Topo

Treinador alerta para prejuízo financeiro de atletas de clubes pequenos: 'Muito preocupante'

01/04/2020 08h00

O caos financeiro deixado pela pandemia do coronavírus afeta diversos setores de uma sociedade que não sabe o que fazer para sobreviver, seja pelo lado de saúde ou econômico. No esporte, jogadores e clubes tentam acordo para diminuir prejuízos das divisões principais. Entretanto, os clubes de menor expressão e poderio monetário não estão recebendo a ajuda necessária.

No Brasil, clubes da divisão de elite, CBF e o Sindicado dos Jogadores negociam para chegar a um número na redução salarial que seja satisfatório para todas as partes. Mas a realidade de um clube que possui um calendário completo e poderio financeiro de alto porte é muito distinta de clubes e profissionais que, geralmente, só disputam estaduais e ficam desempregados após o fim dos campeonatos.

No Maranhão, assim como em todo país, o estadual foi interrompido por medida de prevenção ao combate do coronavírus. E ao contrário dos times da primeira divisão, jogadores que possuem contrato até o fim de abril e nenhuma certeza sobre o futuro na profissão para o ano de 2020, podem sofrer reduções em seus vencimentos negociados de forma generalizada e o impacto pode ser enorme.

Em entrevista exclusiva ao LANCE!, o experiente treinador João Carlos Ângelo, que comanda o Pinheiro, terceiro colocado do Campeonato Maranhense, explicou a necessidade de acordos individuais pela discrepância da realidade financeira entre os clubes brasileiros.

- A gente têm escutado falar muitas coisas, situações de clubes manifestando interesse em baixar, reduzir contratos de atletas. É uma situação realmente que deixa muita gente preocupada. Quando se fala de atletas de Série A, Série B, atletas que ganham 60, 70, 80 mil e mais do que isso, um clube reduzir salários em 25, 50% muitas vezes (não faz tanta diferença). É preciso entender que há atletas que estão fora desse cenário e que são assalariados. Você tirar 25%, 50% de um salário vai causar um grande abalo na situação financeira do atleta.

Alguns atletas têm contratos que acabam, na maioria dos estaduais, em cerca de um, dois meses, que é quando é o término das competições. Imagina os clubes suspendendo contratos de atletas ou mesmo reduzindo salários desses atletas, que não tem salário muito alto? Isso é uma coisa muito preocupante. Pelo o que se tem visto e falado sobre reduções de salários, eu acho que isso tem que ser uma coisa muito individual. Não se pode tomar uma posição de uma maneira geral, porque com certeza esses que estão falando estão representando um grupo de clubes e atletas com salário muito alto -, afirmou.

O comandante também lembra que, por mais que os representantes das negociações em andamento sobre diminuição salariais para estancar a sangria financeira dos clubes brasileiros sejam de divisões de elite, a maioria dos profissionais que trabalham com futebol no Brasil não fazem parte das principais divisões nacionais.

- Está havendo um movimento de clubes, junto a CBF e ao sindicato dos atletas para tentar entrar em um acordo de uma maneira geral para uma redução de salários. A única coisa que eu peço é que se atentassem não só aos grandes atletas, que têm salários enormes ou atletas de grandes clubes que possuem bons salários, mas que se lembrasse daquilo que eu falei anteriormente. Qualquer medida que seja feita generalizando e que não atendam aos interesses dos atletas e profissionais que não recebem grandes salários precisa ser bem estudada para que não venha ter nenhum tipo de problema. Muitas vezes fala-se muito das situações dos grandes clubes e de atletas de um alto escalão, mas se esquece que a maioria de atletas e profissionais estão no menor escalão -, disparou.

Aos 53 anos, o treinador também explica que não se encaixa nos apelos que está fazendo, já que o Pinheiro-MA se comprometeu com seus funcionários, mesmo suspendendo os vínculos, a pagar integralmente os vencimentos dos profissionais, que têm contrato até o final de abril.

- Óbvio que a gente entende que é um momento muito difícil para todos. A gente sabe que a indefinição e toda a situação que está sendo criada, é uma situação até difícil de você tomar alguma posição porque a indefinição é geral. Eu peço para que todos estudem bem as situações para que não se tome nenhum tipo de posição que seja precipitada, porque é realmente um momento muito delicado para todos nós.

Eu estou dizendo isso até porque não é por causa própria, porque o clube que eu trabalho, a maioria de profissionais que lá estamos, temos contrato até o final de abril e o clube prometeu honrar todos os vencimentos normalmente. Nós temos que nesse momento não só pensar em causas próprias, mas precisamos pensar nos outros colegas de profissão. É um momento que é difícil para todos -, finalizou.

Antes da paralisação dos jogos, o Pinheiro-MA fazia boa campanha na competição e ocupava a terceira colocação do campeonato, já com a classificação para a segunda fase garantida, além de ter o melhor ataque com 15 gols marcados.

Aos 53 anos, João Carlos Ângelo é um profissional bastante conhecido em clubes de menor expressão no Rio de Janeiro. Com passagens por Cabofriense, Americano e América-RJ, o treinador se destacou na campanha com o Goytacaz na segunda divisão do Carioca em 2019, quando quase garantiu o acesso do clube de Campos para a elite.

*Estagiário, sob a supervisão de Yuri Hernandes.