Por que árbitros brasileiros estão bem na Copa e são criticados por aqui?
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O perfil espanhol Archivo VAR, que acompanha e faz análises da arbitragem, definiu como "impecável" a atuação do brasileiro Ramon Abatti Abel no jogo entre Real Madrid e Pachuca, pelo Mundial de Clubes.
E olha que o time espanhol teve um jogador expulso de forma direta logo aos seis minutos de jogo — o cartão para o zagueiro Raúl Asencio foi o vermelho mais rápido do Mundial.
Nas respostas ao elogio e em outras postagens nas redes, é fácil achar brasileiros incrédulos e irônicos.
Até agora, Abatti e o outro brasileiro escalado para o Mundial, Wilton Pereira Sampaio, fizeram dois jogos cada um. Atuações tranquilas, sem qualquer contestação grave.
Classificação e jogos
Considerando as polêmicas que às vezes se envolvem e críticas que recebem, a percepção é que os árbitros brasileiros, por vezes tão controversos em território nacional, se dão melhor quando atuam no âmbito internacional.
A sensação se confirma, segundo relatos anônimos de árbitros ouvidos pelo UOL, a maioria sob anonimato. Gente ainda na ativa ou que já se aposentou. Os árbitros sabem que existe essa comparação entre a versão deles lá fora e no Brasil.
O efeito do ambiente
O ponto unânime é: o clima é outro para os árbitros em competições tipo o Mundial. E como ingredientes desse clima estão pressão de clubes, torcida, imprensa e, principalmente, jogadores.

Em torneios no exterior, a visão é de que o árbitro vai a campo concentrado e mais tranquilo. Enfrenta menos rodinhas de reclamação e discussões mais brandas sobre as decisões que toma. Já no Brasil...
"Os árbitros brasileiros estão bem porque estão sem pressão. No Brasil, é todo mundo tenso, não tem respaldo. No exterior eles vão bem porque são tecnicamente bons, estão bem fisicamente e não têm pressão. O lance do Asencio mostra isso. Último homem, vermelho fácil. Não criou drama nenhum", disse o ex-árbitro Carlos Eugênio Simon, atualmente comentarista da ESPN.
No caso do VAR, ainda há o aparato do impedimento semiautomático.
O UOL apurou que Wilton e Abatti estão bem conceituados na Fifa. O segundo, além de expulsar Asencio, do Real Madrid, acionou o protocolo antirracismo no segundo tempo, após reclamação de Rüdiger.
Wilton já esteve na última Copa do Mundo, por exemplo. Tem, ao todo, oito competições no âmbito mundial da Fifa — em categorias diversas. Se for selecionado para a Copa 2026, chegará à nona. Com destaque para a forma física de quem fará 44 anos em dezembro.
Abatti, que fará 36 anos em setembro, chamou atenção em torneio Fifa nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Um ex-árbitro contou ao UOL que quem é escalado para esses grandes torneios também chega com uma mentalidade diferente na comparação com o Brasileirão ou outro torneio de longo prazo. No tiro curto, um erro grave pode significar a própria eliminação das escalas. Na Série A, o erro rende geladeira de duas, três rodadas. Mas os árbitros voltam à ativa depois.
O fato de Wilton e Abatti já terem dois jogos no Mundial de Clubes reforça a visão boa que a Fifa tem deles no momento.
A CBF curtiu
A comissão de arbitragem da CBF anda orgulhosa dos representantes no Mundial. Já estava antes mesmo do torneio, já que dois trios completos foram escalados — apesar de nenhum VAR.
"Como que a gente analisa se o árbitro brasileiro é bom? Pelas escalas internacionais, pela quantidade de acertos. E hoje nós temos dois árbitros brasileiros escalados para esse campeonato. E dos Estados Unidos, que é a sede, ele só tem apenas um. Então, esses indicadores, que são muito mais do que subjetivos ou pensamentos diversos, são a prova de que a arbitragem brasileira é respeitada no mundo inteiro", afirmou Rodrigo Martins Cintra, quando os árbitros estavam na intertemporada da arbitragem, no Rio.
Especificamente no Mundial atual, a Fifa também contou com os brasileiros porque eles já estavam mais treinados na implementação de regras que, na Europa, entraram em vigor só agora no meio do ano. A principal delas é a contagem de oito segundos na posse de bola dos goleiros.
Os árbitros brasileiros querem chegar o mais longe possível no torneio. Mas não estarão na final caso haja algum time brasileiro. Não dá para ter tudo na vida.
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