Corinthians: Memphis dá ultimato por atrasados e ameaça não se reapresentar

Com pouco mais de R$ 6 milhões a receber do Corinthians, Memphis Depay deu um ultimato ao clube para que os valores que estão atrasados sejam depositados. Caso contrário, o astro holandês ameaça não cumprir com as obrigações profissionais dele. Isso significa que o camisa 10 do Timão entende que poderia, por exemplo, não se reapresentar com o restante do elenco no próximo sábado, dia 28 de junho, ou se recusar a treinar e jogar pela equipe.

Memphis, representado por advogados, notificou o clube sobre a quantia pendente no último dia 15 de maio, quando o Corinthians ainda era gerido por Augusto Melo.

Nessa terça-feira, o jogador realizou uma segunda notificação, esta recebida pela gestão interina de Osmar Stabile, quando afirmou ter sido ignorado sobre a primeira demanda, e exigiu que o Corinthians resolva todas as pendências com ele até o final desta quarta-feira, 25 de junho.

Segundo o documento, o Corinthians ainda não efetuou o pagamento dos R$ 4,7 milhões que o jogador tem direito, por força contratual, pela conquista do título do Campeonato Paulista deste ano. Além disso, o clube está devendo R$ 1,4 milhão referente aos direitos de imagem do atleta. A dívida total com o atacante, portanto, é de R$ 6,1 milhões.

Se o Corinthians não conseguir cumprir com o pedido, o holandês estabelece que o clube cesse a exploração de sua imagem e se reserva ao direito de interromper as suas obrigações trabalhistas. Além disso, os advogados do atleta avisaram que será acrescido à dívida juros de cerca de R$ 150 mil.

O QUE DIZ A LEI E A FIFA

O artigo 90, parágrafo 1º da Lei Geral do Esporte, define "a inadimplência da organização esportiva empregadora com as obrigações contratuais referentes à remuneração do atleta profissional ou ao contrato de direito de imagem, por período igual ou superior a 2 (dois) meses" como hipótese de rescisão indireta do contrato de trabalho. Ou seja, se o clube atrasar o pagamento de parcelas correspondentes a dois ou mais meses dos valores referentes ao vínculo empregatício ou ao contrato de imagem (bastando um dos contratos), o jogador terá o direito de pleitear a rescisão antecipada do contrato.

E não para por aí. Neste caso, o atleta ainda faz jus ao recebimento de uma compensação equivalente a, no mínimo, o valor total de salários que deveria ser pago pelo clube até o término do contrato e, no máximo, 400 vezes o valor do salário mensal no momento da quebra contratual.

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Essas normas estão em vigor na Lei brasileira, aplicáveis aos contratos de trabalhos celebrados por times brasileiros, independente da nacionalidade do jogador contratado. A regra é similar ao que é estipulado pelo Regulamento sobre Status e Transferências de Jogadores (RSTP, na sigla em inglês), utilizadas como base legal em litígios perante o Tribunal de Futebol da Fifa.

O RSTP diz que a falha no pagamento de dois ou mais meses de salário configura justa causa para a rescisão unilateral do vínculo empregatício. Porém, com um condição: o atleta deve notificar o clube e conceder um prazo de 15 dias para que a dívida seja quitada. Caso o pagamento não aconteça, ele pode quebrar o contrato unilateralmente e exigir a compensação.

É importante dizer que o RSTP refere-se expressamente a salários, não citando qualquer outra verba como base para rescisão contratual ou cálculo de compensação. No entanto, há precedentes da Fifa nos quais a regra foi aplicada a casos relacionados a valores pertinentes ao uso de imagem dos atletas, por exemplo.

SUGESTÃO DE SEGURO IGNORADA

Em meados de setembro do ano passado, na iminência de Memphis Depay ser contratado pelo Corinthians, o ex-diretor jurídico do clube, Leonardo Pantaleão, que voltou ao Parque São Jorge como assessor jurídico desde que Osmar Stabile tomou posse de forma interina, enviou uma sugestão à diretoria presidida por Augusto Melo.

Ele, por meio de um e-mail, recomendou a contratação de um seguro parcial para cobrir o salário do jogador por pelo menos 90 dias, uma vez que parte dos vencimentos do holandês seriam assumidos pela Esportes da Sorte, patrocinadora máster do Timão, sem qualquer garantia imposta. À época, a casa de apostas era alvo de investigação da Operação Integration, da Polícia Civil de Pernambuco.

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A recomendação, entretanto, foi ignorada por Augusto Melo, que à época era assistido sobre o tema por Vinicius Cascone, diretor jurídico na ocasião, Pedro Silveira, então diretor financeiro, e Fabinho Soldado, executivo de futebol. A gestão acreditou que o seguro poderia se tornar um empecilho nas negociações, além do custo que ele teria, e, sendo assim, decidiram prosseguir com a operação.

CASO ROJAS COMO EXEMPLO

Um exemplo recente que ajuda a explicar os riscos corridos pelo Corinthians com Memphis é o caso de Matías Rojas. Contratado em 2023, o paraguaio rescindiu seu contrato de forma unilateral em março de 2024. Em seguida, acionou o Corinthians na Fifa por atrasos em pagamentos relacionados ao seu contrato de imagem.

Na contratação de Matías Rojas, o Corinthians combinou de pagar US$ 1,8 milhão ao jogador em três parcelas, não iguais, nos meses de julho, setembro e dezembro. O clube sempre manteve o salário do meia em dia, referente ao que estava previsto em CLT, e chegou a pagar impostos das notas fiscais emitidas pelo atleta. As três parcelas, no entanto, não tiveram os depósitos feitos.

O valor chegou a R$ 5 milhões e a promessa final da gestão comandada por Duilio Monteiro Alves foi de fazer o pagamento no dia 26 de dezembro de 2023, o que também não aconteceu.

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A defesa de Rojas começou a negociar os atrasos dos pagamentos no segundo semestre de 2023 e fez a primeira notificação oficial em dezembro. Após isso, até o fim de fevereiro de 2024, por diversas vezes, o Corinthians, já presidido por Augusto Melo, aceitou a inclusão de uma cláusula de saída em caso de nova inadimplência e prometeu prazos que nunca foram cumpridos.

Nesse período, o valor saltou de R$ 5 milhões para R$ 8 milhões. Rojas aceitou receber em seis parcelas, sem juros, mas viu cair na conta apenas a primeira delas.

Mesmo depois de deixar o clube e ir à Fifa, Rojas, por meio de seu advogado, Rafael Botelho, abriu a possibilidade de um acordo amigável sobre os R$ 8 milhões, com prazo maior, no intuito de cada um "seguir sua vida sem processos judiciais". Porém, como em outras oportunidades, segundo Rafael, o clube ignorou as mensagens e os e-mails enviados, algo que sempre gerou irritação no estafe.

O Corinthians acabou sendo condenado pela Fifa a pagar mais de US$ 8 milhões (R$ 40 milhões) ao jogador. O Timão recorreu à Corte Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês) e aguarda o desfecho do caso.

POSICIONAMENTO DO CORINTHIANS

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A Gazeta Esportiva procurou o Corinthians, que se manifestou através de sua assessoria. Em nota enviada à reportagem, o Departamento Jurídico do clube alegou que não tinha conhecimento da primeira notificação feita pelos advogados de Memphis e garante ter tomado as medidas necessárias para solucionar o problema. Veja abaixo, na íntegra, o comunicado:

"O departamento jurídico do Sport Club Corinthians Paulista informa que recebeu a renotificação feita pelo staff do atleta Memphis Depay na manhã desta terça-feira (24) e reitera que até então não possuía conhecimento da primeira notificação, enviada para a gestão anterior, datada de 15 de maio.

A partir do conhecimento da situação, o clube, imediatamente, adotou as medidas necessárias para a exata compreensão da problemática e, também, para a sua solução."

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