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Chape: Famílias ainda lutam por respostas e indenização anos após tragédia

Corpos das vítimas do acidente aéreo da Lamia durante velório coletivo na Arena Condá - Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress
Corpos das vítimas do acidente aéreo da Lamia durante velório coletivo na Arena Condá Imagem: Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress

26/11/2021 07h35

A madrugada do dia 29 de novembro de 2016 continua a trazer um misto de luto e indignação às famílias das vítimas do acidente aéreo da LaMia 2933, que vitimou muitos integrantes da delegação da Chapecoense, além de dirigentes e jornalistas. Passados cinco anos, as representantes da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoense (Afav-C) contaram a árdua luta tanto para fazer justiça quanto para saber quais foram os responsáveis pela tragédia.

Presidente da Afav-C, Fabienne Belle falou sobre o sentimento nestes cinco anos. A viúva do fisiologista Luiz César Martins Cunha, o "Cesinha", apontou em entrevista ao jornal Lance!:

"Parece que continuamos a viver a madrugada daquele 29 de novembro. Enquanto todas as pessoas que contribuíram para que este acidente acontecesse estiverem soltas, vamos permanecer congelados dentro deste dia."

Atualmente, as linhas de investigação da Afav-C percorrem diversos países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Estados Unidos e Inglaterra. A vice-presidente Mara Paiva, viúva do ex-jogador e então comentarista da Fox Sports Mário Sérgio, falou sobre a busca por uma indenização.

"É claro que qualquer valor não vai trazer as pessoas que perdemos de volta. Mas houve uma lacuna que se abriu em nossas famílias. A indenização é justa, pois nossas vidas mudaram completamente. Cada vítima teve sua vida tirada de maneira vil. Eram vidas que entraram em uma aeronave na qual havia uma cláusula na qual determinava que, caso o avião sobrevoasse determinados países, entre eles a Colômbia, o seguro ficaria invalidado. Esses requintes de irresponsabilidade, de falta de consideração têm de ser considerados", disse.

"A apólice [de seguros] não tinha o mínimo de razoabilidade para transportar times de futebol. A LaMia transportou a seleção da Argentina com o Messi! Era uma prática que vinha acontecendo com uma série de falhas. Este voo começa lá atrás quando a diretora da LaMia, Loredana Albacete, filha do senhor Ricardo Albacete, negocia com a AON, uma das maiores corretoras de seguros do mundo. Há um 'acordo de cavalheiros' para essa aeronave. E tudo isso decreta a morte de pessoas", completou.

A LaMia acertou o seguro proposto pela corretora AON, pela seguradora Tokio e pela resseguradora Bisa. A apólice teve valor menor pelo fato de a empresa transportar equipes de futebol, uma situação incomum no mercado, com fatos contestados pelos familiares das vítimas.

Fabienne Belle viu com entusiasmo a retomada da CPI da Chapecoense, que aconteceu nas últimas semanas. Aos seus olhos, a Afav-C achou uma forma de continuar a trabalhar por justiça quando o tema foi paralisado devido à pandemia.

"A CPI tinha parado, mas nosso trabalho continuou evoluindo na pandemia. Há um mês, nos reunimos com senadores e pedimos o retorno da CPI, para que o desfecho saia o mais breve possível. Nossa esperança é que eles nos auxiliem no caso e tudo seja comprovado", destacou.

"A Celia (Celia Castedo Monasterio, controladora do voo presa pela Polícia Federal em setembro) é só a ponta de uma série de negligências. A aeronave só saiu do solo porque tinha um seguro, mas este seguro tinha uma cláusula de exclusão para a Colômbia! Além disso, a corretora [de seguros AON], não cobriria de forma adequada o 'sinistro'. Eram US$ 25 milhões [R$ 134 milhões na cotação atual], quando os seguros geralmente são de bilhões. E quando há um time de futebol, os valores aumentam, pois se trata de um patrimônio de uma equipe", disse Fabienne Belle, que frisou:

"A Celia só prova a incapacidade de gerenciamento da DGAC (Diretório Geral da Aeronáutica Civil da Bolívia). Mas havia um plano de voo que não cumpria o que era regulamentado", complementou.

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