Para Messi, Maradona não é um espelho. É uma sombra
A data era 17 de outubro de 2014. Um dia antes, Lionel Messi, então com 17 anos, havia estreado como profissional pelo Barcelona, em partida contra o Espanyol. Estava em casa com a família quando o telefone tocou. Correu para atender porque imaginava ser algum amigo de Rosário querendo parabenizá-lo. Depois de dizer "alô", ficou mudo.
- Tirei o aparelho da mão dele. Foi aí que entendi... - lembra o pai, Jorge Messi.
Do outro lado da linha, estava Diego Armando Maradona.
Ontem foi aniversário de 30 anos do título argentina na Copa de 1986. O momento que tirou Diego da condição de simples mortal. Em sua terra natal e para muitos outros ao redor do planeta, ele se transformou em muito mais do que um simples jogador de futebol.
Nasceu a lenda de que Maradona ganhou o Mundial sozinho. Não é verdade, mas quem somos nós para brigarmos com o mito? A Argentina tinha um bom goleiro (Pumpido), uma zaga tão segura quanto dura nas entradas (Brown e Ruggeri) e atacantes como Burrochaga e Valdano, dispostos a se sacrificar para que o camisa 10 pudesse brilhar como brilhou.
Quis o destino que Diego com a camisa da seleção se transformasse na régua com que muitos mediriam a genialidade de Messi. Uma comparação tão pesada que ele jogou a toalha após perder a Copa América para o Chile. É pouco provável que não mude de ideia. Mas a "aposentadoria" foi um terremoto.
O ídolo de Messi sempre foi Maradona. O próprio Lionel, com aquele seu jeito de morder as palavras antes que saiam da boca (como definiu o escritor Leonardo Faccio), confessou ter lido apenas um livro até hoje: "Yo soy Diego", a autobiografia do ex-10. Quando tinha sete anos, se espremeu nas arquibancadas do Colosso del Parque para ver o campeão de 1986 em sua curta passagem pelo Newell's Old Boys.
- Leo não gosta de Maradona. Ele o venera - confirma o pai e melhor amigo.
Diego foi técnico de Messi na Copa de 2010, quando o atacante saiu sem marcar gols, o que contribuiu para a reclamação que "ele não joga pela Argentina o mesmo do que pelo Barcelona". No ano seguinte, o criticou pelo desempenho na Copa América. Alimentou a história de que "Messi não canta o hino". Recentemente, opinou que o craque do Barcelona não ter perfil de liderança (o que é verdade) e deu a temerária declaração de que se a equipe perdesse a final para o Chile, nem deveria voltar.
Os jogadores que conquistaram o mundo em 1986 pediram que Messi continue na seleção. Maradona fez o mesmo, como não poderia ser diferente. A comoção foi mundial na mesma medida que a surpresa. É inaceitável que ele não vista mais a camisa do seu país aos 29 anos.
Messi tem condições de jogar em alto nível a Copa da Rússia, em 2018, quando estará com 31 anos. Maradona foi campeão mundial com 26 e levou uma frágil Argentina à final em 1990, quando estava com 30. Inclusive derrotando a seleção de Lazaroni pelo caminho. Há dois anos, durante a Copa do Brasil, a música "Brasil decime que se siente" nos lembrou disso diariamente por quase um mês.
Uma ironia do destino. Três dias depois de anunciar, com um misto de frustração e tristeza, que não veste mais a camisa do seu país, o ídolo comemora 30 anos do maior momento.
Diego pediu para Messi voltar. Deixemos de lado essa rivalidade babaca Brasil-Argentina no futebol e na vida e nos juntemos a ele. Lionel é um gênio e merece toda a adulação.
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