Eurico assume falhas em rebaixamento do Vasco e se diz zerado após tumor
O presidente do Vasco, Eurico Miranda, é conhecido por dar declarações fortes quando é entrevistado. E não foi diferente dessa vez. Em entrevista ao jornal O GLOBO, o mandatário vascaíno afirmou estar "zerado" um mês após ser submetido a uma cirurgia para retirada de um tumor do pulmão, revelou que o Campeonato Carioca de 2017 deve ter 12 clubes, as provocações ao Flamengo uma semana após a vitória no clássico, CBF, Primeira Liga, negociações dos direitos de TV e sobre o rebaixamento do time em 2015.
CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:
Quando o Vasco caiu, o senhor disse que assumia a responsabilidade, mas culpou seu antecessor pela crise financeira. Quais foram os seus erros?
"Eu realmente não admitia que comigo isso pudesse acontecer. Quando atribuí a responsabilidade exclusivamente a mim é porque este é um assunto que não se delega. Eu falhei. Falhei porque botei a mão tarde. Deixei acontecer coisas, e quando botei a mão, era tarde. Perdi muita unidade no futebol. E só consegui uma união imposta, e quando já era tarde. Não vou atribuir a qualquer vice meu porque aqui o sistema é presidencialista. Houve falhas sérias, mas não quero individualizar as coisas. (Em 2015, houve atritos entre o diretor de futebol, Paulo Angioni, e o filho de Eurico, Euriquinho, assessor da presidência com ascendência no futebol. Após a queda, Angioni foi demitido e o vice de futebol, José Luiz Moreira, afastou-se do cargo.)"
E erros na montagem do elenco?
"A avaliação foi errada. A gente viu depois que errou... Foi uma superavaliação. Não posso me eximir de culpa pois quem assina sou eu. Depois, contratamos jogadores como Nenê e Andrezinho, que precisavam de tempo. Mas, como já disse na época, recebi o clube impossibilitado de investir no time, pelo caos financeiro deixado pelo Roberto Dinamite."
A derrocada financeira do Vasco vem de há muito, inclusive das suas administrações anteriores. Na queda de 2008, Dinamite também citava esta "herança maldita" recebida...
"(Interrompe) É uma mentira isso. Deixei o Vasco com impostos e salários em dia. Tinha dívidas? Claro, mas estava escalonada, não havia execuções imediatas. Ele não pode argumentar isso..."
Qual a situação financeira atual?
"Só em parcelamento de dívidas persas, o Vasco paga R$ 3 milhões por mês, fruto de acordos. Mais o Ato Trabalhista, que são R$ 700 mil por mês, e a parcela do Profut, de quase R$ 500 mil. Num total, somando outras, dá quase R$ 5 milhões que o clube sai do negativo a cada mês."
Qual seu real estado de saúde hoje? Teve câncer?
"Eu fiz uma operação no pulmão. Retirei um tumor do pulmão, no dia 20 de janeiro, e os médicos disseram que estou absolutamente zerado. Não sou proibido de fumar charuto. Tenho absoluta consciência de que fumar faz mal. Fumei 40 anos, três ou mais carteiras por dia, depois passei a fumar charuto, seis ou sete ao dia, isto com certeza faz mal. Mas fumar um charutinho por vencer o Flamengo, não faz mal nenhum ao pulmão, pelo contrário, vai arejar. Hoje não chego a um por dia. Agora estou fumando porque nasceu minha neta. Eu tenho que ter um motivo."
O problema na bexiga foi o mesmo? Temeu pelo pior alguma vez?
"Na bexiga, operei lá atrás, há seis anos. Medo? Sinceramente... Não. Tenho proteção forte (aponta para a imagem da santa sobre a mesa)."
Noticiou-se que o senhor descumpriu recomendações médicas ao viajar com o time na reta final do Brasileiro do ano passado...
"Médico nenhum me daria esta recomendação, porque eu não vou cumprir mesmo. Vou fazer o que acho que devo fazer. Nós somos os nossos melhores médicos, sabemos o pode ser feito ou não. Todos os médicos que tenho, ou já eram meus amigos, ou passaram a ser. Fui nas viagens com o time, foi realmente um esforço para mim. Nem tanto pelo deslocamento, o problema maior é o estresse de um jogo. Mas numa situação dessa (luta cona o rebaixamento) é pior está longe."
O senhor tem sido um aliado de Marco Polo Del Nero, votou no Coronel Nunes para vice da CBF. Del Nero tem condição de presidir a CBF?
"Votei no Coronel Nunes e votaria em qualquer um que impedisse o Delfim (Peixoto) de assumir a CBF. Algo tinha que ser feito para impedir isso. Mas tudo isto está acontecendo pela insegurança da CBF. Insegurança de saber se Marco Polo vai continuar, não vai continuar, se a denúncia procede, não procede..."
Já perguntou a ele se procede?
'Para mim, ele se mostrou tranquilo. Pela conversa que tive lá atrás, ele não tinha intenção de renunciar (definitivamente)."
Em 20/11/1998, em artigo no jornal "Folha de S. Paulo", o senhor afirmou que havia um esquema de desvio de dinheiro em competições sul-americanas pela Conmebol, CBF e pelas empresas de J. Hawilla, e que os clubes eram prejudicados. Basicamente, o esquema que envolve hoje a atual diretoria da CBF, sua aliada...
"Naquela época, o Vasco disputou Supercopa, Mercosul, Libertadores... O que eu constatei, e está constatado hoje, é que, na verdade, se pagava (pelos direitos das competições) sempre muito mais do que era distribuído aos clubes. Tinha participações internas e externas... Exemplo: se vou pagar R$ 50 milhões, e vou dividir R$ 20 milhões para os clubes, para onde vão os outros R$ 30 milhões? Aí, quando chegava a parte dos clubes, ainda tinha desconto da participação da Conmebol. Ou seja, ganhavam duas, três, quatro vezes em cima. Fora a agência intermediária... E nunca foi esclarecido como foi agora. E agora foi porque quem participou (refere-se a J. Hawilla) fez uma delação premiada, para tirar a responsabilidade dele."
O prejuízo aos clubes é um dos motivos pelos quais vários deles buscam independência de entidades como a Ferj e a CBF, que o senhor apoia...
'Querem criar esta Liga por finalidade política. Liga é para tratar da parte comercial, não organizar campeonato. Isto sempre defendi, fui fundador do Clube dos 13. É mais velho que andar para frente: uma negociação coletiva é mais difícil para quem compra. Mas Liga só com clubes da Série A? E quem garante a Série B, C, D? Não pode ser para resolver o problema de 20 clubes. É elitista. Se quer organizar campeonato, tem que organizar tudo. Como fica o clube do Acre, do Amapá?"
Qual sua posição sobre pisão de cotas de TV no Brasileiro?
"Sou favorável a pegar metade do bolo e dividir igualmente por todos. Outro percentual, divide de acordo com a colocação no ano anterior, por mérito esportivo. E outro percentual, pela audiência."
Vasco já renovou o contrato dos Brasileiros de 2019 e 2020?
"A TV aberta não tem concorrência, vamos renovar. Mas a maior parte da receita, e onde está a grande desproporção, é na TV fechada. E na fechada deve ter concorrência, já está havendo. Eu não sou de fácil sedução, não, mas estou sendo seduzido (pela investida do canal Esporte Interativo)."
No Rio, há negociação dos direitos em bloco, mas passa pela Ferj. Não deveria, então, ser só dos clubes? O campeonato é pouco atraente...
"Sentam para negociar os quatro grandes, a Ferj e um representante dos menores. A pisão da cota garante a sobrevivência dos clubes pequenos. Pouco atraente? A audiência de Vasco x Flamengo foi o dobro dos outros domingos."
Há muitos jogos deficitários, estádios vazios. Não há excesso de times?
"As coisas estão caminhando, vai ter uma redução. Mas não deveria ser de forma traumática. A minha sugestão era que neste ano já era para disputar com 14, no ano seguinte com 12. Mas vai caminhar para ser traumático. A tendência é ter 12."
Já em 2017?"
"Sim, a tendência é essa. Minha preocupação é não condenar os (clubes) que você está rebaixando à sepultura."
No ano passado, o senhor defendia o ingresso barato, e agora aumentou para R$ 50 nos jogos contra pequenos, contra R$ 15 em 2015. Mudou?
"O programa de sócio-torcedor, que o Vasco lançará em março e já tem 20 mil pré-cadastrados... É uma realidade. Para um clube nacional como o Vasco, é fundamental. E não posso fazer propaganda enganosa. Se eu oferecer um desconto, e o ingresso está muito baixo, não adianta nada, não vão aderir. Por isso o preço foi mais lá em cima. Eu vou ter que arrumar um jeito de não excluir a camada popular, não vou marginalizá-la. É o desafio, o Vasco é um clube popular."
O último clássico foi novo capítulo de ataques públicos entre o senhor e o Flamengo, como há décadas. Por que o tom é sempre beligerante?
"Quando estimulo este confronto (com o Flamengo), tem duas razões. Uma delas é acabar com essa mentira... Porque uma mentira repetida muitas vezes vira verdade: de repente botavam o Fla-Flu como a coisa mais importante aqui no Rio, e no Brasil. Isso era uma coisa que eu tinha que liquidar. E foi liquidado. O clássico no Rio é Vasco x Flamengo. Outro motivo é o torcedor mais humilde do Vasco. O cara quando tem outras opções (de lazer), a emoção dele é diferente. Quando não tem, é muito mais forte. O nosso torcedor mais abastado... Tem uns que me dizem: "Não provoca o adversário", dizem que sou falastrão... Isso é meia dúzia de intelectuais que não tem noção do que isso provoca no torcedor. Você acha que R$ 20 mil (dos danos causados pela torcida do Flamengo em São Januário) vão resolver meu problema? Não, mas meu torcedor quer ouvir: "o Flamengo tem que pagar". Ele quer falar: "eu tenho casa, ele não tem"."
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