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Carille revela conversas com Tite e trabalha por reforços no Corinthians

Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians
Imagem: Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians

27/12/2016 06h25

Fabio Carille tem vivido dias intensos. Anunciado como novo técnico do Corinthians na última semana, ele se reuniu com a diretoria na quinta e na sexta-feira e, mesmo de férias, no interior de São Paulo, tem falado todos os dias por diversas vezes ao telefone com o gerente de futebol, Alessandro Nunes. Neste período, além de celebrar o Natal com a família, foi à formatura de sua filha e ainda teve tempo de conversar com nada menos do que Tite, treinador da Seleção e seu principal mentor.

A correria faz com que o comandante alvinegro mal tenha tempo de aproveitar as férias, mas ele parece não se importar com isso. Pelo contrário. O entusiamos de Carille é tanto que ele revela já estar quebrando a cabeça pensando na equipe que montará para 2017.

Em meio a trabalhos e festejos, o treinador abriu espaço na agenda e concedeu entrevista exclusiva ao LANCE!. Ele contou o que projeta para a próxima temporada, falou sobre reforços e mandou um recado à Fiel torcida. Confira abaixo:

Você foi o técnico que teve melhor aproveitamento depois da saída do Tite, com 54% dos pontos ganhos. Isso te dá confiança para assumir o time?

Com certeza, ainda mais porque houve uma avaliação do período em que trabalhei, não chegaram e falaram "fica aí e vamos ver". Gostaram do período que fui técnico. Se acertou ou errou ao contratar outros, isso já foi. O que importa é que a diretoria discutiu o meu nome, e ele foi consenso. Chego fortalecido para desenvolver meu trabalho à frente do Corinthians.

Imagino que, mesmo de férias, você deve estar montando opções para o time na sua mente.

Normalmente já é assim, agora ainda mais depois de ser anunciado como técnico e sabendo da responsabilidade. A cabeça não para vendo nomes que podem chegar também. Mas na hora que fechar os reforços mesmo que começo a trabalhar. Temos de ter tudo preparado para acelerarmos o processo durante a pré-temporada.

Você já tem ideia de como a equipe jogará? Esquema tático, modelo de jogo, escalação...

Penso em linha de trabalho, treinar repetições, essas coisas. Falar como vai jogar depende das peças que vão chegar para ver as características dos jogadores e traçar estratégia. Gosto muito do 4-1-4-1, 4-2-3-1... Penso em ter dois homens abertos no ataque, independentemente do sistema. Costumo dizer que não tem sistema ruim. O São Paulo foi campeão do mundo com três zagueiros, a Holanda fez uma baita Copa assim também. Mas eu gosto de linha de quatro na defesa. Vamos esperar. Às vezes, na pré-temporada, descobrimos que o time rende mais em outro sistema, como foi conosco no ano passado.

Então isso ainda depende dos reforços que vão chegar? Ou tem a ver também com sua comissão?

Sim, preciso ver característica de cada um. O Cuca, meu auxiliar, trabalhou no Vila Nova e em outros clubes, sei bem o que passa na cabeça dele, pois falávamos quase diariamente. A questão são os jogadores. Aí veremos se será um time que pode pressionar, rodar a bola, se o ataque vai ser pesado ou leve...Espero que possamos atacar logo de cara em treinamentos por setores, em conjunto, parte defensiva, de conclusão... Fico com essa ansiedade. Temos uma ideia, mas nada definido. Preciso também trabalhar com um plano B.

E aí com o tempo vem o plano C, D, outras alternativas?

Na verdade não gosto de muitas alternativas, mudo característica dentro de uma forma de jogo definida, mas só uma ou duas. Por exemplo: você tem meia armador do lado, daqui a pouco põe agudo e passa a articulação por dentro. Gosto que com o tempo o time jogue sem pensar, saia tabela sem precisar olhar, entende? Se muda sistema, fica difícil. Isso vale muito na bola parada. Tem que ter um jeito e colocar como padrão, assim facilita nas substituições também.

E você participa dessa busca por reforços ou deixa com a direção?

Com certeza. Desde o momento em que recebi o convite, por volta das 11h45 de quinta-feira, passamos a conversar. No primeiro momento falamos das posições, depois já tínhamos alguns nomes em vista. Estou participando de tudo, por dentro. Quando chegam nomes para o Alessandro ele me liga e buscamos informações juntos. Estou cada vez mais integrado ao planejamento.

Você também age para tentar segurar jogadores? O Marlone, por exemplo, tem proposta. Você pretende conversar com ele?

Não tive essa experiência ainda, mas é meio que normal você ligar. A questão é que o jogador senta com a família e vê o que é melhor para ele. Cada um tem seus objetivos. Isso ficou claro ano passado, com as propostas da China. Sabemos que dólar e euro estão valorizados, isso dificulta até para trazer jogador também. Mas no caso do Marlone não foi bom para o clube pelo que vi. Se for uma coisa interessante para o Corinthians, talvez eu não tenha nem que procurar o atleta, mas sim o clube, para não deixar fechar. Depende de cada caso.

Além de reforços, você deve discutir com a diretoria o aproveitamento dos atletas que voltam de empréstimo. O Mendoza está nos seus planos?

Gosto dele, é um jogador que tem capacidade grande, mas é uma posição que nosso elenco está cheio, até esperando para ver se aparecem novas oportunidades no mercado. Temos que esperar para ver os jogadores que podem chegar.

O que você pode dizer sobre a busca por reforços e o interesse no Kazim, atacante do Coritiba?

Acompanhamos Kazim desde o futebol turco e gostamos dele porque joga nas três posições da frente. Buscamos reforços para várias posições, cerca de quatro ou cinco nomes para qualificar o elenco.

A sua ideia é de trabalhar com quantos jogadores no elenco?

Mais ou menos 28 jogadores, quatro goleiros e 24 de linha. Se tiver problema, busca mais na base. Ainda mais contando que não estaremos na Libertadores, com viagens longas. Lá na frente, quando começar a Sul-Americana, podemos encorpar mais o elenco. Passar de 30 eu não quero.

Aproveitando que você mencionou os goleiros do elenco, o que espera da disputa entre Cássio e Walter? É possível administrar os dois no elenco?

Sabemos que nossos goleiros têm mercado, sempre se especulou algumas coisas, mas quanto mais jogadores de qualidade, melhor. Se puder ficar com os dois, será ótimo. Quando eu fui técnico houve muitas perguntas sobre quem iria jogar e mantive o Cássio. Ele fez o primeiro jogo comigo, foi para o aquecimento do segundo jogo e machucou, não saiu por deficiência técnica. E essa é uma linha minha de trabalho: se sair por lesão, vai voltar, independentemente da posição. Essa é uma coisa clara na minha cabeça, você tem que criar critérios e ser justos com os atletas.

E quem será titular?

Deixa isso para depois, senão meu telefone não vai parar de tocar (risos).

Você já falou com o Tite depois que foi efetivado como técnico?

Recebi uma mensagem dele logo na quinta-feira, quando fui anunciado. Nos falamos na sexta, sábado... Ele está de ferias, tem que curtir. Mas é claro que em janeiro vamos conversar, sempre falamos bastante. Ele pode ajudar, sim. Nesses dias estamos conversamos rapidamente. É claro que temos uma aproximação grande, foram cinco anos e meio trabalhando juntos, então não tem como você não ouvir um profissional dessa capacidade, por tudo que ele conquistou e por termos essa relação de confiança de um com o outro.

Assim como o Tite, você também se preparou e ainda se prepara bastante para ser técnico. Fale um pouco sobre seu estudo.

Fiz cursos, leio bastante, estou sempre buscando trabalhos na internet, conversando com amigos na Europa. Até falei esses dias com o Felipe, zagueiro do Porto, que é um time que acho organizado defensivamente. Ele me passou trabalhos de lá. Essa é a busca de crescer, nós que trabalhamos nessa área não podemos achar que está tudo bom, temos que ir atrás, ver novidades, quais trabalhos são feitos. Tudo isso é uma busca constante. Quando estou concentrado, fico na internet pesquisando. Há um tempo eu falei também com o Cris, ex-zagueiro que está na Europa. Não paro, sempre tem coisas novas e temos que estar sempre atentos.

Está lendo algo agora?

Esses dias não consegui ver nada de livro, até por conta de estar buscando outras coisas, reforços. Estou preocupado em ficar com meus pais, ja que passamos a maior parte do tempo fora, e também falo com o Alessandro de cinco a sete vezes por dia. Mas a leitura é muito boa. Me ajuda gostar desse lado teórico e ter sido um atleta. Normalmente jogador não liga para isso. Acho importante a prática e a teoria.

Você sempre cita o Tite, mas tem algum outro técnico que te inspira ou alguém com quem você trabalhou e te ensinou muito?

A gente sempre aprende um pouquinho com cada um, mas dois que foram marcantes na minha carreira, lá atrás, em 1996 e 97 foram Antonio Lopes e Sebastião Lazaroni. Para a época, eram muito avançados. Foi ali que aprendi questões táticas, pois cheguei no Paraná sem um base.

O que acha que mais te dará trabalho neste início?

Quero o quanto antes achar o jeito do time jogar, vou bater muito nessa tecla no início, vai ser o grande quebra-cabeça. Isso é fundamental para os primeiros dias ter uma ideia, até para não perder tempo. A pré-temporada é curta, então não posso fazer experiências. Mas os jogadores que estão no elenco eu conheço e os que vão chegar eu também tenho informações.

O que tem sentido da torcida? A recepção foi boa?

Tem sido bastante positivo, estou lendo algumas coisas, não muito, mas na rua também tem tido apoio. Até na formatura da minha filha teve gente falando, aqui no interior, por eu ser da cidade, está sendo muito positivo. Estou até surpreso pelo tamanho da aceitação, tanto interna quanto externa, isso passa confiança e me motiva mais a trabalhar.

Por fim, deixe um recado à torcida.

Torcedor corintiano pode esperar uma equipe organizada, de muita entrega, que é a marca do Corinthians. Espero que todos tenham um 2017 abençoado, que confiem no trabalho. Ele vai ser intenso e de todos os departamentos para fazermos a equipe jogar bem o quanto antes. É preciso que o torcedor confie, a força da torcida é muito grande e nesse inicio vamos precisar. Peço que venha para apoiar, quem está no campo sabe do calor que é quando a torcida vem para apoiar. É um 12º jogador!

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