América do Sul elimina dois europeus do Mundial. O que aprendemos disso?

Dois dos três times europeus envolvidos nos Grupos A e B do Mundial de Clubes voltarão para casa mais cedo. Eliminados. Nada de Porto ou Atlético de Madrid no mata-mata. Só o PSG avançou.

Em comum, o fato de que os times brasileiros desses dois grupos — Palmeiras e Botafogo — passaram às oitavas de final. E vão até se enfrentar no mata-mata.

Dá até para expandir o feito de derrubar europeus ao Inter Miami — que tem forte DNA sul-americano. Afinal, o time tem Messi, Suárez, Ustari, Redondo, Segovia, Allende, Falcón e ainda é treinado por Javier Mascherano.

A América do Sul pode dar mais trabalho nesta competição, diante do cenário da rodada final da fase de grupos. Mas olhando para os europeus, o que podemos perceber (e aprender) sobre a derrocada de dois deles?

Samu em ação durante jogo entre Al Ahly e Porto no Mundial
Samu em ação durante jogo entre Al Ahly e Porto no Mundial Imagem: Susana Vera/REUTERS

Os europeus não ligaram para o Mundial?

Pelo discurso e reações após as eliminações, longe disso. Eles sentiram, sim, os tropeços e o fato de não passarem adiante.

E uma das grandes lições é que não dá para subestimar a adversários que normalmente passam longe do roteiro da Europa.

Diego Simeone, técnico do Atlético de Madrid, até mencionou que venceu dois dos três jogos e mesmo assim não conseguiu passar. Por mais que tenha perdido só para o PSG, não conseguiu tirar a diferença diante do Botafogo.

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"Eu saio com a tristeza de ficar eliminado. O objetivo era seguir e não conseguimos. Fizemos seis pontos. E desta vez, ficamos fora no saldo de gols em um grupo difícil. Fizemos muito esforço para poder chegar em uma liga com Barcelona e Real Madrid e estar quatro anos na Champions fazendo números melhores do que um deles", disse o argentino, referindo-se ao Barcelona.

A campanha do Porto foi bem mais caótica. Não ganhou de ninguém. Empatou com Palmeiras, perdeu para o Inter Miami e se despediu com um 4 a 4 alucinante com o Al Ahly. Ou seja, se o europeu vier com guarda baixa, será nocauteado.

"Os jogadores deram tudo até ao fim. Mostramos espírito competitivo. Deu para ver como os jogadores acabaram dentro de campo, foi uma pena não termos conseguido a passagem à próxima fase", disse Martín Anselmi, técnico do Porto.

Como a imprensa deles tratou isso tudo?

"Porto nem o seu trabalho fez diante do Al Ahly e acaba eliminado do Mundial de Clubes", foi a manchete no site do Record, de Portugal, logo após o fim da fase de grupos. "A Bola" estampou: "Oito gols e fim do sonho portista nos EUA".

Na Espanha, Marca e As ainda trouxeram um choramingo em relação à arbitragem. "O Atlético já estava saindo: não havia necessidade de expulsá-los", foi o enunciado do primeiro. "Ele não conseguiu e eles não deixaram", manchetou o segundo.

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O final de temporada pesou?

O argumento do cansaço passou, sim, pelo discurso dos europeus. Pela primeira vez, eles encararam o Mundial no meio do ano e não em dezembro — quando quem já estava caindo pelas tabelas eram os brasileiros.

Mas os problemas não se restringiram a isso. E apontam a dificuldade dos times do Velho Continente de se virar em condições adversas (fora do frio e dos gramados sob medida).

Se o bloco completo de europeus quiser se dar bem nas próximas edições, vai precisar ser mais "camaleônico".

Savarino e Simeone em ação durante jogo entre Botafogo e Atlético de Madri no Mundial
Savarino e Simeone em ação durante jogo entre Botafogo e Atlético de Madri no Mundial Imagem: STU FORSTER/Getty Images via AFP

No caso do Atlético de Madrid, o time alegou que sentiu o calor do jogo de estreia contra o PSG. O time de Simeone perdeu o controle no final do jogo, levou dois gols rapidamente, o que foi crucial na conta do saldo do grupo, após o empate tríplice.

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O fim da temporada foi amargo, considerando também que a eliminação na Liga dos Campeões da Europa foi nos pênaltis, para o Real Madrid.

Já o Porto foi claramente um time descompassado taticamente e com problemas de conjunto. "O pior Porto de todos os tempos", segundo alguns torcedores brasileiros.

O time ficou em terceiro no Campeonato Português, uma temporada instável, atrás dos rivais Sporting e Benfica. Já não tem um time tão eficiente quanto em outros anos.

Qual a real força dos brasileiros?

Os times brasileiros saíram com moral da primeira fase até agora. No geral, mostraram que podem ser competitivos diante dos mais ricos. Sobretudo porque muita gente tarimbada voltou para casa e defende camisas dos times brasileiros.

Nicolas Jackson, atacante do Chelsea, foi expulso diante do Flamengo
Nicolas Jackson, atacante do Chelsea, foi expulso diante do Flamengo Imagem: CHARLY TRIBALLEAU / AFP
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O trabalho dos técnicos também tem chamado atenção. Tanto na gestão do elenco, quanto na adaptação ao que os adversários apresentam.

Se os europeus acharam que não teria organização tática no lado sul-americano (brasileiro, mais especificamente), quebraram a cara.

Luis Enrique, técnico do PSG, citou que o Botafogo foi quem melhor soube se defender diante do atual campeão da Champions League. O Flamengo amassou o Chelsea, de virada, e o Fluminense também deixou o Borussia em maus lençóis — só que não conseguiu o gol.

Para Botafogo e Palmeiras, a última rodada trouxe alguns alertas — principalmente no time de Abel Ferreira. Mas como o próximo passo já será um duelo entre os dois times, o grau de desconhecimento do adversário beira a zero. É hora de abrir alas para um momento Brasileirão dentro do Mundial.

O Flamengo tem a tranquilidade de ter se classificado por antecipação em primeiro. Parece o time mais vistoso entre os brasileiros. O Fluminense tem classificação ao alcance.

O roteiro segue até o final da primeira fase?

Os europeus ainda têm representantes de peso. Bayern, Manchester City, Real Madrid e até a Juventus têm favoritismo, além do "escaldado" PSG — que tomou um susto ao perder para o Botafogo. A classificação desse contingente todo está encaminhada.

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Benfica, Inter de Milão e Salzburg parecem os mais ameaçados em seus grupos. Os dois primeiros brigam com sul-americanos — Boca e River. No caso do time austríaco, o "bote" pode ser dado pelo saudita Al Hilal.

As campanhas frustradas de Porto e Atlético de Madrid servem de alerta.

De todo modo, os times da Europa ainda têm a vantagem financeira e, em tese, técnica sobre os sul-americanos. Mas um torneio de tiro curto e mata-mata, como o Mundial, gera um grau interessante de imprevisibilidade. Favoritos? Sim. Mas longe de terem a taça assegurada.

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