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Lugano prepara mandamentos e diz: 'Todos temem que o São Paulo reaja'

30/01/2018 16h12

Menos de dois meses após fazer seu último jogo como profissional, em 3 de dezembro, Lugano reapareceu no CT da Barra Funda para ser apresentado como superintendente de relações institucionais do São Paulo. O ídolo terá a função de difundir os valores do clube internamente e e também externamente e já enxerga temor nos rivais pelo fortalecimento institucional do Tricolor.

- Você precisa fazer as coisas bem todo dia. Resultado chega. Pode perder título por detalhe, mas resultado aparece. São Paulo está se consolidando, com problemas financeiros que todos têm. Se ficar forte internamente, São Paulo é grande. Todos têm medo que o São Paulo reaja e recupere a hegemonia no Brasil e na América do Sul. Para isso, você precisa mudar essência, dia a dia, coisas invisíveis aos olhos de vocês para fazer diferença

O ex-zagueiro não participará com frequência do cotidiano do time. Na próxima semana, deve embarcar com a equipe sub-20 para representar o clube na disputa da Libertadores da categoria. Junto com ele, vão os mandamentos que ele ainda mantém como mistério, mas que acostumou-se a distribuir a colegas nos últimos anos e que serão base para seu trabalho como dirigente.

- São coisas íntimas, de grupo, elenco, para jovens e cidadãos, antes de jogadores, sendo alguns mandamentos mais pesados do que outros. Não quero torná-los públicos. Mas vai no contexto do que imagino que o São Paulo deve, e todo clube deveria, apoiar jogadores para que reflitam, sejam, antes de tudo, cidadãos informados na medida do possível. No futebol de hoje, precisa ter mais informações do que há 15 anos. Se não vira grande profissional, vira grande cidadão. Essa é a minha imaginação macro, é a minha maneira de sentir e pensar futebol - explicou, na expectativa de ser ouvido pelos atletas.

- Um grande desafio seria conseguir que todos os jogadores, os que já estão aqui e chegam, saibam o que representa essa instituição, que não é ser só campeão sempre, mas conduta profissional, respeito à torcida e ao mundo do futebol. Isso faz o perfil de grandes times do mundo, diferenciados, como sempre foi São Paulo. Talvez, nos últimos anos, esqueceram essa origem pelos resultados, e esse é o nosso maior problema. Nossa missão é reviver isso e tomara que, internamente, consigamos consolidar. Para fora, como ano passado viram, um ano complicado, e a torcida acompanhou o time. Houve essa ligação, torcida viu que, apesar dos resultados, havia esforço, sofrimento. Essa nobreza, lealdade, crítica, deve acontecer sempre, esse respeito seja cada dia mais forte. O principal para qualquer time é ter bons resultados e se manter em patamar de êxito.

Confira outros temas abordados por Lugano ao falar como dirigente:

Assumir novo cargo

Obviamente, estou muito feliz e orgulhoso pelo reconhecimento e oportunidade. Praticamente, reinicio minha vida no futebol. Para qualquer jogador, é um passo difícil, mas, com a motivação e exigência que me brindam, está responsabilidade e a confiança que o São Paulo me dá, de ser representante de um time com essa história, que representa o melhor da sociedade brasileira e sul-americana. Essa relação começou há 16 anos, com vínculo muito especial, além da bola, de ganhar, perder, jogar bem ou jogar mal. Compartilhamos valores, como enxergar a vida, o futebol, a instituição como tudo que deveria oferecer ao torcedor e à sociedade, algo muito mais profundo do que simplesmente um resultado esportivo. Essa sempre foi a minha mentalidade e tentarei implementar as ideias que já trazia como jogador, essa ligação com torcida, jogadores, funcionários, meninos da base. Que o São Paulo crie grandes cidadãos e façam coisas importantes. Esse é meu sonho, devaneio, por isso aceitei rapidamente e com muita convicção. Agora é abaixar a terra e ver as ideias malucas que tinha como jogador para funcionar.

Estar no cotidiano do time

Já falei com Raí e Leco. Estou muito fresco com o que é vestiário e dia a dia do São Paulo. Mas a prioridade é outra. Por exemplo: na semana que vem, serei mais útil representando o time na Libertadores sub-20, no Uruguai. Minha presença no CT não será diária, nem nos vestiários, mas de acordo com imposições e ideia do que precisarem de mim.

Vai puxar orelha de jogadores?

Isso é muito mítico de puxar orelha, bater. Futebol mudou, tem outro jeito de chegar no jogador. Conheço meninos, tenho função diferente. cada pessoa precisa de um contexto. Tampouco falo que nunca vai acontecer. Mas não é o que acontece hoje no vestiário. O diálogo, a preocupação e contexto são mais importantes.

Lidar com jogadores

A melhor forma de agregar valores é com exemplos. Palavras são fáceis, o vento leva. Com atitudes pequenas, você impõe princípios. Futebol mudou muito e está cada vez mais difícil, cada jogador é uma empresa que movimenta muita gente que não está no clube, com valores exorbitantes. Gerir São Paulo, com atletas muito novos, é quase impossível fazer com perfeição, cada um com sua influência e visão de mundo. No vestiário, sempre vi isso, vimos grupos mudarem, se transformarem. Por isso, é o diferencial que temos. Essa vivência de quase duas décadas, isso não se estuda nem se aprende em cursos online, isso se vive. Isso podemos transmitir. Porém, hoje, temos muito a aprender, visualizar o macro institucional. Esse é o maior desafio, unir minha visão como jogador e a visão institucional.

Aceitar o convite

Tinha proposta para jogar na Ásia, e minha família falou: chega de viajar pelo mundo. São Paulo, a cidade e o clube, nos têm muito respeito e carinho. Isso fecha tudo. Uma função muito espontânea no São Paulo, a minha cara, muito natural, e continuar a vida na cidade, com meus filhos estudando aqui, minha mulher feliz. Minha vida foi se desenhando aqui. Estou muito feliz e orgulhoso.

Últimos anos no São Paulo

Você se faz forte de dentro para fora. Internamente, no ano passado, teve mudanças, aprimoramentos, adquirindo tecnologias, profissionais de alta capacidade em todas as áreas, jogadores chegando com perfil mais 'São Paulo', instituições históricas que contribuem. Tudo isso alimenta a acreditar em futuro promissor.

Inspirações

Hoje, meus espelhos são Roberto Carlos e Butragueño. Lá fora, é comum jogadores com essas funções. Tem no Chile, Argentina. É uma área que se abre para vários jogadores, mas, antes, precisa ter relacionamento natural com clube. Compartilhar pensamento, São Paulo tem a sorte de ter jogador que se identifica, tudo fica mais fácil, naturalmente.

Aprender português

Eu me comprometi a estudar português. Nos últimos anos, com tanto gringo, meu portunhol se fez mais forte. Presidente não me entende. E olha que tenho 15 anos no Brasil e, no Fenerbahce e no PSG, só convivi com brazucas. Mas era tanto gringo que você se conforma com portunhol fraco. Mas muita coisa era melhor que não me entendessem. E me comprometi com presidente e publicamente a melhorar mesmo.

Documentário sobre ele feito pelo São Paulo

Não vi. Minha família e meus amigos ficaram emocionados e orgulhosos. Mas não vi. Já disse desculpa e obrigado. Não penso em ver por um longo tempo. Não quero me emocionar.

Fracassos recentes do time em mata-mata

As estatísticas são claras, há coisas para corrigir, há uma autocrítica que a instituição faz. Estatísticas preocupam. É por isso que o São Paulo está se reerguendo e tentando encontrar explicações. Mas não é o momento de detalhar isso.

Lembranças da coletiva de apresentação como jogador, em 2002

Lembro da minha primeira coletiva. Jornalistas falavam por mim, e geralmente mal, não me lembro de ter escutado elogio, por isso fiquei constrangido e falei pouco. Hoje, 15 anos depois, inicio nova etapa da vida. Cheio de ilusões e expectativas como em 2002, com a mesma vontade de fazer bem as coisas, de me dedicar ao clube, e também com muitas dúvidas, vislumbres, como vou me sentir emocionalmente, é uma aposta que fazemos. Tem muita coisa similar. Só que hoje falam melhor de mim. É a grande diferença.

Jogadores que deixaram o São Paulo recentemente

A saída de jogador foi o que mais me preocupou internamente. É uma realidade. Agora, me preocupa ainda mais. Preciso encontrar a maneira para que o jogador volte a considerar o São Paulo o time ideal para jogar, ser feliz, para ter algo positivo, recompensa econômica. É um desafio. Hoje tem muita concorrência, mesmo dentro do Brasil, e não dá para competir com exterior. Um menino hoje de Cotia, com 15 anos, como em Peñarol ou Boca, não sonha com São Paulo, Flamengo, Boca ou Peñarol, sonha com Europa. Sabendo disso, tentamos fazer com que jogador tenha sentimento por uma torcida exigente como a do São Paulo, mas que também é leal e fiel. É um tema muito amplo, não teremos tempo para debater agora.