Flamengo: Jorginho teve trauma com ensopado na Itália e disse 'não' à mãe

Antes de se tornar uma estrela do futebol e do Flamengo, Jorginho viveu perrengues tão intensos dos 13 aos 15 anos — sozinho na Itália — que criou um trauma com um prato específico: a carne ensopada. O motivo? Era a única refeição, servida dia após dia, em um alojamento precário em Vêneto, sem água quente e sob o frio rigoroso. Ao visitá-lo preocupada, sua mãe, Maria Tereza, insistiu para que ele desistisse e voltasse para casa. No entanto, foi firme e disse "não".

Fui para lá (Itália) quando tinha 13 anos. Fui morar nesse alojamento, fiquei dois anos com outros meninos da minha cidade. Foi o perrengue mais pesado, mas era o meu sonho, né? Eu vi uma oportunidade.

No inverno não tem água quente para tomar banho, comia a mesma comida durante três dias. Quando voltei (para o Brasil), não conseguia sentir o cheiro de carne ensopada porque era só ensopadão. Esses dois anos foram assim.
Jorginho, ao UOL

Minha mãe foi me visitar, viu o estado lá do alojamento e falou: 'Você vai embora comigo'. E eu falei: 'Não vou, essa é minha oportunidade, vou ficar aqui, porque se depois eu não virar jogador, vou te culpar para o resto da minha vida'. E aí acabei ficando.

Pensou duas vezes antes de se naturalizar

Início de Jorginho (no destaque em vermelho) em Imbituba, cidade de Santa Catarina onde nasceu
Início de Jorginho (no destaque em vermelho) em Imbituba, cidade de Santa Catarina onde nasceu Imagem: Arquivo pessoal

O depoimento de Jorginho foi dado ao UOL em entrevista exclusiva no Ninho do Urubu. Em 40 minutos de bate-papo, o volante ítalo-brasileiro com passagens marcantes por Napoli, Chelsea, Arsenal e seleção da Itália abriu o coração, revelou bastidores de sua intimidade, perrengues, curiosidades e o desafio de voltar ao Brasil para defender o clube de maior torcida do país, o Flamengo.

Na ocasião, também admitiu que pensou duas vezes antes de se naturalizar italiano, mas a escolha acabou valendo a pena:

Eu tinha 19 para 20 anos. Aí falei: 'Deixa eu pensar mais um pouquinho (risos)'. Porque, querendo ou não, eu cresci assistindo a Ronaldinho, Ronaldo, Rivaldo... E o sonho de toda criança brasileira é vestir a Amarelinha, né? Então, naquele momento, eu estava tendo um choque de realidade.

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Só que fui vendo meu percurso e acabei decidindo ir para a seleção italiana pela minha trajetória, pelo meu passado também, com sangue italiano. E aprendi muito. Lá na Itália é um país que amo muito, sinto que parte de mim é italiana, tenho algumas manias, alguns hábitos que são mais italianos do que brasileiro, então a decisão foi tomada baseada nessa história.
Jorginho, ao UOL

Acerto com o Flamengo foi pensando em ser convocado pela Itália

Campeão da Eurocopa de 2020 sendo um dos destaques, Jorginho tem o desejo de retornar à seleção italiana. O volante, inclusive, admitiu que um dos motivos de acertar com o Flamengo foi a vitrine que o Rubro-Negro dá aos jogadores.

Essa foi mais uma decisão também do porquê eu vir para um clube como o Flamengo, para estar em vista. Estou me dedicando bastante para estar pronto se chegar uma chamada.
Jorginho, ao UOL

Mistura de culturas brasileira, italiana e inglesa em casa

Jorginho com sua mãe Maria Tereza: preocupada, ela tentou demover seu filho da ideia de permanecer na Itália na adolescência
Jorginho com sua mãe Maria Tereza: preocupada, ela tentou demover seu filho da ideia de permanecer na Itália na adolescência Imagem: Arquivo pessoal

Os filhos de Jorginho nasceram na Europa e, atualmente, ele é casado com a irlandesa Catherine Harding. Brasileiro naturalizado italiano e com sete anos no futebol inglês, o volante tenta absorver o melhor de cada cultura na educação e convívio em casa.

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Ah, mistura tudo, né? Tento pegar o melhor de cada um e vou implementando na família, mas em casa a gente fala mais inglês, porque minha esposa é britânica, as crianças nasceram lá e agora estão tentando aprender português, já estão desenrolando.

Mas também já aprendem a dar um jeitinho brasileiro e estão gostando bastante da culinária do Brasil. Da culinária da Itália não precisa falar que é maravilhosa, então eles gostam também. Então, a gente vai pegando um pouquinho daqui, um pouquinho dali... É uma mistura (risos).
Jorginho, ao UOL

Já trilha caminho para ser técnico quando se aposentar

Jorginho prefere ainda não cravar com 100% de certeza, mas admite que a possibilidade é grande de se tornar treinador quando se aposentar. O volante já fez um curso quando era atleta do Arsenal e sentiu o gostinho de exercer a função.

Cheguei no Arsenal e me perguntaram: 'Você quer tirar carteirinha de treinador aqui?'. Aí eu falei: 'Não, não quero ser treinador'. Estava tentando correr disso (risos), mas aí me empurraram um pouco e eu falei: 'Tá bom, vou fazer para ter. Vai que um dia... (risos)'.

Aí fui fazer o primeiro treino com os meninos lá da base do Arsenal. Quando fiz o primeiro, falei: 'Caramba... Isso é muito bom (risos)'. E aí comecei e estou gostando bastante de aprender, de ver esse outro lado, essa outra questão do futebol, que não é só a questão dentro do campo. Vou ser um treinador? Não sei ainda. Mas tem grandes chances, digamos.
Jorginho, ao UOL

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