Pai e filho copiam fórmula da Família Díaz para reerguer Náutico na Série C

Pai e filho, Ramón e Emiliano Díaz já conquistaram muitos títulos enquanto dividem funções nos clubes por onde passam. A fórmula dos argentinos segue presente no futebol brasileiro mesmo após eles deixarem o país: Hélio dos Anjos e Guilherme dos Anjos "copiaram" a receita e tentam guiar o Náutico rumo à Série B.

Nova tendência?

Os perfis são semelhantes. Hélio, o pai, tem 67 anos — dois a menos que Ramón Díaz — e é quem "dá as caras" na hora das decisões. Guilherme, o filho, tem 38 anos — cinco a menos que Emiliano — e, além de dividir o comando nos treinos e nos jogos, é quem faz a ponte entre os jogadores e o pai por ser mais jovem.

Os Díaz e os Anjos já foram adversários. Em 2016, ambas as famílias estavam na Arábia Saudita — os argentinos no Al-Hilal, e os brasileiros passando por Najran, Al-Faisaly e Al-Qadsiah — e se enfrentaram. Hoje, nove anos depois, as semelhanças são sentidas no modelo de comando.

Eu vi uma similaridade muito grande com aquilo que a gente reproduz e faz no dia a dia. Tem também uma liberdade muito grande no trabalho. A figura do comando está hoje representada pelo Emiliano e pelo Ramón ao mesmo tempo e sinto isso dentro do nosso trabalho também. Acho extremamente saudável e vejo que eles também tiveram resultado com essa parceria.
Guilherme dos Anjos, ao UOL

Guilherme nem sempre dividiu o comando com Hélio dos Anjos. Os dois trabalham juntos há pouco mais de 10 anos, mas o filho atuava apenas como auxiliar do pai, a exemplo do que acontece no Corinthians, com o pai Dorival Júnior e o filho Lucas Silvestre. Tudo mudou quando chegou a proposta do Náutico, em abril deste ano. Os dois apresentaram a ideia ao clube pernambucano de ter dois técnicos.

Todas as áreas estão muito mais organizadas e mais ainda sob o nosso controle. A versatilidade que o nosso trabalho passou a ter com o Guilherme trouxe uma coisa muito importante para um treinador principal, no caso eu: centralizar as decisões. Com as informações dele, eu tenho condições totais de decidir friamente.
Hélio dos Anjos

Os frutos do novo modelo têm sido colhidos. O Náutico garantiu vaga no mata-mata da Série C com duas rodadas de antecedência e não perde desde junho [cinco vitórias e dois empates no período]. O Timbu tem a melhor defesa da competição, com só seis gols sofridos em 17 jogos, sendo que dois deles foram levados antes de a dupla assumir o comando.

Filho quer seguir legado do pai

Guilherme dos Anjos tem mais uma semelhança com Emiliano Díaz: quer seguir carreira solo. Mas cenários que já aconteceram com alguns conhecidos o fazem não ter pressa.

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Não tenho pressa nenhuma. Vejo ainda uma possibilidade de ganho de conhecimento, principalmente na gestão, nas tomadas de decisão e nos momentos difíceis. Vejo muitos companheiros com idades similares à minha, em momentos da carreira similares, tomando decisões precipitadas. O mercado é duro, ao mesmo tempo que ele dá oportunidade, você precisa de resultado.
Guilherme dos Anjos

Hélio dos Anjos e Guilherme dos Anjos durante jogo entre Náutico e Maringá na Série C
Hélio dos Anjos e Guilherme dos Anjos durante jogo entre Náutico e Maringá na Série C Imagem: Marlon Costa/AGIF

A decisão de quando seguir carreira solo também pode passar, indiretamente, por Hélio dos Anjos. Guilherme admite que existe a chance de seguir o pai até que ele decida se aposentar.

Hélio vê um diferencial no filho. Linha dura ao longo de toda carreira e mais "raiz", ele tenta passar seu modelo de gestão para que Guilherme siga os mesmos passos, indo na contramão de como o experiente treinador enxerga a nova geração de técnicos.

Ele vai ser um pouco diferente de muitos que estão no mercado. Ele tem da minha pessoa exemplos que eu acho que são inegociáveis. Sempre falo para ele: o treinador tem que ter o poder de decisão, não pode se omitir. Eu tenho uma certa preocupação. Infelizmente, no Brasil, os mais jovens não estão assumindo a responsabilidade de comando, têm medo de comandar.
Hélio dos Anjos

Hélio dos Anjos condena etarismo

Aos 67 anos, Hélio dos Anjos é o técnico mais velho entre todas as divisões do Brasileirão. Ele não treina um time de Série A desde 2015, quando estava no Goiás, e crê que há etarismo (preconceito por causa da idade) no mercado de treinadores no Brasil.

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O etarismo no mercado de técnicos existe. O treinador mais velho tem esse perfil de comando firme. O Vanderlei Luxemburgo é esse perfil, o Muricy tinha, o Tite, o Dorival, o Mano Menezes, o Cuca e o Renato Gaúcho são assim. Esse tipo de perfil de comando incomoda o momento moderno do futebol. O treinador à moda antiga, raiz como eu, não abre mão do poder de decisão.
Hélio dos Anjos

Hélio do Anjos, técnico do Náutico durante jogo contra o Brusque na Série C
Hélio do Anjos, técnico do Náutico durante jogo contra o Brusque na Série C Imagem: Rafael Vieira/AGIF

Dos nomes citados pelo treinador, quatro estão na Série A — e são os mais velhos na divisão: Dorival Júnior [63], Mano Menezes [63], Cuca [62] e Renato Gaúcho [62]. Tite e Vanderlei Luxemburgo estão desempregados, e Muricy se aposentou como técnico.

A nova leva de diretores e cargos novos nos clubes incomoda Hélio dos Anjos. O treinador critica a participação ativa de dirigentes e CEO's nas decisões dentro dos times e admite que tem problemas diretos com isso.

Uma das modernidades que aconteceu no futebol são os dirigentes profissionais, todos muito jovens e que se acham muito mais capazes do que nós treinadores mais velhos. Eu dou satisfação ao presidente do clube, que é o presidente da instituição. Eu não abro mão do meu poder de decisão.
Hélio dos Anjos

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