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Uruguai x Brasil no Centenário vale muito mais do que um jogo

23/03/2017 06h40

Um dos principais clássicos sul-americanos, líder e vice-líder das Eliminatórias para a Copa 2018, estádio lotado... Tradição! O Uruguai e Brasil desta quinta-feira, no Estádio Centenário, em Montevidéu, às 20h (horário de Brasília), ?é por si só um jogo especial. No entanto, outros tantos componentes elevam o duelo a patamares além das quatro linhas. Há muito mais do que três pontos em jogo nesta noite.

Do lado brasileiro, uma vitória significa o carimbo no passaporte para a Rússia, de acordo com as contas do técnico Tite. Desde 2002, nenhuma seleção ficou fora do Mundial atingindo 30 pontos, como o Brasil alcançaria triunfando em Montevidéu. A iminência da vaga, que já está encaminhada, selaria ainda mais a grande fase da Seleção, que vem de seis vitórias consecutivas, todas desde que Tite assumiu.

Mas batalha mais árdua vivem os uruguaios. Por trás da seleção que tentará fazer frente a Neymar, Firmino e Cia. em casa, acontece uma guerra de proporções pouco vistas no futebol. Há tempos, nossos vizinhos batem de frente com as autoridades futebolísticas de seu país pelo direito de ter mais direitos.

A briga é complexa. Um dos linhas de frente nem sequer estará em campo. É Diego Lugano, zagueiro do São Paulo e capitão da Celeste até a Copa de 2014. Respeitado por todos no homogêneo grupo de Oscar Tabarez, o defensor age para acabar com o monopólio que domina o futebol uruguaio há tempos, seja nos direitos de televisão e patrocínios para a seleção.

Um episódio sobre o fornecimento de material esportivo para a Celeste simboliza a luta. No ano passado, os próprios jogadores levaram à AUF (Associação uruguaia de futebol) uma proposta da Nike para substituir a Puma. A oferta da gigante norte-americana teria sido de cinco vezes maior do que a atual. No entanto, ainda assim, a entidade máxima do futebol não levou as conversas para frente e preferiu renovar com a Puma, de acordo com os atletas.

O motivo, para os líderes uruguaios, entre eles Suárez e Cavani, é claro: a AUF tem rabo preso com a Tanfield, empresa que intermedia os negócios da seleção há 18 anos. Esse grupo seria comandado por um empresário que também encontra suporte nos clubes, fator que dificulta a luta dos selecionáveis.

Nos últimos dias, os jogadores comemoram um avanço nas conversas com a AUF e a Puma. Diante de ameaças, empresa e entidade se mostraram mais flexíveis. Também pudera: uma das atitudes que o grupo pretendia tomar era de esconder os logos da Puma com esparadrapo no jogo desta noite contra o Brasil. Seria uma vergonha internacional para a empresa alemã, algo sem muitos precedentes na história do futebol.

Os jogadores já ameaçaram fazer greve e prometem lutar até o fim. No meio da briga, alguns deles precisam conviver com ameaças e grampos telefônicos. Reforçam a segurança pessoal e tomam cuidado quando estão em locais públicos, seja onde for. A torcida, com os bons resultados, apoia. Mas eles sabem que só com bons resultados poderão ter forças para seguir em frente.

- É uma briga incrível, sem comparação, porque nós lutamos para ter o melhor para todos. A AUF ganharia, os clubes ganhariam, as empresas ganhariam e os jogadores ganhariam. Seria melhor para todos, mas mesmo assim não anda. Incrível - afirma Lugano, com ar de revolta.

Uruguai e Brasil está longe de ser apenas um jogo de três pontos. Nunca é só futebol.