CBF só voltou a procurar Ancelotti quando Real degringolou; veja bastidores

Foram 45 dias entre o anúncio da demissão de Dorival Jr e a contratação de Carlo Ancelotti. Neste período, houve diversas reviravoltas no campo, em negociações, na política da CBF que poderiam ter impedido o negócio. Mas, no final, a cúpula da entidade insistiu e conseguiu fechar com o seu preferido.

A demissão de Dorival Júnior ocorreu em 28 de março, a sexta-feira posterior à goleada contra a Argentina.

Naquela ocasião, Ancelotti não estava na lista de alvos viáveis da CBF, embora fosse o sonho distante. Explica-se: a entidade mirava um técnico para a próxima data-Fifa, para chegar em maio. Foi sempre um mantra do presidente, Ednaldo Rodrigues: não aceitaria outra novela.

E, naquele momento, não havia perspectiva de desligamento de Ancelotti do Real Madrid antes do Mundial.

Quem despontou

Havia dois nomes fortes na lista: Jorge Jesus, na frente, e como segunda opção, Abel Ferreira. O português técnico do Al Hilal era o preferido pelo estilo mais ofensivo e porque causaria menos problemas diplomáticos. Ednaldo não queria tirar um técnico da aliada Leila Pereira, do Palmeiras. Por isso, nunca o contatou.

Jesus estava disposto, mas só conseguiria se liberar no início de maio. A CBF já fazia contatos com ele. Tornava-se o favorito.

Aí, a temporada do Real Madrid começou a degringolar, com má campanhas em todas as frentes. Ednaldo acionou Ancelotti tanto diretamente como por meio do intermediário Diego Fernandes, que tinha contatos com o técnico. Recebeu um aceno positivo. Ele se tornava o favorito ao cargo.

Mas havia o principal empecilho: a liberação do Real Madrid. Em 29 de abril, a negociação entre Real e Ancelotti travou porque envolvia tanto o momento da saída quanto a parte financeira. A CBF, no entanto, nunca desistiu do negócio: via só como outra dificuldade.

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Também chegou à entidade as notícias de propostas da Arábia Saudita. Tanto Al Ahli quanto Al Hilal acenavam com mais de 30 milhões de euros por ano para o italiano. A CBF decidiu confiar em sua palavra de que queria vir ao Brasil.

Internamente, Ednaldo era pressionado por aliados que queriam ver a questão do técnico resolvida logo, havia um lobby por Jorge Jesus, mais acessível. A falta de resolução aumentava a pressão de inimigos na Justiça, na tentativa de afastá-lo do cargo. Havia ações nos tribunais do Rio e de Brasília. Ele decidiu esticar a corda.

Por mais que o presidente da CBF dissesse publicamente que Rodrigo Caetano, coordenador de seleções, estava envolvido no debate, a negociação e o passo a passo na CBF se concentravam em Ednaldo.

Sinal verde por Ancelotti

Em 6 de maio, veio a notícia que a CBF esperava: o Real Madrid tinha liberado o técnico para negociar oficialmente com a entidade, não só as conversas informais. Já havia um acordo financeiro feito para 2023, o que facilitava as conversas. Os termos do novo acordo são quase iguais. Ancelotti queria vir ao Brasil.

Nos dias seguintes, o contrato foi desenhado entre as partes e assinado. Ednaldo falou diretamente com o treinador de novo. Havia o jogo com o Barcelona, decisivo, no domingo. Mas o dirigente da CBF já sabia que tinha um contrato que não poderia ser revertido, mesmo com decisões negativas na Justiça sobre seu futuro.

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Com a derrota para o Barça e o Real Madrid longe do título da La Liga, a CBF decidiu anunciar o acordo. Era a manhã do dia 12 de maio, mesma data em que havia uma audiência na Justiça que poderia acelerar o afastamento de Ednaldo. Com o documento assinado, ele deu a notícia que era, obviamente, um trunfo político.

Logo após, o presidente da CBF e Ancelotti se falaram por 15 minutos por videoconferência. O italiano se declarou feliz por dirigir a seleção.

A novela que começou em novembro de 2022 - quando o UOL revelou o interesse da CBF em Ancelotti — se encerrava com um acordo.

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