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Velho conhecido do São Paulo, técnico do Tigre encara desafio inédito

24/02/2016 09h00

O Novorizontino visita o São Paulo nesta quarta-feira, às 19h30, no Pacaembu, pela sexta rodada do Paulista. Será a estreia do Tigre do Vale contra um grande da capital longe de sua torcida. Na contramão do imaginário popular, a agremiação preta e amarela não tem nenhuma relação com o clube homônimo que fez sucesso nos anos 90 e já foi casa de ídolos como Márcio Santos e Paulo Sérgio, tetracampeões com a Seleção Brasileira, em 1994.

O Grêmio Esportivo Novorizontino fechou as portas em 1999. Afundado em dívidas, o clube decretou falência e nunca mais voltou à ativa. Em 2010, alguns locais que tinham relação com o extinto time se reuniram com objetivo de devolver o futebol a Novo Horizonte.

Falaram com a família Biasi, dona da estrutura e do estádio local, e com o aval, criaram o Grêmio Novorizontino. A opção por manter nome, cores, mascote e brasão similares foi uma tentativa de resgatar a identificação dos antigos torcedores com o futebol da cidade.

Em pouco tempo, o novo clube despontou. Foi da última à Primeira Divisão do Estadual, boa parte graças ao técnico Guilherme Alves. Campeão mundial pelo São Paulo em 1993, ele estreou no Tigre em 2013 e conquistou dois acessos em três anos. Nesta quarta, ele tem a difícil missão de vencer quem "abriu as portas" da sua carreira.

- Tenho um carinho muito grande pelo São Paulo. Foi minha primeira chance num clube grande. Foram me buscar no Marília a pedido do Telê Santana. Estreei no mesmo jogo que o Rogério Ceni, no Troféu Santiago da Compostela, em junho de 1993. Marquei quatro gols. Foi marcante - afirmou ex-atacante, que também fez história com a camisa do Atlético-MG, onde é o sétimo maior artilheiro da história, com 139 gols. 

Agora, Guilherme reencontrará o Tricolor como adversário. E garante que não irá arrefecer.

- Temos que beirar à perfeição. A responsabilidade da vitória é deles. Vou encorajar meus atletas a jogarem futebol - garantiu ele.

Bate-bola com Guilherme Alves

Imaginava levar o Novorizontino à elite tão depressa?

O objetivo sempre foi esse, mas as coisas aconteceram da melhor forma possível. A estrutura, somada à continuidade do trabalho e a manutenção de atletas nos ajudou bastante. Mesmo assim, ninguém esperava subir logo no primeiro ano disputando a Série A2.

Você se vê como grande responsável pela ascensão?

É um conjunto. Lógico que Jorge Rauli (auxiliar) e eu temos grande parcela disso porque montamos as equipes. Também temos que desfrutar dos bons momentos. Mas tudo ajudou, a estrutura, a manutenção do elenco e, principalmente, o apoio da torcida.

Recebeu novas propostas com o sucesso?

Recebi algumas propostas, sim, mas estou comprometido em disputar a elite com o time que ajudei a erguer.

E o carinho da torcida?

A cidade tem quase 40 mil habitantes. O contato é diário, acabei conhecendo todo mundo muito rápido. Os torcedores ajudaram demais. A cidade é pequena, mas sempre levamos um bom número de torcedores ao estádio. (Na campanha da Série A2, no ano passado, a média foi de quase quatro mil pagantes por partida, o que representa 10% da população da cidade).

Você disse que os resultados foram fruto da continuidade do trabalho. O que acha de equipes que fazem trocas corriqueiras de treinador, algo tão comum no futebol brasileiro atualmente?

Demonstra fraqueza e insegurança dos próprios dirigentes. Não aguentam pressão de torcedor, conselheiros, da imprensa, e acabam escolhendo o caminho mais fácil ou curto. Acho uma grande besteira, mas infelizmente isso faz parte da cultura brasileira. O técnico joga por resultado e o futebol fica chato, não pode propor jogo porque, se perde três jogos, tá no olho da rua. É falta de preparo dos clubes, não do treinador. Se você montou a equipe, tem que ir com ela até o final.

Qual foi o jogo mais marcante no Tigre?

O empate em 3 a 3 com o Santos, em casa, há duas semanas. A cidade não enfrentava um clube grande há 20 anos, e fizemos uma partida excepcional. Tomamos o gol de empate no fim, numa falta inexistente. Tínhamos tudo para sair com a vitória, mas o que mais me marcou foi ter enfrentado o Santos e jogado bola diante de um time tão qualificado e grandioso este. Mesmo sabendo que somos uma equipe pequena. Isso valorizou demais meus atletas, fiquei muito feliz.

Qual sua melhor lembrança da passagem no São Paulo?

O trabalho com o Telê Santana foi muito marcante. Isso me deu a oportunidade de ir para fora e atuar ao lado de grandes nomes, como Müller e Cafu, além de fazer amizades que perduram até hoje. Faz 23 anos, mas ainda tenho isso guardado. Foi a primeira camisa de clube grande que vesti. O São Paulo vivia um momento muito bom naquela década, ganhava tudo, era um dos únicos que tinha CT. Foi o começo de tudo. Tenho um carinho muito grande pela instituição.

Qual a expectativa de estrear contra um grande fora de casa?

Temos um bom equilíbrio emocional. Eles são superiores, mas a matemática do futebol é inexata, então temos que entrar para vencer. O esporte está ficando chato porque os técnicos só jogam pelo resultado. Queremos marcar bem para diminuir os espaços, mas também propor jogo. Não vamos abdicar de jogar bola.