Jefferson, o tempo e o filho que não tenho
Oi, tudo bem? Por aqui são 2h02 da madrugada. Tô no meu horário, mas é o dia de ontem que me faz escrever.
É que ontem, cara, eu vi o tempo passar. Provavelmente, quando você entender essas palavras terá seus dez, 15 anos, e eu já terei bem mais que as quase três décadas de hoje.
Ontem, dia 29 de janeiro, o Jefferson disse que vai parar. Foi num programa de tv, o papo chegou num ponto tal e ele cuspiu que estava chegando a hora. Ele falou uns troços de foco, de cabeça... mas é o tempo. Ele é implacável.
O tempo chegou, pediu outras coisas pro sujeito e ele, sem perceber, me fez pensar no tal do tempo também.
Fez pensar no tempo em que ele era um garoto e venceu. Fez pensar no tempo em que ele era garoto e errou feio. No tempo em que ele se mudou e venceu, e venceu e venceu.
Do lado de cá, a gente que gosta de bola acompanha as histórias dos personagens e cria empatia por um ou por outro, mesmo a milhas de distância.
Aquilo me fez pensar no meu tempo também. No tempo que dediquei a algumas coisas e não a outras. No tempo em que a minha irmã - a sua tia - era viva, e o que eu podia ter vivido a mais com ela.
Você pode estar achando meio exagerado, mas quando ele falou em parar de dar alegria para o grande público, ele disse também que precisava dar atenção - precisava dar mais tempo - aos mais próximos. À família. Aos amigos.
E olha que é um cara bem de grana. Um cara que poderia muito mais do que já tem e fez na profissão. Mas ele ouviu o tempo.
Pro Jefferson já deu de bola, luva, chute, pulo, treino, jogo, vitória, derrota, cair, levantar. Em todos os sentidos.
O tempo viu ele cair longe de casa e se levantar em casa.
O tempo viu o Jefferson segurar barras que não precisava.
O tempo fez ele ser coadjuvante várias vezes em que o mérito era de protagonista.
O tempo maltratou o Jefferson. Imagina você: o que você mais gosta de fazer? Tenta fica mais de um ano sem. Imaginou? Eu não consigo me imaginar. Mas ele se recuperou da lesão e voltou como herói.
Talvez ele não tenha acertado nas escolhas, nas decisões que tomou algumas vezes. Só que isso é o próprio tempo quem há de dizer.
O Jefferson é aquele cara que pegou pênalti do Messi! É, do Messi. O cara fazia cada defesa... todo mundo sabia o tamanho do problema que era enfrentá-lo. Torcedores de todos os times queriam tê-lo.
Esse mesmo tempo vai botar este camisa 1 num lugar bem nobre da história, você vai ver. Aliás, você já deve saber.
Mas qualquer hora eu te levo pra gente tomar um café com ele.
*Felippe Rocha é setorista do Botafogo desde janeiro de 2016.
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