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  25/07/2005 - 12h46
No Grêmio, surge a "Geração Esperança"

Vinicius Simas, do Pelé.Net

PORTO ALEGRE - A diretoria do Grêmio, através de seu presidente Paulo Odone e de seu vice-presidente de finanças Túlio Macedo, já admitiu em diversas oportunidades: o clube está em situação falimentar. No fundo do poço. Em 2004 caiu para a segunda divisão e foi envolvido definitivamente pelas trevas, com cofres vazios, cobradores batendo à porta, sem craques, um caos. Mas aos poucos uma luz foi surgindo lá no fim do túnel e, passado o primeiro semestre de 2005, fez a esperança renascer no Estádio Olímpico. A luz vem das categorias de base.

Enquanto o nada confiável grupo de futebol profissional luta, no Campeonato Brasileiro da Série B, para passar de fase e continuar com chances de voltar à elite do futebol nacional, a meninada mostra que nem tudo esta perdido e num futuro próximo os momentos de glória estarão de volta. Nesta temporada, as equipes juvenil e júnior voltaram a conquistar títulos - há anos isso não acontecia -, o que foi reflexo de uma ampla reformulação realizada no começo deste ano.

A Seleção gaúcha Sub-17 que ficou em segundo lugar na Copa Internacional Cidade de Canoas, realizada neste mês de julho, contava com nove titulares pertencentes ao Tricolor. O time só perdeu para a Seleção Brasileira, que teve como principal destaque neste torneio preparatório para o mundial da categoria no Peru, o meia-atacante Anderson, também criado dentro do estádio Olímpico.

Anderson representa, mais do que qualquer outro jovem gremista, nestes tempos de crise, a citada "luz no fim do túnel". Sua venda para o Porto, por R$ 15 milhões, foi a salvação da lavoura e garantiu as portas do clube abertas. Ele só se transferirá para Portugal no início de 2006, mas a primeira parcela de sua negociação já chegou, dando um novo fôlego ao cofre.

Diante desse exemplo e de uma geração talentosa que surge, o Grêmio já trata de garantir a permanência dos futuros craques, assinando contratos de longo prazo com os maiores destaques. O presidente Paulo Odone acredita que muitos desses jovens, em pouco tempo estarão defendendo a equipe principal e muitos deles representarão a definitiva redenção financeira do clube.

O líder da "revolução" veio do RS Futebol
A significativa melhora que agora é notada, se deve aos investimentos na estrutura disponibilizada às categorias de base e, principalmente, à mudança radical no projeto pelo qual o clube optou para desenvolver seus garotos. Paulo Odone investiu na contratação de Rodrigo Caetano para ser o diretor das categorias de base, e criou três novas comissões técnicas - Infantil, Juvenil e Júnior - desencadeando a nova fase.

Caetano, 33 anos, há dois e meio saiu de dentro do campo para se tornar gerente do RS Futebol, clube de propriedade do ex-craque brasileiro Paulo César Carpeggiani. E Caetano se mostrou eficiente para comandar essa revolução. "Foi a nossa maior contratação do ano", orgulha-se Odone, referindo-se ao ex-jogador, que iniciou nas escolinhas do próprio Olímpico, onde já demonstrara, no passado, habilidade para lidar com os jovens talentosos.

"Nosso foco é um só: formar o atleta e deixá-lo pronto para ingressar no grupo profissional. O presidente tem nos dado muito respaldo para isso, o que gera confiança e responsabilidade", avalia Rodrigo Caetano. A ampla reforma no Centro de Treinamentos de Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, reflete a importância que tem sido dada ao setor. O local se tornou o laboratório onde os atletas são formados.

Os jovens também ganharam uma nova e bem melhor estruturada sala de musculação, e os dormitórios do clube foram reformulados. "As ações transformaram a realidade das categorias de base. Isso mexe com a cabeça dos jogadores. Nossa função é dar incremento ao trabalho, e deixá-los preparados para entrar no mundo do futebol", acrescentou o diretor. Olheiros ligados ao Grêmio também têm viajado por todo o Brasil, garimpando novos talentos.

Em 2005, as categorias de base têm disputado diversas competições, dentro e fora do país. Os juniores conquistaram a Taça da Amizade, no Japão, além do Campeonato Estadual. Já os juvenis levaram o título da Copa Dênis Lawson - o Gauchão da categoria -, com uma campanha de 14 vitórias em 14 jogos, superando o rival Internacional nas finais, vencendo os jogos realizados no Beira-Rio e no Olímpico. Mais do que isso, conquistaram os troféus de melhor defesa, com apenas três gols sofridos; melhor ataque, 61 gols; e artilheiro da competição, Fernando Genro, que marcou 18 vezes. Há quatro anos, o clube sequer chegava em uma decisão.

No último dia 19, o presidente Paulo Odone realizou um almoço para homenagear as conquistas dos garotos. Ressaltou o amor à camisa e profetizou que em pouco tempo alguns deles estarão ajudando o clube a voltar aos bons tempos, que consagraram o Grêmio como um dos principais times do País e do mundo. A reunião serviu, também, como um incentivo antes das disputas da Taça BH de juniores, e da Copa Macaé, juvenil, que estão sendo realizadas neste mês de Julho.

Grêmio, fornecendo garotos para a Seleção
Para a disputa do Torneio Internacional Milk Cup na Irlanda, categoria Sub-18, a CBF acaba de convocar outros dois jogadores do Grêmio. O goleiro Marcelo Grohe, reserva de Galatto no elenco profissional, e o volante Lucas Leiva, sobrinho de Leivinha, craque palmeirense da década de 70. Os dois jovens do Tricolor foram campeões estaduais e da Taça Amizade, conquistada no Japão

Há poucos dias a Seleção Brasileira Sub-17 conquistou a Copa Internacional Cidade de Canoas, torneio amistoso preparativo para o mundial da categoria, que será realizado em agosto, no Peru e sua principal estrela do time foi Anderson, do Grêmio, meia-atacante que é considerado o maior craque surgido no clube desde Ronaldinho Gaúcho. Já vendido para o Porto, ele espera pela transferência atuando como titular do elenco comandado por Mano Menezes na Segundona.

Já a seleção gaúcha, que ficou em segundo lugar na Copa Canoas, contava com nada menos do que nove garotos do Olímpico entre os onze titulares. São eles o goleiro Caio; o zagueiro Leonardo Renan; os laterais Felipe e Anderson; os meias Bruno, Itaqui e Aloísio; e os atacantes Ivo e Fernando Genro.

Genro é um centroavante "matador" que sustentou a marca impressionante de 18 gols em 14 partidas na Copa Dênis Lawson, a maioria deles marcados de cabeça. Aos 17 anos, mede 1,83m, pesa 74kg e acredita que ainda pode crescer mais, além de admitir que precisa aumentar a massa muscular antes de se tornar profissional. Com passagens nas Seleções Sub-16 e Sub-17 do Brasil, é uma das principais promessas do Grêmio.

O menino é filho da deputada federal Luciana Genro, do PSOL e neto do ministro petista Tarso Genro. O pai, Roberto Robaina, integra a executiva nacional do mesmo partido da mãe e também foi jogador das categorias de base do Grêmio. Fernando diz que, dele, herdou o bom chute de esquerda. Mas, seguir a política, como os pais, não cogita.

Quem já subiu, dá conselhos
Quem vê hoje os meninos sendo valorizados e elogiados, se dá conta que até há bem pouco tempo as coisas não funcionavam assim. Os poucos jogadores que surgiram nas categorias de base e hoje são aproveitados no time principal, como o goleiro Galatto e o centroavante Samuel, tiveram de penar muito para conquistar seu espaço.

Para assumir a camisa nº 1 do Grêmio, Galatto precisou de paciência. No início da temporada, suas chances eram remotas, pois era o terceiro reserva para a posição. Então Andrey, descontente com as poucas oportunidades que vinha recebendo, transferiu-se para o Atlético-PR. A titularidade passou a ser disputada por Eduardo e Márcio. Este último acabou dispensado após Mano Menezes assumir como treinador do time. O outro, constantemente vaiado, repentinamente resolveu ir embora de Porto Alegre e hoje defende o Brasiliense.

Com o caminho aberto, Galatto chegou mostrando tranqüilidade e segurança, e hoje não sofre com a desconfiança da torcida. Dos seus 22 anos de idade, passou sete nas categorias de base do clube. No início do ano, foi sondado pelo Brasil de Pelotas, mas preferiu ficar. "Estava um pouco desanimado, pois goleiro precisa aparecer. Mas eu mantive a confiança e estou aproveitando a oportunidade agora. Quero deixar o meu nome na história do Grêmio", declara.

Na outra extremidade do time, o centroavante Samuel integrou o grupo principal após marcar cinco gols em quatro partidas na Copa São Paulo de Futebol Júnior, no início de 2005. "Era minha última esperança, sabia que não iriam querer fazer um período de testes comigo nos profissionais se eu não me desse bem naquela competição", falou. Ele temia ser emprestado ou até mesmo dispensado.

Samuel, chamado de Samucão pelos torcedores, já é um atleta rodado, apesar da pouca idade. Ficou quatro anos nas categorias de base do Flamengo. Depois, seis meses no Cruzeiro e outros três no Itabuna, da Bahia, antes de chegar ao Olímpico. Após o bom rendimento na Copa São Paulo, e a carência de um matador nos profissionais do Tricolor, foi promovido.

Nesta temporada já marcou oito gols e é o vice-artilheiro da equipe, atrás apenas de Somália - fez 10 gols antes de ser dispensado -. Seu estilo, homem de área que busca sempre a finalização, agradou e lhe rendeu prestígio. "Como surgi aqui, existe uma maior identificação com o clube. O torcedor acaba se sentindo como um dono do atleta que vem das categorias de base, nos considera um patrimônio", definiu.

Direção trata de proteger os futuros craques
A direção do Tricolor está valorizando como nunca seus meninos, até porque não repetir o mesmo erro cometido no caso de Ronaldinho Gaúcho, que foi para o Paris Saint Germain assim que seu contrato encerrou, sem deixar dinheiro ao clube. Para isso, tem garantido vínculos de longo prazo com os garotos o quanto antes. A precaução evita que empresários também tentem tirar os novos talentos do Olímpico.

O diretor de futebol, Paulo Pelaipe, revela a preocupação com as categorias de base ao afirmar que todos os jogadores estão recebendo salários sem nenhum atraso. "Quando notamos que um garoto está se destacando, não perdemos tempo e assinamos um contrato de, no mínimo, três anos", explica.

Em 2004, a atenção dada para os garotos não era a mesma. "Antes da contratação do Rodrigo Caetano, tudo aqui estava irregular e descuidado. Nós apostamos e acreditamos muito no nosso diretor", apontou.

No ano em que completa 102 anos, o Grêmio vê, enfim, brotar em seus gramados a "geração da esperança". Um futuro promissor vem surgindo para devolver ao time as glórias do passado, e acabar com a fase de quatro anos dos profissionais sem conquistas - o último título foi a Copa do Brasil, em 2001 -. As dívidas do clube, que totalizam mais R$ 100 milhões e impedem que contratações de peso sejam efetuadas, aos poucos vão deixando de assombrar os Tricolores. Os craques estão surgindo no Olímpico e apenas esperam a hora de se tornarem ídolos.


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