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Três volantes, falta de intensidade e reforços: veja as lições do clássico contra o Botafogo para o Fluminense

18/04/2021 07h00


Por mais que a vitória por 1 a 0 em cima do Botafogo, no Maracanã, tenha garantido o Fluminense nas semifinais do Carioca com uma rodada de antecedência, alguns pontos no time de Roger Machado ainda se mostram pendentes. Assim, a cinco dias da estreia do Tricolor na Libertadores, contra o tradicional River Plate (ARG), veja quais são as lições tiradas do clássico e o que precisa melhorar visando a partida mais esperada do ano para o clube das Laranjeiras.

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Próxima parada: Fluminense x River Plate (ARG), no Maracanã, dia 22 de abril, às 19h (de Brasília).

Só de ler está pequena frase, qualquer Tricolor já fica com um frio na barriga de quem quer sentir a emoção de disputar uma Libertadores novamente, após oito anos. E mais que disputar, o importante é vencer bem. Porém, como o adversário é o gigantesco River Plate (ARG), todo cuidado é pouco no que se diz respeito a preparação ideal do time para o confronto tão esperado.

Logo, como até a próxima quinta o Flu não tem nenhum compromisso marcado, além dos treinos, o clássico diante do Botafogo foi a última oportunidade para Roger Machado testar algo que ainda não tinha praticado. E assim fez.

No duelo deste sábado, a primeira mudança clara para se analisar foi a volta de Yago Felipe ao 11 iniciais. Assim, por mais que, na teoria, a mudança tenha sido de apenas um jogador por outro - sai Luiz Henrique, entra Yago -, a disposição do Fluminense em campo mudou e, consequentemente, seu estilo de jogo foi influenciado. Veja a análise abaixo:

TRÊS VOLANTES

Com Yago desde o início, Roger Machado esboçou na prática algo que já vinha planejando a algum tempo. Dessa forma, a ramificação de um meio campo com três volantes proporcionou, consequentemente, o deslocamento de Nenê para a ponta esquerda. Então, os fatos não podem ser analisados de forma separadas e sim, como um sistema de armação que depende de todas as peças para o funcionamento harmônico e equilibrado.

Como o próprio treinador disse antes do jogo começar, tal manipulação das peças se deu pela vontade de potencializar o lado ofensivo de Martinelli, e aproveitar a polivalência de Yago. Até certo ponto a ideia do treinador funcionou, porém, com ressalvas.

A partir do momento que Roger fala sobre a força de ataque do jovem Martinelli, espera-se que o volante jogue com mais liberdade e até certa flutuação no setor do meio campo. Entretanto, o que se viu em campo foi o oposto. É verdade que o jovem percorreu toda a linha que cruza o gramado, contudo, sua maior faixa de atuação foi aberto, quase como um ala direito, e, com isso, repetiu o que já vinha fazendo.

Nesse sentido, o meio campo do Fluminense sentiu a falta de um articulador central e mais ofensivo, já que Yago, embora tentasse, cumpria um papel multifuncional voltado para as beiradas do campo. Isso porque, com sua disposição física, por voltar muito, o atleta perdia o timing de se reposicionar como um homem central e, igualmente a Martinelli, Calegari e Kayky pelo lado direito, formava praticamente uma trinca pelo canto esquerdo com Nenê e Egídio.

Assim, o recuado Wellington pouco podia fazer, até porque suas características não lhe permitem uma mobilidade maior e intuição para ser o criador. Aí que entra Nenê. Muitas vezes criticado pela torcida, o meia não fez uma partida ruim, pelo contrário, além da assistência conseguiu participar bastante da partida. Mérito da 'nova' função? Não.

Nenê jogou bem por conta da fragilidade botafoguense e, consequentemente, por sua qualidade técnica indiscutível. No entanto, aberto pela esquerda como sugeriu Roger, Nenê jogou longe de Fred - que pouco recebeu a bola - e, em certas ocasiões, não conseguiu dar sequência a jogadas de linha de fundo, por não ser um atleta com muita velocidade.

Contudo, diante de toda a análise, é injusto deixar de relatar a importância de Nenê nas bolas paradas do Fluminense. Com a assistência para Nino, o meia chegou a quatro passes para gol na temporada, além de já ter marcado um golaço de falta contra o Boavista. Arma essa que pode salvar a equipe em jogos truncados com poucas possibilidades.

Entretanto, rapidamente conseguimos resumir os problemas oriundos da trinca de volantes, com três ideias: Fred isolado, pouca articulação por dentro e corredor esquerdo mal aproveitado.

Em coletiva, porém, Roger ratificou que tal formação poderia ser utilizada contra o River, porque no jogo desde sábado o Fluminense conseguiu controlar mais a posse de bola com mais homens que exercem esta qualidade.

- A motivação de entrar com um sistema diferente passa pela estratégia do jogo. Nós acreditávamos que, assim, poderíamos levar vantagem dentro do campo e do estilo de jogo do Botafogo - disse Roger.

Mas vale lembrar: o Botafogo representou uma equipe fragilizada após a eliminação da Copa do Brasil, já o River, vem embalado por uma tremenda goleada por 5 a 0, em cima do Central Córdoba (ARG).

+ Em coletiva, Roger Machado fala sobre os três volantes: 'Pode ser uma alternativa contra o River'

Yago voltou ao time titular. (Foto: Lucas Merçon/Fluminense FC)

FALTA DE INTENSIDADE

Outro problema corriqueiro que se observou nos últimos jogos do Fluminense, foi a falta de intensidade, principalmente nos primeiros tempos. Dos últimos oito gols marcados pelo Fluminense, apenas um - do Kayky contra o Macaé - foi marcado na etapa inicial. O que retrata uma equipe que, ou as vezes espera muito o adversário, ou demora a entrar demais no ritmo do jogo.

Lentidão essa que, contra o Botafogo, ficou em evidência. Para se ter noção, mesmo jogando contra a terceira pior defesa do Carioca o Flu finalizou apenas uma bola para o gol nos 45 minutos iniciais.

Assim, usando o River Plate como parâmetro já para o confronto que vem nos próximos dias, na vitória diante do Central Córdoba, no Argentino, a equipe de Marcelo Gallardo finalizou seis vezes a gol só na etapa inicial.

É claro que Roger estudará a equipe adversária, no entanto, prestes a entrar na competição mais importante do continente, o treinador do Tricolor não pode se satisfazer com passes horizontais sem objetividade. Como os campos são diferentes e os adversários mais incisivos, o Fluminense precisará aprender a ser mais objetivo e utilizar melhor a sorte de ter a 'verticalidade em pessoa' no seu time: o jovem Kayky.

Kayky é quem acelera o time do Fluminense. Foto: Lucas Merçon/Fluminense FC

REFORÇOS

Com todo o pacotão de contratações anunciado, dois jogadores já puderam realizar suas estreias e tirar este nervosismo do primeiro jogo da cabeça: o meia Cazares e o lateral-direito Samuel Xavier.

Em campo, por terem jogado por pouco menos de 30 minutos e terem entrado em um momento em que o Botafogo exercia pressão, nada além de qualidade técnica e vontade puderam apresentar.

Porém, como ambos já estão treinando, contra o River, a expectativa é que já estejam mais conectados com o grupo. No caso de Samuel, dificilmente o jogador será titular na próxima quinta, por conta do ótimo momento de Calegari. Mas, enquanto esteve em campo, mostrou já estar 100% recuperado da Covid-19, além do bom porte físico para disputas em mano a mano.

Cazares, pode ser uma solução para o meio campo. Por ser mais ofensivo e muitas vezes demonstrar um domínio guiado da bola - cujo qual o jogador já recebe partindo para o ataque -, o equatoriano pode ajudar na falta de intensidade do setor e, automaticamente, municiar Fred, Kayky e os outros 'atacantes' com mais facilidade.

Vale ressaltar que o Fluminense ainda não divulgou sua lista de inscritos na Libertadores. Como existe o limite de 50 atletas, Abel Hernández, Samuel Xavier, Manoel, Cazares e David Braz serão inscritos tranquilamente. O único que terá uma inscrição provisória e Bobadilla, que resolve pendências e tem até às 15h (de Brasília) da próxima segunda-feira para ser regularizado.

- O Abel e um jogador mais centralizado, mas também já fez lado. Já o Bobadilla joga por dentro e joga pelos lados com força, com velocidade, podendo me dar alternativas, até para jogar com dois atacantes na frente, pelo Raúl (Bobadilla) ter mais mobilidade e velocidade. E a vinda do Manoel nos traz um leque de oportunidades, em função de os adversários hoje estarem abrindo com muita amplitude (os ataques), então eu poder abrir uma linha de cinco com o Manoel e o Luccas (Claro) que tem muita destreza com a bola, é uma alternativa muito boa - detalhou Roger, sobre as contratações do Fluminense - disse Roger em coletiva sobre os reforços do Flu.