Palmeiras: Abel vai do arroz biro-biro a Messi x CR7 em coletiva paz e amor
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Abel Ferreira não perdeu o estilo "paz e amor" durante os 28 minutos da entrevista coletiva que antecede Palmeiras x Inter Miami, jogo de amanhã que define os classificados do Grupo A do Mundial de Clubes. O técnico passeou por vários temas em meio às perguntas dos jornalistas, desde o "duelo" Messi x Cristiano Ronaldo até elogios ao tradicional arroz biro-biro.
Fala, Abel!
Desfrutar com responsabilidade. "Vocês não estão comigo diariamente e não me conhecem, mas a minha forma de viver é aqui e agora. Às vezes, chego a pensar: 'será que eles pensam que sou essa figura grossa e rude?'. Mas às vezes me interessa que vocês pensem assim. Sou muito grato, agradeço todos os dias. Aqui, vocês conseguem me ver mais e conseguem ver o que eu não queria mostrar. É um pouco por aí: também merecemos, uma vez que é o primeiro Mundial com 32 times, desfrutar com responsabilidade desta competição que todos querem ganhar."

Messi ou Cristiano? Sou Cristiano Ronaldo por tudo. Um tem o talento natural, e o outro tem a preparação e o trabalho. Quando a gente tenta comparar estilos, digo que não sou Federer, sou mais Nadal: tenho que correr, pedalar, não tenho essa criatividade toda. Não só por ser português, mas me vejo mais naquilo que é o Cristiano Ronaldo. Mas tenho que admirar toda a criatividade de um jogador como o Messi. Por isso que o futebol é mágico: podem jogar grandes, pequenos, mais fortes, mais magros... sorte a nossa que ainda conseguimos, no momento, desfrutar do que os dois ainda têm para apresentar. Espero e desejo que corra tudo bem ao Messi, menos amanhã."
Como parar Messi? "É fazer os jogadores do Miami não tocarem a bola para ele! Temos que olhar isso como uma oportunidade, é uma das maiores figuras da história do futebol, apesar de ter 17 anos (risos). É uma oportunidade para nós enfrentarmos não só o Messi, mas uma equipe que tem pouco tempo e muita ambição para crescer, como já vem crescendo com jogadores experientes. Nós não preparamos o jogo só pensando em um jogo. O todo é maior que a soma das partes, mas sabemos que um jogador como ele pode fazer a diferença, como já fez contra o Porto."
Classificação e jogos

Abel extracampo. "Fora o futebol, só quero que me vejam como uma pessoa normal, que adora arroz com feijão — e aprendi aqui —, farofa e arroz biro-biro. Eu falava para minha filha que não se misturava batatas com arroz. Ela chegou e falou: 'olha aqui, se mistura batata com arroz, olha lá'. Essa parte mais pessoal — e eu entendo que vocês queiram saber — é da minha privacidade, acho que não devo compartilhar. Como treinador, sou como todos, há coisas boas e ruins, às vezes me envergonho... não sou perfeito. Vocês já me conhecem o suficiente, precisam saber que estou aqui há cinco anos porque quero estar aqui."
Preocupação com pendurados. "Fico mais preocupado comigo, que também estou! Não posso pensar assim, temos um foco muito grande que é ganhar o jogo para estar na próxima fase. São detalhes que vêm a seguir. Não posso fazer um jogo sem deixar tudo dentro dele. Se algum dos pendurados levar amarelo, temos gente dentro do clube para fazer essa reposição. Eles sabem e também sei, mas não é nosso foco. É procurar colocar nossa dinâmica contra uma equipe que vai fazer tudo para ganhar o jogo. Não falei neste assunto sequer com eles."
Aníbal joga? "Ele não vai conseguir jogar, infelizmente. Talvez a gente consiga recuperar para o próximo jogo. O Emiliano é uma das opções que temos para fazer o setor centro-esquerda. São jogadores que têm estado muito bem. A única coisa que tenho certeza é que quem for jogar, vai jogar bem. Tenho pena por não ter conseguido colocar todos para jogar. Gostaria que todos ficassem com essa sensação de que não participaram só por fora naquilo que é dinâmica do grupo, mas jogassem. Vou procurar que todos consigam ter a oportunidade para eles dizerem: 'eu participei'."
Europa x América do Sul. "Li algumas coisas que o Guardiola falou sobre isso. No futebol sul-americano, se vê muita paixão, o futebol puro... no futebol europeu, como diz o Mourinho, os jogadores tornaram-se empresas, e começa a faltar essa pureza como ainda tem na América do Sul. É bom ouvir alguém como o Guardiola falar desta paixão que sentimos e notamos no futebol sul-americano. Não digo que lá na Europa não exista isso, mas na condição do mundo em que vivemos, os jogadores de lá são mais empresas. O Guardiola falou que, quando uma equipe sul-americana faz um gol, você vê as pessoas comemorarem como se fosse Copa do Mundo, e tenho que concordar com ele. Hoje, os jogadores começam a virar empresas, sobretudo na Europa. Isso às vezes tira a essência do futebol de vê-lo com a verdadeira paixão."
Abel por mais dois anos? "Vocês estão conhecendo um pouco do que é o Abel todos os dias, e não me interessa dar muito abertura porque jogar contra vocês me dá gana e energia. Alguns de vocês não gostam, mas faz parte do espetáculo externo. Tudo indica que sim [fico mais dois anos no Palmeiras], mas este não é o momento. O momento é para estarmos completamente focados e concentrados no que é o Mundial."

Leveza. "Sou um quando ganho e outro quando perde, mas dá 24 horas e passa. É minha forma de ser no que tem a ver com o futebol e meu trabalho. Acho que, pelo fato de termos a oportunidade de estar aqui por algo que conquistamos, não faria sentido não desfrutar. A melhor forma que temos de nos respeitar, e vou repetir o que o Estêvão disse, é jogar futebol em um estado de 'flow', como em um parque de diversões. As coisas fluem melhor. Quando você fala 'eu tenho que ganhar', você carrega muita coisa nas costas, e isso tira criatividade e fluidez. Os pensamentos viram sentimentos, que viram um peso enorme, e o jogador não consegue ser ele. Foi uma das coisas que trabalhamos muito. É impossível não ter ansiedade — e ela é boa porque nos deixa alerta —, mas não podemos não desfrutar deste desafio."
Preparação diferente? "Acredito que todos os nossos adversários querem ganhar tanto quanto eu. Nem na preparação eu quero que eles ganhem da gente. Tenho o máximo respeito por todos os adversários, seja PSG, Inter Miami ou qualquer um."
Futebol brasileiro em alta. "Conseguimos competir, e vocês da mídia são elemento fundamental nisso. Se queremos o futebol brasileiro mais competitivo, temos que criar condições — e não me venham com a história de que sempre foi assim. Estou aqui há cinco anos e nada mudou. Decisões difíceis vão tornar o futebol brasileiro melhor. Entendo porque os europeus mudam de canal quando veem o futebol brasileiro: são jogadores cansados, gramado alto, muito calor, pouco tempo de descanso, viagens de avião pela noite, muitas lesões... o primeiro passo foi dado: nos deem pelo menos três dias. 'Ah, mas o calendário não dá...' Dá. É preciso tomar decisões difíceis para que o futebol brasileiro consiga dar a resposta que vocês estão vendo."
Surpresas na escalação. "Às vezes, você precisa surpreender em determinados detalhes. No último jogo, joguei a parte tática com o que tinha a ver com o calor. Não dá para pressionar o jogo todo. Gosto de ter essas nuances. Às vezes, aparece um Aníbal quando todos esperavam Emiliano. Eu treino isso. Podemos tirar vantagens com a troca de jogadores. Eu erro, acerto, perco e ganho, mas é assim que funciona. É para não ser previsível com o que fazemos sempre. Mas temos padrões: somos um time intenso, que gosta de pressionar a saída do adversário, que ataca a profundidade, que não gosta de jogo parado... mas temos que jogar o jogo, e o torneio é curto. O lado estratégico entra, e precisamos usar todos os recursos que temos."
Estêvão contra Messi. "Sinceramente, espero que ele esteja focado no que tenha que fazer e que só o cumprimente antes do jogo, que não fique olhando para ele. O Estêvão, para a idade que tem, tem uma maturidade competitiva acima da média, por isso que foi vendido. Espero que faça um grande jogo ofensivamente e defensivamente. Que no final, se ele tiver este tempo, que peça o que quiser, um autógrafo, uma foto... não tem problema. Mas que durante os 90 minutos que fique focado na sua tarefa, e tenho certeza que ele vai fazer isso."
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