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  11/05/2006 - 10h01
Desvalorizados no Brasil, novos astros se ''vingam'' fora

Bruno Thadeu, especial para o Pelé.Net

SANTOS - Ronaldinho Gaúcho já era adorado no Grêmio antes de se transferir para o PSG e chegar ao Barcelona. Robinho, do Real Madrid, consagrou as suas pedaladas na Vila Belmiro e rendeu US$ 30 milhões aos cofres do Santos. Kaká, o garoto de ouro do Morumbi, é hoje o jogador mais badalado do Milan.

Nem todos os brasileiros que se destacam na Europa, porém, foram estrelas de campeonatos regionais e nacionais no país do futebol. Muitos, aliás, eram alvos de insultos e chacotas; precisaram sair para alcançar a fama e o devido reconhecimento.

SELEÇÃO DOS RENEGADOS
Doni, Roma

Dispensado pelo Cruzeiro e Santos, goleiro se transferiu para time romano e agradou. Renovou por mais três anos
Bordon, Schalke 04

Vaiado no Tricolor, foi considerado um dos melhores do certame alemão e jogou na seleção brasileira em 2005
Jurado pela torcida do Atlético-MG após um gol contra, saiu e ajudou o seu time a ganhar este ano a Copa da França
Convivia com duas frentes no Verdão: a ala "pró-Taddei", que o considerava exemplo de raça, e a ala "anti-Taddei"
Marcos Senna,
Villarreal

Após perambular pelo país, foi para
a Espanha, jogou bem e não tardou em se naturalizar
Lincoln, Schalke-04

Sem ganhar nada no Galo, brilhou no Schalke e despertou interesse do Bayern de Munique, o time mais forte do país
Deu uns tapas em Diego, do Santos, mas não deixou o São Paulo em alta; hoje, está avaliado em 6,5 mi de euros
Curinga e polêmico, não se firmou em nenhuma posição no São Paulo; virou ídolo e artilheiro no Sevilla e fez fama
Aílton, Hamburgo

Jogou no Bugre e foi esquecido pelos grandes do país. Na Alemanha, faturou a taça nacional pelo Werder Bremen
Perdeu gol sem goleiro no Vasco e irritou Zagallo em 1990; acrescentou 'Sonny' ao nome e chegou ao Barça
Adriano, Inter Milão

Apelidado no Fla de "Bonecão do Posto", foi trocado por Vampeta. Titular da seleção, Adriano virou 'O Imperador'
Atletas como o atacante Adriano, ex-Flamengo e hoje na Inter-ITA, conquistaram espaço definitivo não somente no mercado europeu, mas também na seleção brasileira. Outros, como o volante Marcos Senna, do Villarreal-ESP, preferiu seguir o caminho da naturalização para chegar ao selecionado local. Com Taddei, atualmente na Roma, a situação é um pouco diferente. Sondado a defender a seleção italiana, o meia ainda prefere tentar um espaço na equipe de seu país.

Titular da seleção brasileira, o atacante Adriano talvez seja o símbolo maior do desperdício de um prata-da-casa. Nos tempos de Flamengo, Adriano era chamado de "Bonecão de Posto", em alusão aos bonecos infláveis colocados nas portas de mecânicas. Negociado pelo clube rubro-negro aos 19 anos, o atacante era visto como grande demais e sem mobilidade - por isso o apelido.

Batizada pela torcida flamenguista como a "pior troca do mundo", a negociação que envolveu o atacante da seleção foi feita da seguinte forma: o Flamengo cedeu à Inter o promissor Adriano e o atacante Reinaldo [repassado automaticamente para o Paris-Saint Germain-FRA] e, em troca, o clube carioca recebeu o experiente volante Vampeta.

Vampeta saiu da Gávea alegando que "fingia que recebia e fingia que jogava", enquanto Adriano, embora conviva com fases ruins em Milão, é hoje disparado o principal ídolo do time italiano.

Incluído no pacote "amigo" do time rubro-negro, o avante Reinaldo, que agora defende o Santos, até hoje não compreende a fórmula adotada pelo Flamengo para avalizar o acordo.

"Com certeza essa troca foi horrível para o Flamengo. O Adriano não tinha nem 20 anos de idade. Poderia ajudar a levar o time a novas conquistas. Não sei como surgiu essa idéia de troca, mas quem lucrou com essa transação fui eu, o Adriano e, principalmente, a Inter. Não sei qual era a intenção da diretoria do Flamengo, mas certamente eles estão arrependidos", desabafou Reinaldo.

Nem aí pra mim
"Renascido" no futebol italiano, o volante Fábio Simplício, agora sucesso no Parma, deixou o São Paulo praticamente no anonimato, após a desclassificação do time na Libertadores de 2004. Do esquecimento no São Paulo ao estrelato no Parma, Simplício teria recebido uma proposta de 6,5 milhões de euros feita por um clube de ponta da Itália, prontamente negada pelo seu atual clube.

O único momento de unanimidade de Fábio Simplício no clube ocorreu no Brasileiro de 2002, diante do Santos. O jogador recriminou o meia alvinegro Diego por comemorar sobre o escudo da equipe, colocado na lateral do Morumbi.

Mesmo desfrutando de excelente cotação na Europa, o ex-atleta são-paulino admitiu que saiu da equipe do Morumbi contra a sua vontade. "Sinceramente, eu queria ter ficado no São Paulo, mas não teve acordo com a diretoria. O ideal era eu ter ficado. Se eles realmente quisessem, não teriam deixado para a última hora", afirmou Simplício.

Odiado por parte da torcida do Palmeiras e, em contrapartida, amado pelos torcedores da Roma, que o elegeram como o principal reforço da equipe na temporada, o meia Rodrigo Taddei entende que o país pentacampeão mundial nem sempre valoriza seus talentos.

Revelado no clube de Parque Antarctica, o jogador nunca escapara da fúria da torcida, que o considerava um jogador meramente marcador, com sérias limitações ofensivas. Já no time italiano, Taddei é um dos únicos atletas a disputar todas as partidas da equipe na atual edição do campeonato local.

Em 54 jogos, o ex-palmeirense marcou 11 gols, números que dificilmente seriam alcançados caso estivesse no Brasil. Na Roma, Taddei tem a companhia do goleiro Doni, criticado na época de Corinthians, dispensado pelo Santos e Cruzeiro, e com passagem apenas regular pelo Juventude-RS. Para Taddei, o futebol praticado no Brasil é muitas vezes injusto.

"No Brasil, você ganha respeito com jogadas de efeito, com uma bola entre as pernas ou um drible. Na Itália é diferente; ganhei projeção com raça, carrinhos e disposição", comemora. Sucesso na Itália, Taddei, entretanto, refuta a possibilidade de representar a "azzurra". "Vestir a camisa da seleção é o meu sonho. Não deve existir sensação melhor do que jogar pelo Brasil. Muitas pessoas já me perguntaram se eu jogaria pela Itália, mas minha resposta será sempre não", concluiu o atleta, que defendeu o Siena antes de seguir ao time de Roma.

Pressão excessiva nos novatos
Como explicar a mudança brusca de rendimento de um atleta brasileiro no exterior? O futebol nacional é exigente, os clubes do exterior são mais compreensíveis com os atletas ou é o jogador que "aprende" a atuar repentinamente?

Empresário de dois exemplos de evolução no futebol da Europa - o atacante Adriano e o volante Fábio Simplício -, Gilmar Rinaldi responsabiliza os dirigentes de futebol pela negociação prematura de jovens atletas que poderiam gerar lucro tanto em campo quanto financeiramente.

Na opinião do ex-goleiro do São Paulo, Flamengo e seleção brasileira, muitos clubes brasileiros adotam procedimento totalmente errôneo: em vez de oferecer maior respaldo aos novos talentos - que deveriam ser protegidos inicialmente da sobrecarga de cobranças -, os jovens, muitas vezes, acabam sendo escolhidos como os principais culpados por um insucesso, já que a promessa de "revolucionar" o time acabou não ocorrendo.

"É mais fácil para o dirigente jogar a culpa de uma eliminação em uma nova promessa. A cobrança deveria recair sobre os atletas experientes, que estão muito mais preparados para lidar com essa questão. Muitas vezes um jovem atleta é queimado, tachado de 'amarelar' por não ter levado sua equipe a uma conquista. Isso aconteceu também com o Kaká no São Paulo. Acontece que nem sempre o jogador atingiu a maturidade suficiente para assumir grandes responsabilidades", rebate Rinaldi.

"O Simplício saiu porque ninguém queria mais ele. O Adriano não gostava desse apelido de 'Bonecão de Posto', mas, mesmo assim, nunca deixou de adorar o Flamengo. Recentemente ele comentou comigo sobre esse episódio, e agora se diverte ao recordar de tudo isso, porque sabia que as críticas eram injustas e que ainda poderia evoluir no Flamengo. Agora quem ri da gozação é ele", completou.


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