciso estar jogando, quero aproveitar a chance em um time que tem uma estrutura legal", ressaltou.

O jogador diz estar consciente de que uma boa temporada no Valério - o Campeonato Mineiro do Módulo II vai até o mês de agosto -, abrirá as portas para o crescimento na carreira. "O meu principal objetivo é ajudar o Valério a voltar à elite do futebol mineiro. Conheci um pouco da história do clube, sei que é um time tradicional e pelo que pude ver temos um ótimo elenco e condições de subir para a Primeira", afirmou.

Neste domingo, o Valério obteve a sua terceira vitória em cinco jogos pela competição, ao derrotar o Extrema, vice-lanterna, por 2 a 0, no Estádio Israel Pinheiro, em Itabira. Com esse resultado, o time da terra de Drummond e da Companhia Vale do Rio Doce chegou à terceira colocação, com nove pontos. A liderança é do Uberaba, com 11 pontos, seguido do Formiga com 10. Dos oito concorrentes, seis seguem na competição, que irá apontar o campeão e o vice para o Campeonato da Primeira Divisão em 2008.

O presidente do Valério, Paulo Henrique Gomes de Figueiredo, que iniciou em novembro passado sua terceira gestão à frente do clube, enfatiza que todos os esforços estão sendo feitos para garantir a volta da equipe itabirana à elite do futebol mineiro. Segundo ele, a contratação de Rodrigo Gama se encaixa nessa situação. O dirigente contou que o jogador foi uma indicação do ex-presidente do Villa Nova, de Nova Lima, Anísio Clemente.

"O Anisinho nos disse que conhecia um jogador com as características e com o perfil que a gente precisava. É um jogador que tem condição, juntamente com os demais atletas, para fazer o Valério voltar à Série A", comentou Paulinho, como é conhecido o presidente do clube, que garante não ter pesado o fato dele ser filho de Júnior. "O Rodrigo foi contratado por méritos dele", acrescentou.

O dirigente do Valério evita fazer comparações técnicas entre Rodrigo e Júnior, mas admite que a contratação do filho de um ex-craque de nível tão elevado tem uma conseqüência boa para o clube. "É claro que chama a atenção da mídia, da torcida de uma forma geral, já que existe uma expectativa na cidade por suas atuações, para ver se tem potencial e se realmente lembra o futebol do pai dele", explicou Paulinho.

Tratamento igual

Rodrigo Gama chegou há três semanas para o Valério, assinando contrato até o término do Módulo II, em agosto. Ele foi regularizado junto à Federação Mineira de Futebol (FMF) na última quinta-feira, quando ganhou condições legais de jogo. Por isso, ele já ficou à disposição do técnico Geraldinho. O volante não esconde seu desejo em jogar e se firmar como titular, mas mostra paciência e recorre às declarações politicamente corretas.

"Vinha treinando entre os reservas, porque não tinha condições de jogo, mas agora quero treinar forte e tentar a minha vaga de titular, o que depende do treinador Geraldinho", afirmou Rodrigo Gama, deixando claro que não se considera dono cativo de um lugar no time e que não quer nenhum tratamento diferenciado por causa de seu pai.

"Algumas pessoas falam que eu tenho regalias por ser filho do Júnior, o que não é verdade. Às vezes escondo em alguns lugares que sou filho dele, porque quero vencer pelo que sou, pelo meu potencial", revelou Rodrigo Gama, admitindo que algumas pessoas antes mesmo de conhecê-lo ou de vê-lo jogar já vinculam sua chance ao pai famoso. "Isso não tem nada a ver", salientou.

Rodrigo Gama conta que no Valério mesmo, no início teve companheiro meio ressabiado. "Alguns atletas me viram, no início, com desconfiança. Mas a partir do momento que passam a me conhecer, mudam a opinião. Todos nós estamos buscando o nosso espaço e sou igual a eles", comentou o volante, enfatizando que, de uma maneira geral, foi muito bem recebido no clube e na cidade.

Ele garante que mantém a simplicidade e que foi educado, em sua casa, para compreender que não é melhor do que ninguém. "Ser filho do Júnior não é nada disso, ele é um pai como qualquer outro, que dá carinho, mas dá dura quando precisa. Graças a Deus me deu educação para saber que sou igual aos outros e que tenho de correr atrás dos meus objetivos", contou.

Preparado

O pai Júnior considera que Rodrigo Gama tem boa cabeça e que está preparado para enfrentar comparações, que, segundo ele, são inevitáveis. "Ele sabe que os companheiros, torcedores, jornalistas vão fazer essa comparação, isso é inevitável, mas ele está preparado para isso, foi muito preparado sobre isso. Ficamos na torcida, eu e a mãe dele. O pontapé inicial foi dado, mas é difícil se firmar, a concorrência é muito grande", analisou.

Para o ex-craque, que jogou 865 partidas pelo Flamengo, na lateral esquerda, sua posição de origem e depois no meio-campo, como pai espera a realização dos filhos. "Fui sempre muito objetivo com ele, enquanto muitos ficam contando as maravilhas da carreira de jogador de futebol, eu não, sempre tracei um quadro real, sempre falei da necessidade de entrega, sacrifício, renúncias e injustiças, é claro que também falei dos pontos positivos", disse.

Ficar longe da família é para Rodrigo Gama a pior parte. O jogador que mora na concentração do Valério diz sentir saudades dos momentos de folgas curtidos com Júnior, a mãe Heloísa e as irmãs Juliana, 21 anos, e Carolina, 17. "Estou acostumado a essa vida de treino, concentração, mas sinto falta do jantar em família, essa é a pior parte", explicou o jogador, que se considera adaptado à vida na pacata Itabira.

"É bem diferente, mas a adaptação está tranqüila. Fui muito bem recebido no clube e na cidade, as pessoas vem conversar comigo, é típico do temperamento do mineiro, que é acolhedor", comentou. Júnior o acompanhou em sua apresentação ao Valério, no dia 27 de fevereiro, e nos primeiros dias a namorada Talita ficou para lhe fazer companhia. "Ela teve que voltar ao Rio, porque estuda", contou Rodrigo Gama. "Ele vai ter de tirar proveito inclusive dessa experiência de viver sozinho, sem a família", destacou Júnior.

Rodrigo Gama sabe disso. "Tenho que me concentrar no Valério e trabalhar para buscar meu espaço", salientou o jogador, que se considera um volante que gosta de sair mais para o jogo e que tem boa técnica. "Tenho um bom passe, me posiciono bem, gosto de me aproximar dos atacante, levar o time para frente e bater a gol, sou destro e chuto bem de longa e meia distância", analisou o volante, que revela se inspirar no estilo de Xavi, do Barcelona, e Fabregas, do Arsenal.

Indagado se tem semelhanças entre a sua forma de jogar com a do pai, Rodrigo Gama garante nunca ter pensando nisso. "Dizem que corro igual a ele e bato na bola igual a ele também. Mas sei que jogar como ele jogou vai ser muito difícil, porque foi um dos melhores do mundo", comentou o volante, lembrando que atua na posição em que o pai parou de jogar. "Em 92, jogando ali, ele comandou o time do Flamengo", destacou.

Idade limite

Para se dedicar à carreira de atleta, Rodrigo Gama trancou matriculo no sexto período do curso de jornalismo, na Faculdade Estádio de Sá, no Rio. "Sempre pensei em jogar futebol profissionalmente, desde que comecei em escolinha, mas meus pais sempre disseram que para eu poder jogar, tinha de estudar", lembrou.

Rodrigo Gama pensa em retomar o curso de jornalismo, mas só depois que encerrar sua carreira no futebol e torce para que isso ainda demore muito. "Espero não voltar tão cedo à faculdade, se acontecer lá pelos 40 está bom demais", brincou o volante, mencionando a idade em que o pai deixou os gramados para brilhar também no futebol de areia.

Para Júnior, aos 22 anos, o seu filho ainda está dentro do limite para firmar uma carreira. "Acho que a idade limite é 24 anos, se ele não acontecer até essa idade, acho que seria melhor voltar, acabar o curso de jornalismo e tocar a vida dele", comentou o pai, que espera que isso não ocorra e busca o seu próprio exemplo. "Tive a primeira oportunidade aos 20 anos", destacou.

Segundo Júnior, o Valério oferece ao filho todas as condições de trabalho e também de ambiente, com "todas as coisas que são importantes para ele jogar". O presidente Paulinho, por sua vez, revela a intenção de aprimorar cada vez mais essa estrutura e trabalho com o objetivo de transformar o Valério numa empresa.

Para isso, ele quer contar com o apoio da Companhia Vale do Rio Doce. "Tenho reunião marcada com a superintendência de minas da Vale, no próximo dia 23, para tratar da parceria com a empresa, que compraria ingressos para os jogos do clube, garantindo uma receita, e vamos colocar novamente na pauta a idéia do Valério SA", comentou Paulinho, lembrando que o clube entre 2002 e 2004 teve parcerias com a própria Vale e com a Fundação Romário.


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