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Marcelo Freixo explica ação para tentar soltar brasileiro preso na Rússia

Marcelo Freixo (PSOL) fala sobre situação de brasileiro preso na Rússia - Ricardo Borges/UOL
Marcelo Freixo (PSOL) fala sobre situação de brasileiro preso na Rússia Imagem: Ricardo Borges/UOL

21/09/2019 08h00

A história de Robson Oliveira, brasileiro que foi preso na Rússia, em março, após ser detido no aeroporto de Kashira com medicamentos ilegais, terá o reforço de políticos brasileiros. Os deputados Marcelo Freixo (PSOL), Alexandre Padilha (PT) e Renildo Calheiros (PTdoB) estiveram, no dia 12 de setembro, em uma reunião com o embaixador russo Sergey Akopov, em Brasília (DF), para envolver o Brasil no caso de Robson, acusado de tráfico de drogas e preparação para o tráfico. O deputado Marcelo Freixo falou ao "Lance" sobre uma ajuda "humanitária" ao ex-funcionário do volante Fernando, do Beijing Guoan.

O jogador brasileiro, que na época atuava com a camisa do Spartak Moscou, teria contratado o ex-fuzileiro naval, de 46 anos, e sua esposa Raphaela, cozinheira, ambos de Nova Iguaçu. A ideia era que o casal brasileiro trabalhasse na Rússia para a família de Fernando, é o que afirmam os parentes de Robson. No entanto, o sonho virou pesadelo depois que eles foram detidos pela polícia russa.

O medicamento, que teria sido um pedido de William Pereira de Faria, sogro de Fernando, é proibido no país. Sibele Rivoredo, sogra do jogador, teria sido a pessoa responsável pela contratação do casal. O funcionário Leandro, ainda no Brasil, teria entregue para Robson no aeroporto Tom Jobim, no Rio, três malas com "encomendas" para a família de Fernando. O caso foi revelado pela TV Globo.

Quando questionado pelo "Lance", Marcelo Freixo detalhou como foi a reunião com o embaixador, revelou os próximos passos do caso e comentou a situação do homem que foi à Rússia em busca de uma vida melhor para trabalhar com o jogador e acabou sendo preso por carregar na mala comprimidos do remédio Mytedom, um medicamento a base de Metadona, utilizado para dores crônicas.

"Ele foi muito cordial e nos atendeu muito bem. Ele atendeu imediatamente o meu pedido de reunião. Ele desconhecia o caso originalmente e fomos nós que levamos a informação para ele. Ele acha que é um caso difícil pois é um crime consumado, o fato do Robson estar carregando um medicamento proibido, mas evidentemente o Robson não pode pagar por algo que não fez. A mala não era do Robson, era uma responsabilidade da família do Fernando, especialmente do sogro e da sogra dele", explicou o deputado, que acrescentou:

"Ele está desassistido de alguma maneira, a assistência que a embaixada está dando é muito pouca, e não tem mais a família do Fernando sequer morando na Rússia. Entendemos que isso é algo que possa se resolver diplomaticamente, então pedimos ajuda. Ele se colocou à disposição, solicitou que tivesse um ofício do congresso, que eu já solicitei ao deputado Rodrigo Maia, que se comprometeu a fazer e enviar para a embaixada. Mas seria muito importante se a gente tivesse um posicionamento do Ministério das Relações Exteriores, que até agora não vi", afirmou.

O deputado do PSOL também contou um caso semelhante ao de Robson. Em 2017, um pesquisador brasileiro, que estava na Rússia para dar uma palestra, foi preso portando a substância Ayhuasca, proibida no país, que é uma espécie de bebida sagrada religiosa. Entretanto, houve uma comoção forte no caso e uma ajuda do governo Temer, algo que, segundo Freixo, não está acontecendo agora.

"Nós já tivemos um caso semelhante de um líder indígena que foi preso na Rússia com Ayhuasca, que é um líquido sagrado que ele levou para uma palestra e acabou sendo preso. Houve uma enorme comoção do governo Temer, que ligou para o Putin, a embaixada se mobilizou e ajudou a resolver o caso."

"Não estou vendo essa movimentação no caso do Robson, que é muito grave. Por que a vida do Robson vale menos? É um trabalhador brasileiro que foi em busca de emprego, que nunca tinha viajado de avião e que claramente foi enganado pela família do jogador, no sentido de que ele sequer sabia o que estava na mala, não era pra ele e não pertencia a ele", disse o deputado do PSOL.

Segundo Freixo, a família do jogador deveria ter a dignidade de assumir o erro e, no mínimo, pagar pelo advogado do brasileiro, que está preso há cinco meses e já perdeu cerca de 25 quilos. Entretanto, por mais que a família tenha se prontificado a arcar com os custos, na hora de assinar um termo de compromisso, o acordo foi dado para trás.

"A família do Fernando deveria ter a dignidade de assumir a culpa, mas não só não fez como saiu de lá (Rússia). É caríssimo conseguir um advogado na Rússia. Eu estou em contato direto com o advogado do Robson. Nós conseguimos agora o apoio da defensoria pública da União, que tem sido muito solícita e esteve conosco na embaixada e está ajudando no caso"

"Seria de um bom tom que pelo menos a família do Fernando pagasse o advogado, que é o mínimo que se espera, e que fizesse isso por cooperação. Isso não está garantido até agora. A informação que eu tenho, através do advogado do Robson, é que eles tinham se prontificado, mas haveria um contrato para assumir os custos, onde teve um problema e eles não assinaram ainda", explicou.

O deputado também citou que a imprensa é muito importante na tentativa de salvar Robson, que pode ser condenado a 20 anos de prisão por portar a substância. Outro grande fator seria a participação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que até agora não se manifestou ou sequer respondeu os apelos do deputado sobre o caso.

"Esse é um caso que vocês, da imprensa, são fundamentais. Ele vai ser julgado agora em outubro, ele pode ser condenado a 20 anos de prisão. Uma das alternativas que nós conversamos com a embaixada russa foi sobre a possibilidade dele ser expulso do país. Enfim, alguma medida onde ele pudesse ser ou inocentado, que a gente acha mais difícil, ou que ele fosse expulso e viesse para o Brasil.

"Era muito importante que o Ministério das Relações Exteriores entrasse no caso. Nós mandamos um ofício ao ministro via comissão de direitos humanos, assinado por mim e pelo deputado Hélder, que é o presidente da comissão. Não houve resposta até agora."

O deputado explicou os próximos passos após a reunião com o embaixador russo. Segundo Marcelo, o diplomata já comunicou o problema para o governo de Vladimir Putin, e agora basta uma mobilização grande da população, principalmente para pressionar a participação do ministro de Relações Exteriores, que teria uma participação fundamental no caso.

"Ele (embaixador) tem uma limitação, mas o que ele me garantiu foi que ele estaria entrando em contato imediato com Moscou para falar sobre o caso. A manifestação de deputados do congresso, quebrando a invisibilidade sobre o Robson de alguma maneira, acho que isso já é bastante importante."

"Depois que a carta do Rodrigo Maia chegar, vamos pressionar o Ministério das Relações Exteriores a se posicionar, fazer com que a embaixada brasileira da Rússia tenha uma maior atuação e cobrar que a família do Fernando viabilize a defesa do Robson", contou o deputado.

O deputado federal eleito pelo Rio de Janeiro também analisou a postura que a família do jogador Fernando, que hoje defende o Beijing Gouan Football Club, está tendo sobre o caso do ex-funcionário contratado pela sogra do atleta.

"Primeiro que é bom dizer que o Robson estava levando um remédio que aqui se vende com receita. Ele não estava portando nada que fosse ilegal no Brasil e não tinha o menor conhecimento de que fosse ilegal na Rússia, até porque ele não sabia o que ele estava transportando, pois a mala pertencia à família (de Fernando). Eles contrataram o Robson, eles que pediram para que o Robson levasse a mala, eles que pediram que o remédio ilegal estivesse dentro da mala. A família sabe da responsabilidade que têm, e sabe que tem um brasileiro preso nesse momento, que já perdeu mais de 20kg."

"Eles sabem a responsabilidade que têm e deveriam agir conforme a responsabilidade do que eles fizeram. Ao meu ver, estão longe de fazer algo que seja compatível com o dano infligido na vida desse rapaz. Eu espero que isso possa ser alterado e que a gente possa resolver o caso. Mas para resolver o caso, todos precisam se empenhar bastante, começando pela família do Fernando", disparou Freixo.

Para finalizar, Marcelo Freixo classificou a seriedade da atual situação de Robson como "muito grave", pedindo um maior empenho do governo brasileiro e até mesmo da imprensa.

"O caso dele é complicado. Eu não sei se o embaixador é suficiente para resolver. Acho que a gente precisa de outros fatores. Precisamos muito que o Ministério das Relações Exteriores entre no caso, que o governo brasileiro entre no caso. Isso não é um favor, isso é um cidadão brasileiro que está sendo injustiçado em outro país. Eu acho que o caso é muito grave e merece muito empenho da imprensa e das autoridades brasileiras", finalizou.