Fifa alcança meta de tornar Mundial um fenômeno além de Europa e Américas

Gianni Infantino, presidente da Fifa, estava de olhos arregalados e testa franzida. Meio estático até, enquanto Marcos Leonardo e os companheiros de Al Hilal comemoravam o quarto gol do time saudita sobre o Manchester City.

A façanha nas oitavas de final do Mundial de Clubes foi a primeira vitória de times asiáticos sobre europeus em competições da Fifa. O Al Hilal só não foi mais longe porque não resistiu ao Fluminense nas quartas de final.

Só que mais do que reforçar o viés da eficiência esportiva e da estratégia de investimento pesado em jogadores feito pelos clubes (e governo) da Arábia Saudita, a inserção de um time do Oriente Médio entre os oito melhores do Mundial ajudou a dar a dimensão que Infantino queria para a primeira edição do torneio.

"Verdadeiramente, uma competição global", resumiu o presidente da Fifa em uma postagem nas redes sociais.

Torcedores do Al Hilal comemoram a classificação às quartas de final do Mundial de Clubes
Torcedores do Al Hilal comemoram a classificação às quartas de final do Mundial de Clubes Imagem: Hector Vivas - FIFA/FIFA via Getty Images

Ao lado de Infantino naquela vitória do Al Hilal, e tão incrédulo quanto, estava outro representante de investimentos pesados que vieram da mesma região.

A diferença é que Khaldoon Al Mubarak, presidente do City, estava a serviço de um conglomerado dos Emirados Árabes Unidos que não turbinou o campeonato local, mas montou uma rede de clubes que tem o futebol inglês como cartão de visitas.

Os asiáticos já estão na elite do jogo (ou seja, nos clubes europeus) há algum tempo, por conta da estratégia de sportswashing - aquela de usar o esporte para melhorar a imagem de um país. O investimento do Qatar no Paris Saint-Germain é um exemplo.

Mas o Al Hilal acrescentou mais um ingrediente de diversidade de origem nos times na reta final.

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Nas quartas, Palmeiras e Fluminense foram os representantes sul-americanos, oriundos de um mercado naturalmente engajado. Não seria difícil atrair a atenção por aqui. O Flu sobreviveu e leva a América do Sul à semifinal contra o Chelsea.

Os europeus, por sua vez, estão afastando na prática a tese de que não ligam para o Mundial. Até mesmo nas derrotas, vide o exemplo do próprio City.

Eles foram maioria desde o início, mantêm o status de favoritos ao título e chegam à semifinal com três representantes: Chelsea, PSG e Real Madrid.

O Real Madrid é um elemento importante na pulverização do Mundial, pela característica global da sua base de fãs. Nos estádios da Copa do Mundo, dá par ver isso. E os jogos do time espanhol estão sempre cheios.

Os enfrentamentos

O chaveamento colocou uma "zebra" perto da final. O Fluminense veste fácil essa carapuça. Mas ainda que dê Chelsea, o campeão da Conference League - terceiro escalão dos torneios de clubes da Uefa - não era, antes do torneio, o mais cotado para estar na decisão, considerando os participantes europeus.

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Não importa o desfecho, o Mundial fez os europeus descerem do "Olimpo" que é a Champions League para medir forças — e até passar perrengue — contra times de outros continentes, sobretudo sul-americanos.

Ver esses enfrentamentos todos era justamente o que a Fifa de Infantino queria quando moveu mundos e fundos - inclusive Public Investment Fund (PIF) saudita - para organizar o Mundial. O PIF, inclusive, você já deve ter reparado que está nas placas de publicidade dos jogos do torneio, pois é um dos patrocinadores da competição. Assim como a "Visit Qatar" ou Qatar Airways.

Na estratégia de globalizar o Mundial de Clubes, o país-sede cumpriu papel nisso também. Se acontece nos Estados Unidos, potencialmente repercute mais. É um jeito de incluir mais uma confederação continental, além de Uefa (Europa), Conmebol (América do Sul) e a já citada Ásia. Esportivamente, foi importante também que Inter Miami e Monterrey tenham chegado às oitavas de final.

Os times africanos não foram tão longe, mas o engajamento in loco da torcida deles - especialmente dos marroquinos do Wydad Casablanca - está entre os destaques do torneio. A torcida do Espérance de Tunis se uniu a do Flamengo para fazer o maior barulho em um estádio no torneio — 127 decibéis.

O Auckland City, time semiprofissional representante da Oceania, teve seu momento de brilho por conseguir o primeiro ponto e um gol na competição, ao empatar com o Boca Juniors.

O discurso da Fifa de globalizar o Mundial encontra eco também na representatividade dos jogadores. Na fase de grupos, 72 nacionalidades foram representadas. Nas oitavas, jogadores de 49 países diferentes.

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Entre todas as pessoas que receberam uma credencial da Fifa para trabalhar — considerando todos os setores —, 184 nacionalidades estiveram representadas. A Fifa emitiu 68.526 credenciais.

Infantino tem repetido por aí que o Mundial de Clubes abre uma nova era no futebol. Se isso vai ser visto ao longo do ciclo de quatro anos, é difícil prever. Mas esse espaço de um mês no calendário para esse tipo de torneio parece ter sido uma aposta certeira.

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