Ezabella aposta no novo e quer fim da relação entre Corinthians e Odebrecht
Na semana da eleição para presidente do Corinthians, o LANCE! publica nesta terça-feira a entrevista com Felipe Ezabella. Até sexta, ainda serão publicadas as conversas com Romeu Tuma Júnior e Paulo Garcia. A com Andrés Sanchez iniciou a série, feita em ordem alfabética, e a com Antonio Roque Citadini foi a segunda. A eleição será realizada no sábado, dia 3 de fevereiro, no Parque São Jorge.
Caçula entre os candidatos, Felipe Ezabella completará 40 anos em fevereiro e aposta no "novo" para vencer a eleição. Ele encabeça a chapa "Corinthians Grande", composta por vários dissidentes da "Renovação e Transparência", que comanda o clube desde 2007.
Ezabella foi diretor de Esportes Terrestres entre 2007 e 2009 e conta com o apoio de nomes influentes na gestão da "Renovação e Transparência", como Fabio Carrenho e Fernando Alba, seus vices, além de Sérgio Alvarenga, Fausto Bittar e Raul Corrêa.
É com essa bagagem que Ezabella busca assumir a presidência e acabar com a relação com a Odebrecht. O candidato diz que inicialmente ficará à frente para resolver a dívida da Arena Corinthians.
"Eu não quero trabalhar com a Odebrecht. "Ah, mas você vai conseguir?" Não sei, mas é uma meta. É uma empresa que tem dificuldades que não é legal estar associada com o clube", disse Ezabella.
Durante mais de uma hora de entrevista ao LANCE! em seu escritório de advocacia, Ezabella contou seus planos de gestão e disse ser uma terceira via, entre a situação e a oposição. confira:
Você já recebeu algumas críticas por ser advogado do volante Elias, ex-Corinthians e atualmente no Atlético-MG. Teve algum problema para se candidatar?
Não teve nenhum problema. Não teve nem pedido nem nada (de impugnação). É só entrar no site e digitar minha OAB que você vai ver meus processos. Eu sou advogado do Elias, sim. Esse processo que estão divulgando é até recente, ele nem estava mais no Corinthians. Na época do Corinthians, foi quando ele veio do Sporting (POR) para cá. Nunca recebi, não sou empresário, nunca empresariei nenhum jogador. Nessa questão que eu apareci foi um processo contra o Sporting, e eu era o advogado dele contra o Sporting na Fifa. Lá, igualzinho como era aqui, atrasavam o direito de imagem. Quando entramos com o processo contra o Sporting, ele ainda estava no Flamengo. Depois o Corinthians entrou na briga com o Flamengo para negociar, e desistimos do processo. Mas não chegou nada da Comissão Eleitoral. Ficam falando porque é politicagem. Da minha parte não teve nada.
Qual foi o jogo mais marcante?
São dois jogos. O primeiro foi o título de 1888, com gol do Viola, eu tinha dez anos. O último título tinha sido em 83, com cinco anos, então foi praticamente meu primeiro título em 88. Depois foi o Mundial no Japão contra o Chelsea. Eu estava doente, não ia viajar, e acabei indo. Não consegui embarcar sábado, fui sozinho no domingo. Estava com conjuntivite, e no final das contas era uma conjuntivite química. O remédio que eu estava passando que piorava. Mas só depois que fui descobrir isso. Viajei sozinho, meio debilitado, e cheguei na quarta-feira, dia do primeiro jogo.
Quem é o maior ídolo?
É pessoal, né?! Eu gosto de alguns jogadores. Mas ídolo é o Viola, por conta desse gol de 1988, o Neto por 1990. Acho que ídolo remete muito à infância. Se fosse falar de craque, seria Sócrates. Mas vi muito pouco o Sócrates jogar.
Se pudesse repatriar um jogador identificado com o Corinthians, quem seria?
Willian (do Chelsea) ou o próprio Jô.
O que levou a se candidatar?
É o contexto todo. Além da minha identificação com o clube desde a infância, depois comecei a participar da parte política, fui conselheiro duas vezes e vice-presidente. Com o fim do chapão, começamos a retomar nosso grupo para montar alguma chapinha e a movimentação política. Mas nossa turma era grande e dava mais que uma chapinha. Vimos que tinha um vácuo entre situação e oposição, e poderíamos nos colocar como uma terceira via. Nossa turma era a de que "não voto no Citadini nem no Andrés, se tiver outro candidato eu voto nulo, estamos cansados de polarização". Então criamos, começamos a discutir e chegou no momento de decidir o candidato. Sentamos, vimos quem poderia e chegou no meu nome e eu aceitei. Foi natural, fui conversar com meus sócios e familiares. Eles até falaram: "seria estranho se não fosse você". Foi natural, nada forçado.
Por que é o melhor candidato?
Acho que represento um novo, trazemos ideias e pessoas novas, conteúdo, inovação e queremos mudanças. Mudanças no sentido não como a oposição, que acha que está tudo errado. Achamos que conseguimos ir nessa linha mais de centro, no meio termo.
Como é sua relação com a Renovação e Transparência?
Tranquilo. Tem cara que gosta e cumprimenta, outros que fecham a cara e não sabem levar. Não entenderam que o sistema que ajudamos a montar vai ter eleição de três em três anos. Não adianta brigar, porque daqui três anos vai ter outra eleição.
Foi tranquilo esse processo de saída da chapa?
Da minha parte foi, faz tempo. Tem pessoas mais próximas que saíram há menos tempo. Mas acho que a maioria encara de uma forma tranquila. Sempre tem um ou outro mais radical.
O que precisa ser mudado no Corinthians?
Acho que a parte de organização mesmo, quando falamos de governança, administração, compliance e gestão. Precisa de muito mais transparência. Quando falamos do estádio, por exemplo, falar de transparência é até sacanagem, é uma caixa preta. Acho que precisa um pouco mais de foco nessa área. Com tudo isso, vai ajudar o clube ter mais patrocinadores. Mostrar uma gestão transparente ajuda. Na parte do futebol, acho que o Alessandro (gerente) está muito sozinho, ele sabe disso, talvez ter mais alguém que faça a ligação com a base. Outra coisa é o que todos os candidatos têm falado: precisa terminar o CT da base logo, tem alguns imbróglios que é preciso entender por que não terminou, porque isso é prioridade. Se não tem dinheiro, deixa de contratar o Sheik e termino o CT. Acho que deve ter algum outro problema para não conseguir terminar, além de falta de dinheiro.
Como fazer para mudar?
Ter uma gestão mais eficiente, com muita transparência, sem receio de divulgar os dados. Montar uma área de compliance que vai além da auditoria. Todo mundo fala que a palavra da moda é compliance. Mas porque vai além: puxa tudo, da onde comprou, quem é a empresa, se tem ligação. Não vê só a parte de entrada e saída. Por isso uma das coisas que falamos que é importante ter é algum tipo de certificação de governança. Não sei se no primeiro momento conseguiríamos, mas vamos buscar isso.
Falou que precisa de mais uma pessoa com o Alessandro. Seria no cargo que era do Flávio Adauto (diretor de futebol que saiu para ser vice de Paulo Garcia)?
Se você pegar a estrutura anterior, tinha o diretor de futebol e um adjunto, mais um coordenador. Não teve reposição. Se o diretor precisa de um adjunto, depende da disponibilidade do diretor. No caso da parte executiva, precisa de mais gente. Se o Alessandro sai, como fica? Quando o Edu Gaspar saiu, o Alessandro já foi promovido. A função que o Alessandro fazia foi extinta. Além de mais alguém para auxiliar o Alessandro, precisa de alguém para fazer a ligação com a base.
Alessandro fica?
Da minha parte eu não mudo. Pelo contrário. Ele vai ter mais gente para trabalhar com ele, numa estrutura que vamos redesenhar.
E a estrutura da comissão técnica, com auxiliares fixos mais o técnico?
Acho bom, tem que conversar, eles montaram isso e está funcionando. Não vejo problemas.
Com Carille chefiando?
Sim, claro. Eu tenho falado que foi uma coincidência. Nossa chapa é de gente nova e o Carille acaba sendo um perfil muito parecido com a gente.
Como resolver a dívida da Arena?
Não sabemos o valor exato, mas muito do que tem dessa dívida pode ser negociado, principalmente a parte da Odebrecht. Eu não quero trabalhar com a Odebrecht. "Ah, mas você vai conseguir?" Não sei, mas é uma meta. E acho que a Odebrecht também não quer mais ficar no clube, mas não é por isso, e sim porque acho que temos de dissociar nossa imagem da Odebrecht. É uma empresa que tem dificuldades que não é legal estar associada com o clube. Então, quando trato de Arena, são dois aspectos. Esse imbróglio de dívida com Odebrecht e Caixa, tentar desatar esse nó. Temos um ativo grande que são os CIDs. Vamos tentar fazer a Odebrecht assumir esses CIDs e fazer com que ela saia do negócio. E dentro dessa dívida tem muitos valores que ela deixou de construir, não sabemos quanto. Tem perícia que falam de R$ 200 milhões, R$ 300 milhões, mas a Odebrecht não reconhece, lógico. Então você vê que vai abatendo. A ideia é ter uma negociação autônoma com a Odebrecht, explicar nosso lado, temos informações que ela também quer sair do negócio. E com a Caixa Econômica Federal vamos parcelar e ir pagando aos poucos. Mas daí entra no segundo aspecto: só vamos conseguir pagar se tiver receita, e para ter receita tem de usar o estádio em todos os dias no ano. Tem que abrir o estacionamento, fazer show, enfim... Hoje em dia tem só o Tour e a loja, que são muito pouco para pagar a dívida. Com essa série de ações, de repente mais gente começa a olhar como um local de entretenimento e negócios.
A ideia, então, é dar os CIDs para a Odebrecht negociar?
Esse foi o parecer do Conselho Deliberativo que a gente entende que é o melhor. Tentar negociar com a Odebrecht, dar os CIDs e ela sair do negócio. Temos a informação que a Odebrecht quer sair do negócio, mas ela é a garantidora. Tem um emaranhado gigantesco.
Já tem outra empresa para ser garantidora caso a Odebrecht saia?
Não, não tem nada ainda.
O Allianz Parque, por exemplo, recebe muitos shows, mas está em uma região melhor. Como fazer para atrair para a Arena?
Quando faz um show grande no Allianz, depois tem de reformar gramado, ficar sem jogo... Mas é muito bom, porque ativa camarotes e outras coisas por trás do aluguel para o show. Se não conseguirmos fazer show desse porte, porque é um local distante, é possível fazer shows menores na área do entorno, sem impacto no gramado. Faz shows menos com uma frequência menor. Não vai faturar R$ 1,2 milhão de uma vez, mas se faturar R$ 200 mil já está bom. Dá para ter ações e atividades.
Essa seria a prioridade?
A prioridade é fazer eventos em outros dias. Porque vender ingresso e fazer jogo estamos craques. Podemos melhorar ainda, mas a venda é muito maior que o Pacaembu, por exemplo. Mas não estamos conseguindo as outras ações. Já teve um show de rap (Festival das Ruas) lá fora, não sei quanto faturou, se foi bom ou não, mas dá para fazer. Em vez de fazer cinco shows grandes por ano e interditar o estádio por um tempo, às vezes é melhor fazer dez shows menores no entorno.
Teve um pedido para o Andrés não falar em nome da Arena. Muita gente fala que a Odebrecht só senta com ele...
Por isso que eu falo que precisa de gente nova, que não conheça ninguém da Odebrecht, mesmo que ela já tenha mudado também. Mas tem de ser gente diferente.
Então não pretende consultar o Andrés?
Consultar é natural, até porque é membro do Cori (Conselho de Orientação), ex-presidente e conselheiro, vai dar os pitacos dele. Mas consultar formalmente, não. Bate papo como vai ter com outros conselheiros.
A ideia é criar uma comissão?
Eu vou cuidar disso no primeiro momento. Depois vamos colocar mais executivos. Claro que com assessoria jurídica, mas eu que vou estar à frente disso. Depois a ideia nossa é ter um executivo de mercado.
Vai cuidar até do naming rights?
Eu que sou o presidente, então tudo vai passar por mim, mas naming rights ou qualquer outro show vai passar pelo departamento de marketing. Vamos equipar um departamente que cuide dessa área de eventos. Não sei se vai ser um executivo ou uma agência, mas vamos sentar para resolver isso. O que tem hoje não está funcionando, precisamos de uma situação diferente. Em relação ao naming rights, foi vendido ao corintiano uma ideia fora da realidade. Não foi feito com nenhum estudo falando que vale. Poderia ter sido vendido (por R$ 400 milhões)? Sim. Assim como podemos vender. Mas o estudo é que essa propriedade não vale, não tem esse valor. Tirando os Estados Unidos, que é um mercado que já está estabelecido nessa questão. Mas na Europa também não chega a esse valor. E tem outra coisa: com todo esse negócio de Odebrecht, escândalo, etc, quem vai dar R$ 20 milhões por ano com o estádio em volta dessa nuvem. É muito difícil um clube brasileiro ter um aporte por 20 anos de uma mesma empresa. Que empresa que tem 20 anos de vida para apostar nisso? Você começa a ver e não tem. Tem bancos e seguradoras praticamente. Nos Estados Unidos, se você for ver, são empresas de correio, companhia aérea, energia e telefonia.
E sobre patrocínio no uniforme?
É a mesma coisa. A partir do momento que você trabalhar a gestão, mais gente vai querer patrocinar. Hoje em dia são empresas pequenas ou médias, que não estão acostumadas a investir no esporte. Por quê? Porque olha e fala que não tem credibilidade. É preciso mudar.
O que precisa ser feito no Parque São Jorge?
As reclamações que temos são sobre manutenção, limpeza e reforma. Cada departamento tem uma demanda. O mais necessário é ação voltada a mulheres e crianças. Hoje não tem wi-fi no clube, e é uma coisa barata. Fazer uma área de lazer de crianças e adolescente com internet e jogos eletrônicos, algo nesse sentido. Também reclamam de atividades para crianças em área coberta, porque se chove não tem nada. E também ter mais atividades e serviços a mulheres. Isso são coisas mais simples. Tem outras mais complexas, como reformar a sauna e piscina, são obras mais pesadas. Teria de depender do orçamento.
Como vê o contrato com a Omni? Acha que tem de continuar administrando o estacionamento da Arena, o que muita gente reclama?
O estacionamento não tem muito sentido, mas há contratos em vigor, tem multas que imagino que são altíssimas. Tem que ser visto com muito cuidado. os dados mostram que a balança comercial da relação está muito desfavorável ao clube. Temos de rever esse contrato. São varios contratos que precisam ser revistos, e esse é um deles. Vamos olhar para ver onde pode cortar e melhorar. Esse gera mais críticas, vamos olhar com cuidado.
Qual papel das mulheres na sua gestão?
Número de mulheres votantes é muito pouco. Parece que o índice é só de 6% de mulheres votantes, muito pouco. Tem duas chapinhas que nos apoiam que tem quatro de 25, número bem maior que esses 6%, mas é pouco mesmo. O papel na nossa gestão será normal, vão participar de igual para igual, sem problema.
Tem alguma ideia de inclusão?
Inclusão artificial, não. Acho que tem de ser o mais natural possível. Elas querendo participar, vão participar.
Como atrair mais sócios?
Esse número de 6% é meio artificial para falar de mulheres sócios porque normalmente no título familiar só vota o titular. E normalmente é o marido. Tem poucos casos que a mulher é a titular e o marido o dependente. Tem uma discussão para mulher e marido votarem. Seria uma forma de ampliar o colégio eleitoral e acabaria dando mais voz às mulheres. Mas isso não depende do presidente, depende de reforma do estatuto. Da minha parte vejo como boa, mas não é um negócio tão simples. Para ter novos sócios, pretendemos fazer campanha para atrair, trazer mais os sócios aos clubes. Uma das questões também é criar uma categoria do sócio-torcedor para o sócio do clube. Isso vai depender de estudo. Mas o sócio do clube hoje em dia reclama que não consegue ter acesso aos ingressos. Tem que pagar duas coisas diferentes, o clube e o sócio-torcedor. Daí teria o movimento inverso: o cara poderia virar sócio do clube para ter acesso aos ingressos.
Como vê a relação com torcidas organizadas?
Sei que tem uma relação institucional, transparente e sem privilégio. Não tem problema conversar. Tem conselheiro que vai conversar e é mais agressivo. Eles, como organizada ou não, têm o direito. Mas sem privilégio e sem esconder nada, tudo transparente. E claro: sem violência, com as partes se respeitando.
Gostaríamos que você comentasse sobre a candidatura de cada um de seus concorrentes.
Não quero comentar. Acho que essa avaliação tem de ser feita pelos eleitores. Tenho bom relacionamento com todos eles. De repente fala algo e fica chateado, é um tipo de discussão dentro do clube que não quero entrar.
Quem é o principal concorrente?
É o Andrés, é o adversário a ser batido.
Qual a primeira coisa que vai fazer se for eleito?
Cachaça! (risos) É trabalhar mesmo. Acho que vou comemorar com as pessoas que estiverem em volta, talvez chorar de alegria, e na sequência já vai vir um monte de colega de vocês. Então acho que a primeira coisa é comemorar e depois dar entrevista (risos).
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