Ronaldo x Salah: raio-x do duelo de 'David e Golias' na Champions
A história de David e Golias é retratada na Bíblia como um duelo entre guerreiros em busca da glória divina. De um lado, um batalhador conhecido por sua força, com todas as feições para sair com a vitória. Do outro, um combatente em desvantagem, mas munido pela fé para fazer história. No futebol, a final da Liga dos Campeões, que será decidida entre Real Madrid e Liverpool, no próximo sábado (26), pode ser retratada de forma parecida na figura de dois jogadores: Cristiano Ronaldo e Mohammed Salah.
Diferentemente da passagem religiosa, não existem heróis ou vilões quando a bola rola, mas artilheiros com armas distintas para buscar seu objetivos. No papel de David, o português Cristiano Ronaldo carrega o favoritismo de um clube que luta pelo tricampeonato europeu. Eleito o melhor jogador do mundo cinco vezes, inclusive na última temporada, ele conta com o auxílio da equipe mais vitoriosa da atualidade para cumprir sua missão de conquistar o continente pela quinta vez na carreira.
Como Golias, o egípcio Mohammed Salah carrega a esperança de um povo que já esteve no Olimpo do futebol, mas passou anos no ostracismo e quer voltar a vencer. O atacante não conta com escudos, apenas espadas que carregam um estilo de jogo ofensivo junto a seus fiéis escudeiros no trio de ataque: Sadio Mané e Roberto Firmino. É a trinca que mais balançou as redes na competição.
O Liverpool luta pelo sexto título, enquanto o Real Madrid quer o 13º - é, disparado, o clube mais vencedor da mais poderosa competição interclubes do mundo. Salah quer levantar o troféu pela primeira vez, enquanto Cristiano Ronaldo tenta repetir o feito pela quinta (acumula três pelos espanhóis e um pelo Manchester United). O LANCE! analisou os dois craques e comparou todos os aspectos que podem interferir na decisão da Liga dos Campeões: como chegam, os números, as táticas e opiniões a respeito. Confira:
COMO CR7 CHEGA À FINAL?
Na teoria, a temporada de Cristiano Ronaldo pode ser considerada de altos e baixos. Porém, na prática os pontos altos significaram a quebra de tantos recordes que o resto se torna menos relevante. Não é a temporada mais artilheira do português, nem a mais brilhante, mas é impossível não condecorá-la como a mais decisiva da carreira do atleta.
A campanha do Real Madrid nesta edição de Liga dos Campeões mostra isso. Ronaldo se tornou o único jogador a marcar em 11 jogos seguidos pela competição, contando a partir da final passada, contra a Juventus. A sequência terminou diante do Bayern de Munique, na semifinal. Antes, deixou sua marca nos jogos de ida e volta contra Borussia Dortmund, Apoel, Tottenham, Paris Saint-Germain e Juventus, respectivamente.
Nas oitavas de final, contra o PSG, de Neymar e companhia, o Gajo se tornou o primeiro jogador a atingir a marca de cem gols por uma única equipe na história do torneio. Na partida em questão, chegou aos 101 gols com a camisa do Real Madrid e quebrou mais um recorde. Eles se juntaram aos outros 15 marcados na época de Manchester United. O duelo contra o time francês marcou o renascimento do atleta e de sua equipe, voltando ao patamar de favoritos ao título.
A confirmação do retorno à melhor fase veio contra a Juventus, pelas quartas de final. Atuação de gala na Itália. Com um golaço de bicicleta contra Gianluigi Buffon, Ronaldo se tornou o primeiro atleta a marcar uma dezena de gols contra um mesmo clube pela Liga dos Campeões. Foram dez bolas na rede contra a Juventus, equipe tantas vezes celebrada como a de melhor defesa e com o melhor goleiro do mundo.
Outra boa maneira de dimensionar a máquina de gols que Cristiano Ronaldo se tornou é comparar seus números com os de outros times tradicionais que disputam a Liga dos Campeões. Os 117 gols marcados pelo português superam os 107 anotados por todas as equipes de Atlético de Madrid e Roma, e os 99 do Manchester City na história do torneio. Sozinho ele marcou mais vezes que importantes equipes.
Caso conquiste o troféu da edição 2017/2018, Cristiano Ronaldo igualará o números de títulos do próprio Liverpool e também do Barcelona, o maior rival do Real Madrid. O português é tetracampeão do torneio, enquanto ingleses e espanhóis têm cinco títulos cada.
COMO SALAH CHEGA À FINAL?
Aos 25 anos, Mohammed Salah demorou para explodir no futebol europeu. Com passagens por Chelsea e Fiorentina, foi encontrar sua melhor forma na Roma, clube que defendeu antes de chegar ao Liverpool. Na Inglaterra, o Faraó despontou com recordes, conquistas pessoais e a produção de um legado que abraça todo o continente africano. O rei no Egito está a um passo de conquistar a Europa e fazer história pelos Reds.
Os feitos de Salah no Campeonato Inglês chamam atenção. Com 32 gols, ele superou a marca do próprio Cristiano Ronaldo (Manchester United, 2007/08), de Alan Shearer (Blackburn, 1995/96) e Luis Suárez (Liverpool, 2013/14), tornando-se o maior artilheiro da história do torneio desde que ele passou a ser disputado em 38 rodadas (20 equipes).
Outro feito de Salah foi ser o primeiro jogador da Premier League a fazer mais de 40 gols em uma temporada desde que CR7 o fez em 2007/08. Além disso, se tornou o africano com mais gols na história da liga, superando nomes de peso como Didier Drogba, Yaya Touré e Emmanuel Adebayor.
Pelo Liverpool, tornou-se o jogador com mais gols marcados em uma mesma edição de competições europeias: 11, assim como o brasileiro Roberto Firmino, superando os nove marcados por Dean Saunders, na Copa Uefa de 1991/92. Ele também marcou em cinco partidas seguidas começando como titular, superando Steven Gerrard, em 2007/2008.
Outro aspecto importante da idolatria que envolve Mohammed Salah é a questão cultural de um africano brilhando em solo inglês. O atacante comemora todos os seus gols ajoelhando-se no gramado, apontando para o céu e agradecendo. Isso inspirou a própria torcida do Liverpool, que inventou uma música que ajudou no combate ao preconceito religioso. O canto diz que "se Salah marcar mais alguns gols, eu viro muçulmano também".
OS NÚMEROS:
Cristiano no topo da Europa; Salah no topo da Inglaterra
O equilíbrio entre Cristiano Ronaldo e Mohammed Salah se expressa na quantidade de gols anotados. Ambos marcaram 44 vezes na temporada 2017/2018 em partidas oficiais - o português tem dois tentos em amistosos com Portugal. A diferença é que o Gajo precisou de 43 jogos para chegar na marca, tendo média de 1,02 gol por jogo. Já o egípcio precisou de 51 partidas, somando 0,86 de média.
Por outro lado, de acordo com dados divulgados pela empresa Opta Sports, Salah precisa de menos chutes a gols que Cristiano Ronaldo para balançar as redes. Defendendo o Liverpool e a seleção egípcia, o jogador precisa de 4,41 finalizações para marcar. Ronaldo, juntando as atuações por Real Madrid e seleção portuguesa, arrisca 6,35 disparos para deixar sua marca.
Levando em conta apenas as ligas nacionais, Salah encerrou a disputa do Campeonato Inglês como artilheiro, marcando 32 gols. Já Cristiano Ronaldo ficou em segundo no quesito pela Liga Espanhola, balançando as redes 26 vezes, atrás de Lionel Messi. Pela Liga dos Campeões, o português é o líder em gols marcados com 15 tentos, enquanto o egípcio aparece na segunda colocação, com dez.
Segundo a contagem de assistências da temporada, Salah é quem leva vantagem. Foram 14 passes que viraram gols de seus companheiros contra oito de Cristiano. O egípcio também esteve mais tempo em campo quando comparado com seu rival: foram 4.088 minutos, contra 3.588 do Gajo.
Por fim, o troféu 'Chuteira de Ouro', prêmio que elege o maior artilheiro da temporada europeia seguindo o ranking da Uefa, ficou com Messi, mas Salah permaneceu à frente de Cristiano. O atleta do Liverpool foi o segundo colocado, cinco posições acima do atacante do Real Madrid, o oitavo no geral. Harry Kane (Tottenham), Ciro Immobile (Lazio), Robert Lewandowski (Bayern de Munique), Edison Cavani (PSG) e Mauro Icardi (Inter de Milão) ficaram à frente do português.
MENOS DRIBLES, MAIS GOLS:
Cristiano Ronaldo se torna um goleador
Cristiano Ronaldo é um grande exemplo de como a mudança tática pode alterar a carreira de um atleta. Se o menino que despontou no Sporting de Lisboa e encantou no Manchester United era visto como um ponta esquerda de velocidade e dribles, a versão que está no Real Madrid é a de um jogador mais centralizado, com faro de gol e precisando de apenas uma chance para ser letal e balançar as redes.
A mudança tática imposta por Zinedine Zidane permite que Cristiano Ronaldo flutue no ataque, esperando o momento certo para impôr sua velocidade, impulsão e técnica. Contando com a movimentação de Karim Benzema e Isco na frente, além da visão de jogo de Luka Modric e Toni Kroos, o português sempre está em boa posição para ser mortal. Ele não atua como nove, nem como ponta esquerda, pois está livre para aparecer em qualquer parte do campo.
No atual time do Real Madrid, o português passa menos tempo no meio, onde a marcação é mais forte, além de ter mais liberdade para procurar espaços quando joga nas costas da segunda linha de defesa. Isso significa que ele está sempre em posição para chute, sua principal característica. Seus gols contra Juventus e PSG mostram diferentes estilos de finalização e posicionamento.
Este é o maior diferencial de Cristiano Ronaldo. Sua inteligência para ler os espaços e se antecipar aos adversários é muito acima de qualquer outro atleta do futebol mundial. Não à toa, é o artilheiro de praticamente todas os torneios que disputa. É craque por saber esperar o momento certo para se movimentar, por vezes precisando de apenas um toque na bola parada decidir a partida.
JOGO DE PRESSÃO E INTENSIDADE:
como Klopp tira o melhor de Salah?
Melhor ataque desta edição de Liga dos Campeões, o Liverpool se destaca pela intensidade de seu jogo. É uma característica marcante dos times dirigidos por Jurgen Klopp. Foi assim no Borussia Dortmund e não seria diferente no clube inglês. O esquema montado pelo treinador tem grande poder ofensiva, sendo Mohammed Salah seu principal vetor.
Klopp sempre diz que seus times têm que ter três características fundamentais: intensidade tática , concentração e foco. O caso de maior sucesso foi contra o Manchester City, pelas quartas de final, onde a equipe treinada por Pep Guardiola não conseguiu respirar dentro de campo. Isso também foi visto no segundo turno da Premier League, contra o mesmo City, uma equipe que atropelou boa parte dos adversários e quebrou uma série de recordes - de pontos, vitórias, saldo de gols... A postura de marcação dos Reds na saída de bola, combate individual pelo meio e cobertura no campo de defesa impôs um modelo que combina com as características velozes do Liverpool
Onde Salah entra nisso? O Liverpool sempre procura pelas jogadas de superioridade nas laterais do campo. Pela direita, o egípcio conta com as subidas de Alexander-Arnold para encarar o marcador no 'dois contra um'. Na esquerda, Sadio Mané usa da mesma função com Robertson. Essa estratégia força o adversário a se movimentar e abrir espaços - o que torna os contra-ataques do Liverpool quase sempre mortais.
Também é importante destacar a parceria com Roberto Firmino. A evolução do brasileiro que, apesar de atuar como centroavante, se destaca pela mobilidade que muitos meias não conseguem ter. A inteligência do camisa 9 cria espaços que são explorado pelos pontas, nas costas do rivais. Sem a bola, o brasileiro se movimenta para abrir corredores que são explorados por Salah.
OPINIÃO DOS ESPECIALISTAS:
Editores do L! dão seus pontos de vista sobre o duelo
A final da Liga dos Campeões se aproxima e o LANCE! transmite em tempo real a partir das 13h, no próximo sábado. Com isso, perguntamos aos especialistas o que imaginam para o duelo entre Real Madrid e Liverpool. Quem tem mais poder de fogo para decidir: Cristiano Ronaldo ou Mohammed Salah? Confira:
Aigor OJêda
"Cristiano Ronaldo! A temporada de Salah é extraordinária, mas não se pode descartar, sob hipótese alguma, a capacidade de decisão do português na última década. Ele é extremamente letal e tem, além de todas as virtudes já conhecidas, uma equipe que condiciona o seu jogo em sua função. CR7 não precisa de uma grande atuação para ser decisivo na final de Kiev"
Thiago Salata
"Por mais que Salah venha sendo um monstro pelo Liverpool e seja a alma do time de Klopp, Cristiano Ronaldo sempre será visto como principal fator de desequilíbrio antes de qualquer decisão. Não é preciso explicar os motivos... O português é uma máquina de fazer gols e isso se intensifica em jogos grandes. O trunfo do Real por ter Ronaldo é maior do que o do Liverpool com o incrível egípcio "
Bernardo Cruz
Cristiano Ronaldo! Apesar de Salah viver uma fase espetacular e ter realizado a melhor temporada da carreira, o português está acostumado a decisões da Liga dos Campeões. Sua confiança neste tipo de jogo com muita pressão pode ser o diferencial nesta comparação.
Yuri Hernandes
"Cristiano Ronaldo é o atual bicampeão da Champions, tem quatro no currículo, e foi cinco vezes melhor do mundo. Salah surgiu agora para o mundo e está em sua primeira final. Por ter mais experiência e currículo, Cristiano tem a vantagem. Mas como Salah está em uma temporada fantástica, tudo pode acontecer"
DUELO NA COPA DO MUNDO?
Após a final da Liga dos Campeões, CR7 e Salah têm outro desafio imenso. Eles serão os astros de suas seleções nacionais na Copa do Mundo da Rússia. Portugal e Egito, aliás, podem até se cruzar nas oitavas de final (para isso, é preciso que se classifiquem em posições diversas em seus grupos, um em primeiro e o outro em segundo).
Será a quarta Copa do Mundo de Cristiano Ronaldo. Com ele, a seleção lusa foi quarta colocada em 2006, na Alemanha, sob o comando do brasileiro Luiz Felipe Scolari, segundo melhor desempenho da equipe na história (superado apenas pela terceira posição em 66). No Brasil, em 2014, Portugal decepcionou e caiu ainda na primeira fase, enquanto quatro anos antes havia sido eliminado pela futura campeã Espanha, nas oitavas. Os espanhóis, aliás, são o principal adversário dos portugueses na primeira fase. No dia 15 de junho, eles farão o clássico ibérico. Irã e Marrocos completam o Grupo B.
Salah debutará em Mundiais. O Egito volta a uma Copa após 28 anos de ausência - na Itália, em 90, caiu na primeira fase. Chega como ídolo de um país hegemônico na África com sete títulos continentais, mas que só participou de duas Copas e jamais venceu uma mísera partida: foi o primeiro representante do Novo Continente na competição, em 1934. O país de cultura milenar, uma das maiores civilizações da antiguidade, está no Grupo A, com os anfitriões russos, Uruguai e Arábia Saudita. A estreia será no dia 15 contra os uruguaios.
*sob supervisão de Valdomiro Neto
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.