Agência Mundial Antidoping denuncia esquema de fraude dos EUA

Nesta quinta-feira, a Agência Mundial Antidoping (WADA) publicou uma nota em que denuncia esquema, feito pela Agência Antidoping dos EUA (USADA), que fraudava exames de atletas norte-americanos nos últimos anos e permitiu que os mesmos competissem em alto nível sob o efeito de substâncias proibidas.

De acordo com o pronunciamento, "a WADA está ciente de pelo menos três casos de atletas que cometeram sérias violações antidoping e foram permitidos a continuar competindo por anos enquanto eles atuavam como 'agentes da USADA', sem a WADA ser notificada e sem qualquer permissão para que isso fosse praticado sob o Código e as próprias regras da USADA"

Na nota, o órgão mundial também cita o caso de um atleta norte-americano de ponta, agora aposentado que, mesmo após ter admitido utilizar esteroides e outras substâncias ilegais, foi permitido pela USADA a competir em qualificatórias para as Olimpíadas e em eventos mundiais. Além disso, a organização dos EUA pediu à WADA que o acontecimento não fosse exposto, visando a segurança do esportista.

"Em um dos casos, um atleta de elite, que competiu em qualificatórias de Olimpíadas e em eventos internacionais nos EUA admitiu tomar esteroides e EPO e ainda assim foi permitido a continuar competindo até se aposentar. Seu caso nunca foi publicado, os resultados nunca foram anulados, suas premiações em dinheiro nunca foram devolvidas e nenhuma suspensão aconteceu. O atleta foi permitido a competir contra outros que nunca trapacearam. Neste caso, quando admitiu à WADA o que tinha acontecido, a USADA alertou para as consequências que trazer o caso à tona poderia causar na vida do atleta em questão, colocando sua segurança em risco"

Para finalizar, a Agência Mundial Antidoping afirma que é irônico e hipócrita o fato da Agência Anti-Doping dos EUA suspeitar frequentemente de esquemas ilegais feitos por outras organizações anti-doping, visto que ela mesma tenha permitido que seus atletas competissem em condições "que não só prejudicam a integridade da competição esportiva, mas também colocam a segurança desses atletas que estavam supostamente cooperando com a entidade em risco"

Esta declaração da WADA foi uma resposta à matéria publicada pelo jornal Reuters, que aborda "atletas disfarçados" (entre 2011 e 2014) e o conflito entre a Agência Mundial Antidoping com a entidade norte-americana.

O presidente-executivo da Agência Antidoping dos EUA, em entrevista à Reuters, afirmou que foi permitida a participação dos atletas sob efeito de substâncias proibidas para que eles agissem como "informantes", que ajudariam em investigações de crimes na área do doping e do tráfico esportivo: "É uma maneira eficaz de lidar com esses problemas maiores e sistêmicos", alegou Travis Tygart.

Confira a nota completa emitida pela Agência Mundial Anti-Doping (WADA)

A Agência Mundial Anti-Doping (WADA) responde a reportagem da Reuters de 7 de agosto de 2024 expondo o esquema em que a Agência Anti-Doping dos EUA (USADA) permitiu que atletas que faziam uso de substâncias ilícitas pudessem competir por anos, sem publicar ou punir suas violações às regras anti-doping, em direta contravenção ao Código Anti-Doping Mundial e às próprias regras da Agência Anti-Doping dos EUA.

Continua após a publicidade

O esquema da USADA ameaçou a integridade da competição esportiva, cujo Código busca proteger. Colocando esse esquema em prática, a USADA estava claramente violando as regras. Contrária às alegações feitas pela USADA, a WADA não respaldou a prática de permitir trapaças com drogas para competir durante anos com a promessa de que isso iria obter provas incriminatórias contra outros atletas.

Dentro do Código há a provisão de que um atleta que fornece assistência substancial em investigações anti-doping pode entrar com recurso para que sua suspensão do esporte seja anulada. De qualquer forma, há um claro processo para isso, que não envolve permitir que aqueles que trapaceiam continuem competindo enquanto juntam ou não provas incriminatórias contra outros atletas e enquanto eles se beneficiam do efeito que essas substâncias podem causar. Quando a WADA descobriu essa prática, em 2021, muitos anos depois que ela começou, foi imediatamente instruído que a USADA desistisse.

A WADA agora está ciente de pelo menos três casos de atletas que cometeram sérias violações anti-doping e foram permitidos a continuar competindo por anos enquanto eles atuavam como 'agentes da USADA', sem a WADA ser notificada e sem qualquer permissão para que isso fosse praticado sob o Código e as próprias regras da USADA.

Em um dos casos, um atleta de elite, que competiu em qualificatórias de Olimpíadas e em eventos internacionais nos EUA admitiu tomar esteróides e EPO e ainda assim foi permitido a continuar competindo até se aposentar. Seu caso nunca foi publicado, os resultados nunca foram anulados, suas premiações em dinheiro nunca foram devolvidas e nenhuma suspensão aconteceu. O atleta foi permitido a competir contra outros que nunca trapacearam. Neste caso, quando admitiu à WADA o que tinha acontecido, a USADA alertou para as consequências que trazer o caso à tona poderia causar na vida do atleta em questão, colocando sua segurança em risco. A entidade também pediu á WADA para que concordasse em não tornar o caso público. Colocada nessa posição impossível, a WADA não teve outra escolha a não ser concordar, depois de investigar e chegar à conclusão de que ameaças à segurança do atleta de fato faziam sentido. O caso de doping do atleta nunca se tornou público.

Em outro caso de atleta de alto nível, a USADA nunca notificou a WADA de sua decisão de liberar o atleta de sua suspensão, o que até é uma decisão apelável, mas é preciso requerer isso sob o Código. Se a WADA tivesse sido notificada para analisar o caso, jamais seria permitida a liberação da suspensão.

Como os outros atletas se sentem sabendo que competiram de boa fé contra aqueles que a USADA sabia que trapaceavam? É irônico e hipócrita que a USADA se incomode e suspeite de outras organizações anti-doping que não estão seguindo as regras enquanto ela não anunciou casos de doping de atletas norte-americanos, permitindo trapaças para que continuassem competindo com a premissa de que eles estariam ajudando a entidade a descobrir novos casos de dopagem. A WADA se pergunta se a mesa de diretores da USADA, que governa a USADA, ou o Congresso norte-americano, que financia a entidade, sabiam sobre essa prática que não só prejudica a integridade da competição esportiva, mas também coloca a segurança desses atletas que estavam supostamente cooperando com a entidade em risco.

Deixe seu comentário

Só para assinantes