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Walmer Machado: 'A Botafogo S/A deles faliu. Quero uma gestão compartilhada'

Walmer Machado é candidato à presidência do Botafogo pela chapa verde - Divulgação
Walmer Machado é candidato à presidência do Botafogo pela chapa verde Imagem: Divulgação

21/11/2020 14h22

O presidente do Botafogo para o quadriênio 2021-2024 será decidido no próximo 24, em votação realizada na sede de General Severiano. Desta forma, o LANCE! inicia uma série de entrevistas com os candidatos à principal cadeira do Alvinegro visando informar as principais propostas e ideias dos envolvidos.

O entrevistado deste sábado é Walmer Machado. A Chapa Verde, chamada de "O Mais Tradicional", tem como vice-presidente Carlos Alberto Lancetta. O L! fez as mesmas perguntas para todos os candidatos, visando manter o equilíbrio no momento da entrevista, e publicará as matérias em ordem alfabética.

Qual é a sua relação com o Botafogo?
- Minha relação com o Botafogo começou aos nove anos de idade nas arquibancadas do Maracanã, levado pelo meu pai e junto ao meu irmão, Waldir Luiz. São mais de 50 anos frequentando jogos, fundando torcidas, depois tendo sido advogado de torcidas organizadas. Tudo em prol do Glorioso. Mas sempre fui um torcedor anônimo e vibrei com isso. Já viajei de caravana, conheci o Rio de Janeiro inteiro, a minha relação com o Botafogo é muito antiga, com muita emoção.

Como surgiu o interesse de ser presidente?
- O interesse veio quando fiquei viúvo em 2015, tinha 38 anos de casamento. Em 2017 fui convidado pelo Carlos Eduardo (Pereira) e a diretoria para ser o advogado contra a Odebrecht, a maior causa do Botafogo. A empresa cobrava 45 milhões de reais do Botafogo. Aceitei o desafio e, através da tese que criamos, o Botafogo foi contemplado no tribunal e continua com as portas abertas. Só conseguimos com muito amor ao Botafogo. Não foi uma simples advocacia, teve muita dedicação. A partir disso, em 2018, meu nome começou a surgir em uma possível candidatura no cenário do Botafogo. Em 2019, a coisa ganhou fôlego e aceitei a sugestão de alguns amigos que nunca participaram de nenhum grupo político. Mas surgiu na questão de defender o clube.

O que você acha do possível advento da Botafogo S/A?
- Acho muito importante. Qualquer que seja o investidor vai necessitar de uma empresa para operar os seus interesses comerciais. Agora, o Botafogo já tem uma S/A que é a Companhia Botafogo. Se não sair a S/A que está no atual plano de estudo, nós poderíamos trabalhar com o plano B, a Companhia Botafogo.

Por que se candidatar para uma eleição com "menos valor", visto que, na teoria, o presidente terá menos peso nas decisões do que um CEO?
- Não acho que tenha menos valor. Na verdade, acho que ela tem muito valor. Primeiramente, CEO, isso é nome de fantasia. A S/A deles faliu, foi um fracasso, não aconteceu. Eu fui tachado de ser contra porque lá atrás eu vi que não tinha nada. Eu sou a favor de uma gestão compartilhada. As pessoas falam em S/A mas o pessoal ali não sabe nem o que é uma sociedade anônima. O Botafogo-SP e o Bragantino são sociedades anônimas e estão muito mal das pernas. Não se pode confundir o CEO de empresa privada no futebol. É outro mundo envolvendo paixão e multidão. Temos empresários de ponta que dão de dez a zero em CEO. Não precisamos disso, precisamos de um cara que faz acontecer, que traga resultados financeiros para o Botafogo. Essa eleição é muito importante, porque eles falaram que o CNPJ seria desmembrado, com isso eles queriam entregar o Botafogo na bacia das almas. Onde já viu arrendar o futebol por 30 anos? Isso tudo não saiu do papel. Eles colocaram que o presidente ficaria encarregado de limpar a piscina, mas o Botafogo não vendeu a marca, o Botafogo pretendia fazer um contrato de cessão de uso. Se essas empresas quisessem ir embora a bomba ia estourar no clube. Por isso a gestão é importante. Se eles tivessem dez pessoas cuidando da mesa, nós também temos que ter dez pessoas. Tem que ser equilibrado, a gestão tem que ser compartilhada. O discurso não era nem igual. Falaram que a S/A ia sair em junho, depois agosto e aí em setembro. Quando caíram na mentira tocaram em recuperação judicial. Esses caras são extremamente despreparados e visam ludibriar o torcedor.

Como salvar o clube com uma dívida que chega perto do passivo de 1 bilhão de reais?
- Buscando dinheiro novo. Eu apresentei um banco inglês, chamado Allantra, e exatamente com essa finalidade de fazer o investimento e sanar dívidas imediatas. A carta foi endereçada do CEO do banco ao presidente atual do Botafogo, o presidente assinou o recebimento da mensagem e depois disse que o Botafogo não tinha interesse. É um banco que administra 4,5 bilhões de euros, é duas vezes maior que Itaú e Bradesco juntos, e se interessou pelo clube. O Botafogo é uma grife e tem pessoas muito influentes no nosso grupo. A dívida de balanço beira a 700 milhões, mas a cada dia eles aumentam um pouco para jogarem essa necessidade de fazerem algo. Além disso, eles aumentam a dívida com todos esses jogadores que eles contratam e também com essa nova comissão técnica até dezembro de 2021. Só aumentaram o passivo. Um ano de blábláblá.

Quais são os projetos para aprimorar a sede de General Severiano, que atualmente é alvo de críticas dos torcedores pela falta de reparos?
- Quero fazer uma gestão com os sócios opinando. Há um abandono naquele ponto nobre. Segundo, o dinheiro das mensalidades que, eu como sócio-proprietário e outros pagam, ficará na sede. Não sairá para futebol ou qualquer coisa, será uma rubrica própria destinada para reparos, consertos e para ajeitar tudo na sede.

A torcida reclama da falta de profissionalismo do clube em vários setores. Você concorda?
- Eu concordo. Acho que é um clube de patota. Parece um clube social, as pessoas não agregam nada. Os grupos que estão no poder só ficam de amizade comendo pizza e fazendo churrasco. Não servem para nada, não arrumaram um patrocínio na camisa do Botafogo, não arrumaram um investidor. Só fizeram guerrinha contra os outros e dizem que trabalham por amor. Eu sou contra. Tem que ter todo mundo ser remunerado. Se você não paga você não pode cobrar. Na minha gestão a remuneração vai ser o artigo primeiro. Não existe favor onde movimenta muito dinheiro. Temos que tirar os amadores e dar um foco profissional. Buscar no mercado, principalmente botafoguenses, pessoas na área de prospecção de recursos.

Caso eleito, qual será a prioridade da gestão?
- Nesse momento a prioridade, com o Campeonato Brasileiro em andamento, vai ser uma situação de dedicação ao campeonato. Não podemos cair. Se isso cair o futuro do clube vai ficar comprometido. Essa seria minha medida emergencial: cuidar do futebol. Dar um freio de arrumação, começar a ver a parte administrativa e, o mais importante, a captação de recursos para poder manter a folha em dia, fazer rubricas diferenciadas. Não misturar dinheiro. Temos que fazer diferentes alas para cada setor do clube.

Como vai funcionar a política envolvendo jogadores de base?
- Vender, às vezes, não dá para criticar. Eu acho que a base está produzindo muito pouco. Tem outros clubes, co-irmãos, que a base é muito crescente, o Botafogo não produz muitos ativos. Apenas um ou outro surgem aqui. O ideal é manter as joias para buscar um título. Não adianta ficar vendendo toda hora e não manter um time. A torcida quer um título, urgente. Teremos que fazer um sacrifício para segurar o máximo que puder para ganhar títulos. A base vai ter uma atenção especial. A base vai ser tocada por ex-profissionais, não por professores que nunca tocaram uma bola. Será feita por ex-atletas que foram campeões, não por pessoas apenas com teoria.

Botafogo sofre para conseguir patrocínios há muito tempo. Onde o clube falha e você tem alguma conversa com alguma empresa, caso eleito?
- O clube não faz porque não tem pessoas para captar. É puro amadorismo. O vice-presidente de futebol é o mesmo de marketing, mas não faz nem um nem outro. Não tem profissionais. O mercado não atende esse tipo de coisa, o mercado quer alguém de peso. Por esse amadorismo que o Botafogo vem vivendo que o clube não tem patrocínio. Do nosso lado, nós já temos uma grande empresa, eles estão cautelosos, não têm uma posição ainda, mas existe a expectativa de imediatamente a gente conseguir um patrocínio master, de master, para dignificar o torcedor botafoguense. O Botafogo é uma grife muito forte. O problema é que as pessoas não vão atrás de quem pode resolver. Se você não tem dinheiro, é preciso buscar dinheiro. É muito difícil alguém bater na porta oferecendo alguma coisa.

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