O crescimento dos sem-time
Qual o seu time do coração? Uma pergunta simples, ainda mais quando feita no Brasil, rotulado há décadas como o país do futebol. Certo? Errado!
A cada nova pesquisa feita sobre o tamanho das torcidas aumenta consideravelmente o número de respostas: "Não torço para nenhum". Na segunda-feira, o Datafolha revelou os dados da pesquisa realizada apenas em São Paulo, entre os dias 8 e 9 de fevereiro. 24% dos 1.092 entrevistados disseram não ter time preferido, ficando atrás apenas do Corinthians. Revisitando as últimas três edições da Pesquisa LANCE!Ibope, a curva de crescimento dos sem-time é reveladora. Em 2004, 21,4% dos entrevistados, neste caso em todo o Brasil, disseram não torcer para clube algum. Dez anos depois, o número, novamente nacional, chegou a 23,4%.
O colunista Luiz Fernando Gomes foi cirúrgico no LANCE! Espresso distribuído nesta terça-feira: "É óbvio que há algo de errado no país do futebol. Nossas crianças têm medo de sair à rua com a camisa do seu time - usam as do Barça e do Real. Toda semana brigas ocupam o noticiário, já não se formam mais ídolos como antigamente - aqueles que passavam anos no clube e com quem os garotos se identificavam - sem falar nas mazelas da organização, num calendário retrógrado, nos horários proibitivos de jogos. Tudo isso contribui para esse número triste. Mas, tão impressionante quanto o resultado é a inércia da CBF do governo e, porque não dos clubes, em cuidar do seu produto e enfrentar uma tragédia anunciada".
É um bom resumo para iniciar a discussão. Tenho dois filhos em casa, com 10 e 8 anos. Semanalmente, eles se encontram com os amigos e as amigas do condomínio para o "Futesunday". E maioria esmagadora veste camisas de clubes europeus e não apenas dos gigantes midiáticos. Há espaço para PSG (FRA), Borussia Dortmund (ALE), Roma (ITA), Atlético de Madrid (ESP). Nem sequer a Alemanha, aquela do 7 a 1 sobre o Brasil, passa em branco.
Na primeira vez que os levei a um estádio, anos atrás, não permiti que eles vestissem a camisa do clube do coração. Elas foram dentro da mochila. Medo de pai, um jornalista com quase 20 anos de cobertura esportiva. E aquela pergunta difícil de responder para uma criança: "Qual o problema, pai? É só uma camisa". Infelizmente vestir as cores do seu time, muitas vezes, expõe o verdadeiro torcedor à fúria de vândalos e marginais, aqueles que se julgam mais fortes e mais torcedores por estarem em grupos uniformizados.
Tempos depois eles viram pela TV brigas em estádios. Ficaram em silêncio antes de perguntarem novamente: "Qual é o problema, pai? É só um jogo". Deveria ser. Aqui, na Espanha, na Inglaterra, na Groenlândia. Mas infelizmente já deixou de ser faz tempo. Existem partidas quase proibidas para o torcedor de bem. Vide a decisão polêmica de torcida única em clássicos paulistas, em discussão agora no Rio de Janeiro. Para mim, uma vitória da violência.
Thiago e Luca formam a geração de futuros entrevistados nas pesquisas. Crianças que gostam, praticam e acompanham futebol. Logo serão adolescentes. E torço para que, caso sejam abordados um dia por Datafolha ou Ibope, não aumentem a torcida pelos sem-time.
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