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Jô perde protagonismo, luta para não cair no Japão e vê outro brasileiro despontar como artilheiro

30/05/2018 07h30

O atacante Jô deixou o Corinthians no fim de 2017, após conquistar o Campeonato Paulista e o Campeonato Brasileiro, e sagrar-se artilheiro da última competição - o primeiro corintiano na história a alcançar tal feito. Fórmula pronta para o sucesso no futebol do Japão, correto? No caso de Jô, a conta não está sendo tão simples assim. Há pouco mais de cinco meses no país asiático, o badalado atacante brasileiro tem média de gols inferior aos tempos de Corinthians e vê seu time na zona de rebaixamento, na última posição do Campeonato Japonês. Enquanto isso, outro brasileiro ofusca o artilheiro do Brasileirão-2017 e dá a receita para um centroavante ter sucesso no país.

Em 15 rodadas, o time de Jô venceu apenas dois jogos, tendo perdido outros dez e empatado o restante. Com nove pontos, o Nagoya Grampus (JAP) ocupa a lanterna, com quatro pontos a menos que o Sagan Tosu (JAP), penúltimo. A situação é complicada, mas não é exclusividade de Jô, como explica Anderson Patric, do Sanfrecce Hiroshima (JAP), ex-jogador de Vasco, com passagens pelo Kawasaki Frontale (JAP) e Gamba Osaka (JAP).

- No meu primeiro ano de Japão, eu saí do Brasil com uma mentalidade de centroavante nato, que joga dentro da área, recebe para finalizar e se não faz gol é criticado. É normal. No Japão, não tem isso e eu demorei para entender. Quando cheguei ao Kawasaki foi complicado. Eu tenho muita força física, jogo pelo lado também, mas só ficava plantado na área. Jogava de titular, no começo do jogo o treinador me tirava, depois, passava dois jogos sem jogar. Se você pega um treinador brasileiro, ele monta um esquema para você fazer gol. Mas se é japonês, ele é chato, o treinador do Jô (Yahiro Kazama) foi meu treinador. Ele pede que o centroavante saia para marcar - revelou Patric.

Na lista de artilheiros do Campeonato Japonês, o nome que aparece no topo é de um brasileiro, mas engana-se quem logo pensa em Jô. O goleador é justamente Patric, do Sanfrecce, líder do campeonato. Com dez gols, ele é o principal nome do torneio nesta temporada. O ex-atacante do Corinthians e da Seleção Brasileira aparece na sétima colocação, com seis gols.

Anderson Patric, campeão do Japonês em 2014, quando foi eleito o MVP (melhor jogador) da competição, conta que a adaptação ao futebol praticado no país é complicada e imagina que Jô esteja passando por um momento de aprendizado. São apenas poucos meses do ex-corintiano no país onde Patric, aos 30 anos, reside há seis temporadas.

- A mídia local comenta que é uma situação complicada, como comentam no Brasil. "Pagam um absurdo de dinheiro no jogador, o jogador não rende o esperado". Os jogadores japoneses do meu time também comentam que é muito dinheiro. Os japoneses comentam. O cara (Jô) jogou uma Copa do Mundo, foi o melhor do Brasileirão, artilheiro, campeão, mas eles não enxergam dessa maneira. Para eles, tem que correr para pegar zagueiro, não apenas fazer gol. Não se preocupam com isso. Se você corre, ficam satisfeitos. A mídia geralmente fala que o Nagoya está mal, que contrataram um atacante caro e que não vem correspondendo, mas é a cultura deles. Esse treinador do Jô gosta de jogar com muito toque de bola. O Jô é alto, sabe jogar no alto, se cruzarem para ele, vai fazer gol. Isso te deixa chateado - comentou o atacante.

Além de lutar contra o rebaixamento e de contar com um técnico japonês na beira do gramado, Jô chegou a ser substituído durante alguns jogos e precisou compartilhar o banco de reservas com outros companheiros. Situação bem diferente da vivida nos tempos de Corinthians. O "casamento" entre jogador e equipe deu tão certo que o clube ainda não achou um substituto definitivo para Jô, tendo contratado Roger, ex-Botafogo e Internacional, no último mês.

"Rei dos Clássicos" em 2017, marcando sete gols em 11 jogos contra rivais do Timão, Jô não tem tido o mesmo desempenho no Nagoya. O caráter decisivo do jogador, que lhe rendeu o prêmio de artilheiro do Brasileirão, pouco aparece no Japão. Titular nos 15 jogos que disputou na competição nacional por pontos corridos, Jô balançou as redes em cinco partidas, tendo somado uma vitória, três derrotas e um empate. Para azar do jogador e de seus torcedores, o brasileiro ainda perdeu um pênalti na derrota por 3 a 2 para o Sagan Tosu, na quinta rodada.

Em 2017, Jô somava nove gols em 15 jogos no Brasileirão, tendo marcado em oito rodadas, e somando, assim, seis vitórias (Vitória, Santos, Vasco, Bahia, Botafogo e Ponte Preta) e dois empates (Chapecoense e Atlético-PR).

A diferença nos números mostra-se ainda mais evidente se compararmos a média de gols de Jô na temporada. Em 2018, Jô tem 16 jogos realizados (15 no Japonês e um na Copa Levain) e sete gols (seis no Japonês e um na Copa Levain), alcançando média de aproximadamente 0,43 gols por jogo. Já em 2017, a média até a décima quinta rodada do Brasileirão era de 0,60. Em sua segunda passagem pelo Timão, Jô marcou 25 gols em 61 jogos, somando média de 0,40.

Artilheiro e líder do campeonato, Patric aconselha o colega de profissão e conta um pouco da cultura dos técnicos japoneses, que exigem que os centroavantes, como Patric e Jô, se movimentem muito e deixem a área, habitat natural dos atacantes, para marcar os laterais e pressionar os volantes.

- O Jô não tem característica de sair atrás de volante para roubar bola. Quando eu vi que ele viria para o Japão, sabia que ele teria um pouco de dificuldade. O japonês infelizmente não quer saber se ele foi o craque do Brasileirão. Acredito que o time tem que fazer um esquema de jogo para o Jô - opinou.

Em entrevista recente ao LANCE!, publicada há 45 dias, o ex-corintiano falou um pouco sobre a dificuldade de sua equipe na competição nacional.

- Em relação ao meu time, começamos muito bem, com duas vitórias e um empate. Depois as coisas começaram a não andar, e o time está na zona de rebaixamento. Mas ainda é o começo, acredito muito na equipe, tem qualidade. Perdemos jogos bobos, mas o time tem qualidade. Temos que treinar, trabalhar e temos tudo para dar a volta por cima - afirmou Jô.

O time de Patric vive situação semelhante à que o Corinthians de 2017 viveu. Ao final da 15ª rodada, o Sanfrecce Hiroshima tem 37 pontos, nove a mais que o vice-líder Tokyo. O Timão, na mesma rodada, tinha 37 pontos e via o Grêmio aparecer na segunda colocação, com 31. O sucesso no Japão é tão grande que até naturalização japonesa já virou um sonho próximo de Patric, que comenta que os torcedores pedem sua presença na seleção nacional.

- Os torcedores fizeram camisa da seleção com o meu nome. (Para tornar-se cidadão japonês) Tem que ficar cinco anos direto sem sair do Japão, tem que poder falar um pouco de japonês e fazer uma prova. Eu completaria cinco anos em 2017, mas como me machuquei, voltei para fazer tratamento no Brasil. Agora, tem que reiniciar tudo. A torcida me pergunta, sempre falo que não vou desistir desse sonho. A seleção tem muito jogador bom, mas lá no ataque não tem jogador alto, forte. Todos me pedem na seleção. Vamos ver o que vai acontecer. Acho difícil, mas vou continuar tentando - disse Patric, com esperanças de vestir a tradicional camisa japonesa.

Jô e Patric ainda não se enfrentaram no Japão. O time de Patric perdeu para o de Jô na Copa Levain, mas o brasileiro do Hiroshima não esteve em campo. O confronto entre Sanfrecce Hirosima e Nagoya Grampus está marcado para o dia 22 de julho, após a parada para a Copa do Mundo.