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'Bom dia, tricampeões!': relembre passagens do Profeta no São Paulo

19/07/2017 14h45

Hernanes conquistou a torcida do São Paulo com grandes lances, gols e dois títulos Brasileiros, em 2007 e 2008. No entanto, o jogador cujo retorno ao clube foi anunciado nesta quarta-feira também ficou conhecido pelo seu jeito peculiar fora do campo. Dono de um perfil incomum entre os atletas de futebol, o meia é sedento por inovações. Ao longo da carreira, desenvolveu técnicas de treinamentos que incluíram a contratação de um cientista da bola. Auto-didata, pegou gosto por aprender idiomas sem a ajuda de professores. Confira abaixo algumas passagens, atitudes e características do atleta que ajudam a explicar seu perfil diferenciado e por que profissionais do clube têm saudade dele até hoje.

"Bom dia, tricampeões!" - A profecia

Em 2008, o São Paulo teve a conquista mais difícil do tricampeonato brasileiro. Com um começo ruim após nova eliminação na Libertadores, o Tricolor virou o turno com 11 pontos atrás do líder Grêmio. Na época, matemáticos chegaram a apontar 1% de chance de título para o Tricolor. Parecia o fim da hegemonia. Não para Hernanes. Conhecido como um otimista de primeira, o jogador aplicou um método para motivar seus companheiros. Quando todos estavam desacreditados, ele chegava ao CT para treinar e cumprimentava um por um assim: "Bom dia, tricampeões!". Foi marcante e virou símbolo da conquista. O São Paulo ficou 18 jogos sem perder, superou o Grêmio e conquistou o Tri. Hernanes acabou sendo escolhido o melhor jogador da competição. E ganhou o apelido de Profeta, também pelas suas frases filosóficas e, para alguns, enigmáticas.

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Métodos de aprendizado

Hernanes é um auto-didata. Ou seja, tem facilidade para aprender as coisas sozinho. Ele conta que quando criança, durante seus primeiros passos no futebol, passou a dominar e chutar apenas com a perna esquerda. Era destro. Assim, desenvolveu a ambidestria, marca que o acompanha até hoje. Mas os métodos para adquirir conhecimento vão muito além e sempre arrancava risos de quem foi testemunha.

Um companheiro de concentração do jogador nos tempos do São Paulo contou que ele tinha hábito de jogar uma moeda no chão para encontrá-la depois. Detalhe: com a luz do quarto apagada. Segundo Hernanes, o exercício servia para aguçar os sentidos, a percepção, noção de espaço. Neste ponto, também tenta escrever com o pé. Grudava uma caneta entre os dedos e, sentado, arriscava-se à escrita.

No campo, a mesma coisa. Era comum ver o jogador no CT fazendo alguma atividade diferente com a bola. Certa vez, pediu a um dos profissionais de imprensa do São Paulo para acompanhar seu treinamento com uma câmera. A recomendação: filmar apenas o pé, enquanto o volante cobrava faltas. A cada batida, Hernanes conferia o posicionamento do seu pé no momento exato do chute. Para atender o pedido, o profissional da câmera muitas vezes tinha de fazer as imagens deitado no gramado do CT.

O cientista

Hernanes chegou à base do São Paulo por volta de 2001. Nessa época, conheceu um profissional que o acompanharia por muitos anos. Era J. Alves, um técnico que acreditava ser possível desenvolver o futebol de forma puramente científica e filosófica. Hernanes costumava chamar o amigo de cientista da bola, termo que Alves, talvez por modéstia, rejeitava. O treinador retirava métodos de treinamentos para Hernanes de livros, sobre coordenação motora ou visão periférica, por exemplo. A ligação era tamanha que, quando deixou o Brasil para jogar na Lazio (ITA), o meia seguiu se consultando com o amigo. Eles conversavam por Skype.

- Isso é um projeto que comecei a buscar: ser um jogador completo. Comecei isso com um amigo cientista. E queria ser completo como? Marcando e fazendo desarmes, como sempre fiz, e crescendo no número de assistências e gols. Mantenho minha média de 3 a 4 desarmes por jogo, e cresci nos outros fundamentos. Em 2007 fiz 5 gols e uma assistência, e hoje eu cresci graças a esse trabalho, aprendi a ser completo - explicou Hernanes, em entrevista em 2010.

A amizade com Jean, hoje 'rival'

?Uma outra cena marcante da passagem anterior de Hernanes pelo São Paulo foi sua relação o também volante Jean. Os dois viviam juntos no CT da Barra Funda. Não se desgrudavam. Além das afinidades e da amizade, a dupla achava que a união ajudava no entrosamento dentro de campo. Hernanes costumava dizer que se você passa muito tempo no convívio de outra pessoa, você passa a ser ela. Jean era mais jovem, também vinha da base e ouvia conselhos do amigo mais velho. Juntos, formaram a dupla de volantes campeã brasileira em 2008. Jogaram demais.

Agora, os dois estarão divididos entre muros. Jean atualmente joga no Palmeiras, arquirrival do Tricolor. As famílias, que sempre foram muito próximas, estarão em torcidas diferentes. Fica a amizade.