Dia de todos os Santos #3: A identidade alvinegra na Era Pelé
Para iniciar o terceiro texto da série "Dia de todos os Santos", admito que precisei recorrer ao dicionário. A dúvida sobre o significado da palavra "era" me pegou por motivos evidentes ao título do texto, este que sintetiza o nome de um "período que começa com um fato histórico ou marcante", segundo uma das definições do léxico.
Edson Arantes do Nascimento dá o nome, através do seu apelido, do maior momento da história santista, mas carrega em si um imenso questionamento: quem é maior, o criador ou a criatura.
Para o advogado e professor universitário, Gilson Ildefonso de Oliveria, 61, que viu o Rei jogar, apenas ele foi capaz de quebrar a via de regra.
- O criador sempre será maior do que a criatura, regra geral. Mas, no caso do Pelé, a conversa é outra. O Santos FC é o que é por causa do Pelé - disse.
Uma geração gigante pela própria natureza, não teria o impávido colosso se não fosse Edson, entende?
- O Rei do Brasil, o monarca brasileiro, o maior jogador de futebol de todos os tempos, Pelé foi realmente fora de série. É aquele desportista que conseguiu colocar o nome do Brasil no exterior. O Brasil passou a ser mais conhecido graças a esse grande jogador de futebol - citou o professor e historiador Adílson Lemes.
Pois bem, realmente é a chegada do menino de Três Corações-MG ao Santos que cumpre a profecia da bola, uma ordem do destino. O Peixe nasceu para ter o DNA ofensivo e isso só se confirmou quando teve em seu plantel o atacante mais encantador da história do esporte bretão.
Pelé, então, reescreveu o futebol como quem invetara o esporte e o apresentava ao Universo de um jeito tão seu, que ninguém mais quis saber dele de outra forma. Quietinho, o mineiro faz-se presente com sua áurea em toda bola rolando até hoje, dos Teatros dos Sonhos às peladas de esquina. Saudações a Vossa Majestade, de uma realeza que só conseguiria ser tão bem acolhida por um time santificado pelo próprio nome.
Os 'mais dez'
Gylmar; Mauro, Dalmo, Lima, Zito e Calvet; Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe eram muito mais do que os demais. Com eles, o Santos tinha o time a ser batido. Com o cetro na mão, o Rei possuia ao seu lado companheiros que faziam jus a sua Majestade e garantiram o seu nível sempre Pelé.
- Coutinho era um jogador excepcional, muito inteligente e fez uma dupla perfeita com o Pelé. O Santos tinha dois pontas rápidos, o Dorval pela direita e o Pepe pela esquerda, o Pepe que chutava muito bem, o Dorval também fazia muitos gols, fez 198 gols com a camisa do Santos. Tinha o Zito no meio campo, que tinha uma garra impressionante. Tinha o Jair, que depois foi substituído pelo Mengálvio - afirma o jornalista a historiador Odir Cunha.
Como se cada equipe tivesse o seu momento mágico marcante, a era que carrega o nome do Rei foi a mais representativa ao Santos de todos os craques. Removê-la da história seria, então, de irremediável injustiça, mas não só com o clube e, sim, com o futebol como um todo.
- Se você tira a principal década de vitórias e conquistas do Santos e não deixa nenhum título, você tira tudo. É o período mais vitorioso do Santos. Todos os clubes tiveram o seu período mais vitorioso. Se você pegar todos os clubes e tirar o período mais vitorioso é óbvio que o clube vai perder um pouco da sua importância - disse Gabriel Santana, historiador do Centro de Memórias do Santos FC.
Colocar Santos e Pelé em uma balança é completamente desnecessário, pois não é de possível medida. Eles nunca se embatem, mas sempre se completam e representam-se entre si. Afinal, jamais um jogador imprimiu o seu nome em uma modalidade como foi com Pelé no futebol, bem como nunca um período vai representar tanto o significado real de um clube como a "Era Pelé" para com o Santos.
* Sob supervisão de Vinícius Perazzini
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