Tiro com arco brasileiro estreia nas Paralimpíadas já mirando medalha
Para uma equipe que nunca esteve nos Jogos Paralímpicos, só participar do Rio 2016 já poderia deixar o tiro com arco brasileiro satisfeito. Mas a seleção não se contentou. No Mundial da Alemanha, em agosto do ano passado, o time confirmou as vagas nos arcos recurvo open e composto open (masculino e feminino) a que o Brasil poderia ter direito por ser sede, e ainda conquistou mais, totalizando oito atletas já garantidos nos Jogos.
- Somos o segundo país das Américas com mais vagas até agora. Apenas os Estados Unidos têm mais que nós e isso nos dá orgulho. Ainda vamos tentar mais vagas no torneio da República Tcheca. Queremos chegar aos Jogos bem preparados e acreditamos que podemos levar pelo menos uma medalha - disse Henrique Campos, coordenador técnico da seleção paralímpica de tiro com arco.
Medalhistas de ouro no Parapan de Toronto, Jane Karla (arco composto feminino open) e Luciano Rezende (recurvo masculino open) são os atletas que, segundo a comissão técnica, têm mais chances de chegar ao pódio. Jane, Luciano e mais três arqueiros - Andrey Muniz e Júlio César de Oliveira, no composto masculino open, e Fabíola Dergovics (recurvo feminino open) - já estão pré-convocados para a seleção que vai disputar os Jogos. Eles obtiveram o número de pontos estabelecido pela Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTarco) em campeonatos nacionais, além de terem cumprido o índice mínimo estimulado pelo Comitê Paralímpico Internacional. Os demais atletas do país ainda terão oportunidades nos próximos meses para chegarem ao índice.
- Esses atletas que atingiram os índices estipulados são o que terão prioridade nas competições internacionais antes dos Jogos. Precisamos dar experiência internacional a esses arqueiros. Mas os recursos são limitados e temos que viajar com os mais bem preparados. Se não fizerem índice no Brasil, não adianta levar para o exterior - afirma Henrique Campos.
Competições e investimento
O planejamento da seleção de tiro com arco inclui a participação na Arizona Cup, nos Estados Unidos, em abril. Em maio, a equipe viaja para o Parapan-americano da modalidade em San José, na Costa Rica. No mês seguinte, a seleção participa do Torneio de Nove Mesto, na República Tcheca, última oportunidade de ampliar o número de vagas no Rio 2016.
Henrique explica que, neste último ciclo paralímpico, houve um aumento de investimento que possibilitou mais participações em competições internacionais. Mas conseguir viajar com o tamanho ideal da equipe e realizar treinamentos com toda a seleção reunida ainda são desafios que a modalidade enfrenta. O que faz a diferença, segundo o coordenador, é o programa Bolsa-Atleta, que permite a muitos arqueiros uma dedicação maior ao esporte. Atualmente, 13 atletas do tiro com arco paralímpico recebem o benefício, incluindo a esperanças de medalha, Jane Karla. O investimento anual é de R$ 188,7 mil.
- A partir do momento em que você tem um investimento como esse do governo, você quer mostrar resultado, manter os bons resultados, e o incentivo é grande. Tem arqueiro que vive da bolsa e pode se dedicar mais, comprar o material que precisa. No caso da Jane, quando ela trocou de modalidade, perdeu os patrocinadores, passou por um momento difícil. Se não fosse a bolsa-atleta, possivelmente não teria continuado - diz o coordenador da seleção.
Das bolinhas para as flechas
Henrique acompanha de perto o treinamento de Jane em Goiânia. Ele se impressiona com a dedicação da atleta, que não descansa enquanto não dispara cerca de 400 flechas por dia. Acostumada ao vai-e-vem das bolinhas no tênis de mesa - esporte pelo qual disputou duas edições de Paralimpíadas - Jane mudou de modalidade no fim de 2014 e os primeiros resultados do ano passado já indicaram que a troca seria recompensada.
- Foi tudo muito rápido. No fim de janeiro de 2015, eu já estava batendo índice no treino, e depois veio medalha de ouro na primeira participação, na Arizona Cup, com recorde do evento. Foi um estímulo: ?Jane, este é o esporte mesmo, vamos com tudo'. Eu me preparei para o Parapan, fui ouro. A gente vê que o caminho está certo para 2016 - conta a atleta, eleita a melhor da modalidade em 2015.
A medalha que não veio no tênis de mesa em Pequim 2008 e Londres 2012 é o grande sonho da atleta para o Rio 2016. E ela espera casa cheia - ou melhor, o sambódromo lotado- para ajudar no desafio.
- Pequim era a casa do tênis de mesa, vi um ginásio gigante torcendo, aquela energia passando para os atletas deles, e falei: é isso que eu quero no meu país, um dia quero viver isso. Não deu no tênis de mesa, mas vai ser no tiro com arco. Que todo mundo participe, torça pela gente, é maravilhoso ver o atleta paralímpico, é muita garra. E é alto rendimento. Quero ver tudo lotado, igual eu vi em Pequim 2008. É lindo.
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