Topo

Homofobia ecoou em vários momentos no futebol brasileiro; Relembre

Yuri e Warley torcem para o Cruzeiro e sofreram homofobia após jogo no Mineirão - reprodução/Twitter
Yuri e Warley torcem para o Cruzeiro e sofreram homofobia após jogo no Mineirão Imagem: reprodução/Twitter

14/09/2019 08h00

Recentes casos de homofobia atraíram, negativamente, os holofotes no futebol brasileiro. No final de agosto, durante a partida contra o São Paulo, em São Januário, alguns torcedores do Vasco cantaram uma música em que chamavam a equipe adversária de "time de Veado". Uma semana depois, em novo jogo do Cruz-Maltino, outro caso chamou a atenção. Dessa vez, na torcida do Cruzeiro, no Mineirão. Episódios como esses, infelizmente, não são novidades no meio do futebol.

Mas, agora, o cenário em relação a este tipo de atitude é diferente. Em junho, o Superior Tribunal Federal (STF) decidiu pela criminalização da homofobia e da transfobia, que agora podem ser enquadradas da mesma forma que racismo, com pena prevista de um a três anos de cadeia. Após essa decisão, o STJD passou a recomendar que árbitros relatem casos de homofobia nas súmulas das partidas e parem os jogos caso isso aconteça.

O LANCE! lembra de alguns casos que ocorreram dentro e fora do país e, depois, lista bons exemplos de combate a homofobia e ao preconceito.

Torcedores do Cruzeiro

No último dia 1º de setembro, durante a partida entre Cruzeiro e Vasco, no Mineirão, um casal de torcedores do Cruzeiro foi ameaçado por estarem abraçados e se beijando no estádio. A troca de afagos foi gravada por diversas pessoas e, em uma forma tola de intimidação, foi espalhada pelas redes sociais e canais de internet, onde receberam diversas mensagens de ataques homofóbicos.

Depois, Yuri, um dos rapazes do casal, repostou o vídeo em uma rede social em forma de declaração de amor a Warley, invertendo a lógica homofóbica vista no estádio. Eles registram um boletim de ocorrência para tentar identificar os agressores na internet.

Torcedores do Vasco x São Paulo

Durante a vitória do Vasco sobre o São Paulo no final de agosto, alguns torcedores do Vasco cantaram uma música em que chamavam a equipe adversária de "time de Veado". O árbitro Anderson Daronco tomou uma atitude inédita e paralisou a partida, informando ao técnico Vanderlei Luxemburgo e o capitão Yago Pikachu o motivo da paralisação. Os dois solicitaram aos torcedores que parassem e foram atendidos.

Ainda assim, Daronco relatou o fato na súmula, o que pode gerar punição ao clube cruz-maltino.

Torcida brasileira na Copa América

Durante a Copa América no Brasil, em junho, a Conmebol multou a CBF por gritos homofóbicos por parte da torcida brasileira na partida entre Brasil e Bolívia, duelo de abertura da competição. Nos tiros de meta do goleiro boliviano Carlos Lampe, parte da torcida presente gritou "bicha". As determinações são orientadas pela Fifa para punir este tipo de preconceito.

Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Durante as eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, a CBF já havia sido punido pelo menos motivo. Vale lembrar que algumas torcidas brasileiras gritam "bicha", não só em jogos da Seleção. A Fifa, por sua vez, vem tentando banir dos estádios cantos e gritos homofóbicos, racistas ou que representem qualquer outro tipo de preconceito.

Felipe Bastos x Fluminense

Após o título da Taça Guanabara conquistado pelo Vasco, neste ano, Felipe Bastos atraiu os holofotes de maneira bastante negativa. Na empolgação da conquista, ainda no gramado do Maracanã, o jogador, ao lado de um funcionário vascaíno, usou xingamentos homofóbicos para hostilizar o Fluminense, derrotado por 1 a 0. No confronto, cabe destacar, a torcida vascaína entoou o mesmo cântico: "Time de viado".

Em seguida, o Fluminense, através de suas redes sociais, se posicionou sobre a polêmica, que também culminou em um pedido de desculpas de Felipe Bastos.

Depois de Fluminense e Felipe Bastos se pronunciarem, o Vasco emitiu uma nota oficial, na qual afirma que trataria do caso internamente: "A luta por uma sociedade mais justa e diversa é um valor que buscamos a cada dia de forma intransigente. Portanto, qualquer manifestação preconceituosa ou ato que configure uma violação de direitos serão sempre combatidos e jamais encontrarão eco no Clube", diz parte do comunicado (veja na íntegra).

Torcedor do Palmeiras é ameaçado

A atmosfera nos estádios costuma ser hostil aos gays, como observamos nos cânticos da torcida vascaína e de Felipe Bastos. Em março de 2018, o jornalista e torcedor do Palmeiras William De Lucca, homossexual, expôs xingamentos e até ameaças de morte que recebeu via redes sociais, após reclamar de músicas com teor homofóbico no duelo diante do São Paulo, no Allianz Parque:

- Eu sempre reclamei de homofobia da torcida, essa pauta sempre foi uma pauta que eu toquei desde que voltei a São Paulo, há três anos, e passei a ir sempre no estádio - disse, ao site do Globo Esporte, completando:

- Pela internet já disseram que me matariam, que me bateriam até eu parar de falar sobre o Palmeiras, porque eu estava "sujando" o nome do time - falou William De Lucca.

México: Punições da Fifa

Um dos péssimos hábitos que o futebol mundo afora importou surgiu no México. Na Copa do Mundo realizada no Brasil (2014) e durante as Eliminatórias para a Rússia-2018, se ouviu o cântico "Eeeeehhh, puto!" quando o goleiro rival dava um tiro de meta. A expressão "puto" significa "bicha" em espanhol e foi adaptada do futebol americano do país da La Tri, em 2013.

O primeiro clube denunciado no Brasil

Em meados de 2017, o Paysandu se tornou o primeiro clube do Brasil a ser denunciado por homofobia, graças ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), por discriminação de gênero. No caso, por atos homofóbicos praticados por uma das organizadas do clube, a Terror Bicolor, em jogo contra o Luverdense.

À época, por não relatar as ocorrências nas arquibancadas, o árbitro Jean Pierre foi denunciado no artigo 266 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). Já o Paysandu foi denunciado no artigo 213, inciso I, parágrafo 1º do CBJD por não garantir a prevenção ou repressão das desordens. A denúncia destacara ainda que as agressões foram uma represália e teve como motivação atos discriminatórios por conta do posicionamento da Banda Alma Celeste (BAC), que, além de declarar apoio no combate à homofobia, estendeu uma bandeira de arco-íris durante uma partida contra o Santos, no Mangueirão.

Richarlyson: carreira marcada por insultos

Hoje aos 36 anos e, atualmente, sem clube, Richarlyson tem a carreira cercada de polêmicas relacionadas à homofobia, desde quando passou a fazer sucesso com a camisa do São Paulo, em meados da década passada.

Irmão do atacante Alecsandro e filho de Lela (ex-Fluminense e Coritiba), Richarlyson sempre disse ser hétero, em todas as entrevistas, o que nunca o fez deixar ser alvo de ofensas homofóbicas ao longo da carreira. Cultural, o problema é grave ao ponto de o atleta e o seu empresário desvincularem nítidas reações de preconceitos à homofobia.

A popularização do 'bambi'

Conhecido pela irreverência, o pentacampeão Vampeta é responsável por popularizar o termo homofóbico "bambi" vinculado à torcida do São Paulo. Em entrevista à Rede Globo, o ex-jogador do Vitória, Flamengo, Paysandu, PSV-HOL e ídolo do Corinthians explicou o porquê da "revitalização" da expressão:

- "Ah Vampeta foi você quem inventou o apelido de bambi? Falei: não". O Corinthians tem o gambá, o Santos tem a baleia, o Palmeiras tem o porco e o São Paulo precisava adotar um animal de estimação. Essa história do bambi já existia e eu só acordei o gigante adormecido - comentou Vampeta, a respeito do termo que até hoje é entoado por torcidas rivais do São Paulo.

Bom exemplo: Igor Julião opina sobre o preconceito

Lateral-direito do Fluminense, Igor Julião chama a atenção por não ter medo de expor o que pensa. E o tema homofobia, que incomoda a ala conservadora do país e é visto como tabu na sociedade e, consequentemente, no futebol, conta com opinião sincera do jovem defensor. Ele lamenta a resistência que alguns jogadores têm em assumir a homossexualidade:

- Não acho que seja o clube em si, mas tudo isso que envolve o meio faz com que a pessoa tenha medo de se assumir. Deu uma repercussão grande quando falei que sou contra a homofobia no futebol. Homofobia no nosso país é crime. Só falei que sou contra isso. É um absurdo me xingarem. Tem a resistência em todos os lugares, inclusive nas famílias. Tenho familiares que tem frases preconceituosas, a nossa sociedade é assim. Mas não acho que seja o clube em si, mas tudo que envolve. Isso faz com que a pessoa não possa se assumir - comentou Julião, ao LANCE!, que jogou duas temporadas na Major League Soccer e destacou ainda o respeito e campanhas a favor da comunidade LGBT.

Campanha dos Times da Série A

Após o caso de homofobia por parte de alguns torcedores do Vasco, todos os clube da Série A do Brasileiro lançaram uma campanha conjunta de combate à homofobia, nas redes sociais.

O Vasco foi mais longe e entrou em campo, na partida contra o Cruzeiro, com uma faixa contra a homofobia e também publicou um vídeo

Bahia: Referência em responsabilidade social

Antes mesmo da recente campanha que envolveu todos os clubes da Série A, o Bahia já lutava contra a homofobia e todos os tipos de preconceito no futebol. Além de diversas ações de responsabilidade social, o clube chegou a lançar uma camisa com os dizeres "Não há impedimento", em referência ao Dia Internacional contra a LGBTfobia.

Jogadores gays assumidos

Por falar no futebol estadunidense, em junho de 2018, Collin Martin, meia do Minnesota United, assumiu ser gay, tornando-se o único atleta abertamente homossexual em uma liga esportiva profissional dos Estados Unidos. A revelação do atleta de 23 anos se deu via Twitter:

- Hoje à noite meu time, Minnesota United, está tendo sua noite de orgulho. É uma noite importante para mim - estarei anunciando pela primeira vez publicamente que sou um jogador abertamente gay na Major League Soccer.

Antes de Martin, mais precisamente em 2014, Liam Davis, do time inglês de futebol Gainsborough Trinity, se assumiu gay em uma entrevista ao jornal Lincolnshire Echo. "Com 23 anos de idade, gosto de pensar que ainda tenho muitos anos para jogar e para me posicionar". Por fim, o meio-campista ainda disse ter ser posicionado muito por conta da influência de ex-jogador da seleção alemã Thomas Hitzlsperger.

- Espero que nos próximos 10 anos eu não seja o único jogador de futebol gay fora do armário - completou Liam Davis, de um país onde, em janeiro deste ano, viu o Altrincham FC, da National League North, equivalente à sexta divisão inglesa, lançou uma camisa "arco-íris" em prol do combate à homofobia.