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Luiz Gomes: 'O final da história não poderia ser outro'

22/12/2017 18h03

O homem rico, que não precisava cobrar propinas, como foi apresentado ao juri da corte de Nova York por seus advogados de defesa, corre o risco de passar o resto de seus dias atrás das grades.

José Maria Marin sempre esteve ao lado dos poderosos. Seja na política ou no esporte. Faz parte de uma geração que entrou na vida pública para servir-se e não para servir. Nunca foi protagonista, mas um coadjuvante insosso que mesmo quando chegou a cargos de ponta, como o governo de São Paulo ou a presidência da CBF o fez não por seus méritos, mas como simples objeto de manutenção do status quo, dos interesses em boa parte escusos dos grupos que representava. Isso o torna ainda mais desprezível.

Sim, é verdade que ele é um homem rico. É verdade que não precisava cobrar propinas. É verdade, até, como também alegaram seus defensores, que foi uma espécie de rainha da Inglaterra no comando da CBF. A única mentira, como reconheceram os jurados, é que nessa condição tenha sido um inocente útil. Não, não foi. Sempre soube e muito bem o que estava fazendo, sempre aproveitou-se fartamente das benesses e dos privilégios do poder. Sempre trafegou com desenvoltura pelo submundo mais podre do futebol. Como, antes, o fez na política.

Terá valido à pena seguir esse caminho? Escolher seus aliados e a eles submeter-se?

Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira, indiciados nos EUA pelos mesmos sete crimes que o levaram a ser condenado, estão exilados no Brasil de onde não saem com medo de ser preso. Mas tem mais. Do milionário apartamento da Trump Tower, onde cumpre prisão domiciliar e vai aguardar a publicação de sua sentença, o ex-chefão do futebol brasileiro certamente acompanhou a prisão de Paulo Maluf. Marin foi escudeiro de Maluf por boa parte da vida, e é irônico que encontrem agora, octogenários, o mesmo destino. Por mais que ele não imaginasse, que tenha cultivado por toda a vida a certeza da impunidade, o final da história não poderia ser outro.