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'Dá para fazer futebol assim?', pergunta cartola do pior time em 2016

26/10/2016 08h30

O pior futebol do Brasil tem saudades do amadorismo. No ranking das federações montado pela CBF, Roraima é a última colocada. O Estadual de 2016 teve apenas quatro times. Ninguém sabe quantos estarão em campo em 2017. Os públicos são indigentes. Se quiser, a torcida não precisa pagar ingressos para ver os jogos, já que os campos são abertos. Não há dinheiro para concluir o estádio construído para, teoricamente, ser subsede da Copa de 2014.

"Eu vou te contar quando o futebol aqui acabou. Foi em 1995, quando aconteceu a profissionalização das equipes. Ali, acabou tudo", constata Carlos Alberto dos Santos, presidente do Atlético Roraima.

A equipe foi a última colocada do mais fraco Estadual do País em 2016 e as trapalhadas do Atlético resumem os apuros dos times de Roraima. Foram seis jogos disputados no ano. Cinco derrotas e um empate. Dois gols marcados e 24 sofridos.

"É difícil achar quem tenha condição de arcar com um time competitivo para participar desse campeonato. A gente sobrevive com o mínimo possível. Não apenas o Atlético. Todas as equipes", constata Adroir Bassorici, presidente do Náutico.

Ao pedir para parcelar a rescisão contratual de um jogador do clube chamado Alex Goes, Bassorici foi agredido a socos e pontapés.

No caso do Atlético Roraima, as receitas no ano passado foram de R$ 17 mil. Descontadas as despesas, sobraram R$ 288,31. Ironicamente, o apelido do time é "milionários". Quase uma falsidade ideológica.

"Você acha que dá para fazer futebol assim? A gente precisa se esforçar para pagar um salário bom para os reforços", questiona Carlos Alberto.

No futebol de Roraima, "salário bom" é R$ 1 mil por mês, mais café da manhã, almoço e jantar.

Ao LANCE!, o presidente confessa decepção. Nesta temporada, fez parceria com empresa local, a MM Eventos, que ficou encarregada de cuidar de todo o futebol. Na estreia, a equipe entrou em campo para enfrentar o Baré com dez jogadores. Apenas oito eram profissionais. Dois foram chamados do Sub-20. Sem goleiro, o lateral Zezinho foi improvisado no gol e as luvas só chegaram no intervalo. No banco de reservas estavam apenas os integrantes da comissão técnica. Não havia nenhum atleta. Quando o contrato de parceria foi acertado, ficou combinada a contratação de 16 reforços. Chegaram quatro.

Claro que o Atlético Roraima perdeu: 4 a 0.

"No dia da partida contra o Baré, descobri pela Federação que os nomes dos jogadores que deveriam ter sido contratados não estavam no BID (Boletim Informativo Diário) da CBF. Eu não tinha o que fazer", lamenta Carlos Alberto.

Seria até possível ficar compadecido da situação do clube, se a falta de atletas fosse novidade. Em 2014, diante do mesmo Baré, o Atlético atuou com nove porque os outros também não haviam sido inscritos. A partida foi interrompida aos 20 minutos do segundo tempo depois de dois serem expulsos e outro se contundir. Três jogadores de Minas Gerais denunciaram o clube por dormirem em galpão sem refrigeração e por receberem qualquer dinheiro. Moradores locais fizeram vaquinha para que eles pudessem voltar para casa.

No ano anterior, o elenco ficou uma semana sem treinar porque a diretoria não achava campo. O grupo tinha 28 jogadores e nenhum goleiro. Eles reclamaram salários atrasados e não terem condições de pagar alimentação ou comprar produtos de higiene pessoal.

Os dirigentes garantem que na época do amadorismo, antes de 1995, nada disso acontecia.

"Havia mais dinheiro", resume Bassorici.

"A gente recebia subsídios da Prefeitura e do governo do Estado. As pessoas iam aos estádios. Os torneios eram mais disputados. Hoje em dia, para conseguir a transferência do registro de atleta, tem de pagar R$ 350 ou R$ 400. Se vier da Federação Paulista, tem de pagar R$ 1 mil. Não tem condições", alega Carlos Alberto.

Ele afirma ser "contra político", mas o que mais sonha, assim como todos os colegas, é receber dinheiro público.

"Não gosto de política, mas a gente precisa de ajuda. A Prefeitura de Rio Branco, pelo menos, ainda oferece estrutura", completa.

Apesar das queixas, o Atlético é o maior campeão de Roraima na era do profissionalismo. Tem oito títulos e três vices.

O futebol do Estado é mais um daqueles casos em que todos reclamam, mas ninguém abandona o barco. O presidente da Federação, José Gama Xauad, está no cargo há 39 anos.

"A gente até pensou em ficar fora do campeonato deste ano. Mas ele (o parceiro) chegou e disse que ia dar certo. Mas não deu. Acho que, em 2017, vai dar. Graças a Deus, sou muito conhecido aqui. Tenho de fazer dar certo", explica Carlos Alberto.

A esperança dele é um empresário paulista de futebol. Também diz conhecer "um amigo do Zico" que deseja ajudar.

O pior do time do Brasil em 2016 vive na corda bamba. Reflexo do que é o futebol de Roraima.

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