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Os tradicionais e movimentados dias de jogos na rua Javari, no coração da Mooca, não se repetirão mais em 2025. A icônica rua paulistana permanecerá esvaziada até o final do ano após a inesperada decisão da diretoria do Juventus, cujo presidente se reelegeu nos últimos dias, de não disputar a Copa Paulista pela primeira vez na história do clube.
Os impactos da decisão são anímico, afetando todo o bairro, e também financeiro para comerciantes da região. O UOL esteve no entorno do Estádio Conde Rodolfo Crespi nesta semana e conversou com quem trabalha nos pontos mais frequentados da Javari, todos grenás, e que serão diretamente abalados pelo calendário do time centenário sendo encerrado precocemente.
Bar vizinho
Tostão, também conhecido como Cebola, é dono do bar localizado a poucos metros do estádio e que se tornou simbólico com o passar das décadas. Seu ponto, inclusive, é o único com vida na mesma calçada, já que a rua está tomada por lojas fechadas e estacionamentos.

Ele só abre o estabelecimento aos domingos quando tem partida do Juventus no local e ficará sem essa renda até o ano que vem. Nos demais dias, o faturamento chega a dobrar quando se tem partidas, mas a clientela fiel não o faz perder o sono com as contas.
O comerciante contou que, apesar da ausência de receita, sua maior tristeza com o fim dos jogos até dezembro é o impacto na tradição. Segundo ele, a atmosfera da Javari une as famílias da região e faz parte da cultura local.

Foi totalmente de surpresa [ficar fora da Copa Paulista]. A gente jamais imaginou isso porque há 24 anos, é a primeira vez que isso está acontecendo. Então, é um susto. Não estou nem só falando como comerciante do bairro, porque aqui o futebol é a atração do povo.
Aqui na Mooca, as famílias vêm com os filhos, os netos, é uma tradição. Fico triste de ver isso acontecer. Aqui [no bar] é assim, é onde a galera se encontra na entrada e na saída do estádio. Reuniu um grupo que é uma família.
Tustão, dono do bar vizinho ao estádio
Loja de camisas
Luiz Dias é pai do dono da Di Mooca, loja licenciada de produtos do Juventus, e ajuda o filho com as vendas. Ele se mudou para a Mooca há anos quando conheceu a esposa, natural da região, e se envolveu ativamente na comunidade. Quando ficou sabendo da decisão sobre a Copa Paulista, disse que ficou "surpreso como torcedor e triste como comerciante".

Ele contou que o faturamento mensal do estabelecimento quando se tem jogos no estádio é cerca de 40% maior do que nos meses sem partidas. A loja abre todos os dias em horário comercial, mas o grosso das vendas ocorre quando a Javari está movimentada. É quando torcedores e turistas buscam camisas e outras peças do Juventus. No agito, o acesso precisa até ser controlado.
Sem mais duelos marcados, ele desabafou que resta aguardar pelas datas comemorativas: "Agora é esperar o Natal". Mesmo assim, prevê que não fechará o ano no prejuízo.
Dos cannoli às esfirras

A fama dos cannoli vendidos por Seu Antônio dentro da Javari extrapolam fronteiras, é parada quase que obrigatória em roteiros gastronômicos na capital paulista. Não é raro, segundo relatam, ver pessoas comprando ingressos para entrar no estádio apenas para comprar o doce de origem italiana.
No entanto, quem quiser experimentar a cobiçada sobremesa nos próximos meses terá que se deslocar cerca de 10 km zona leste adentro. Com o estádio fechado, Seu Antônio reabriu o ponto que tem dentro do Assaí da Vila Carrão. Aos 75 anos, ele deu uma diminuída na produção e trabalha poucas horas de tarde, mas segue atendendo sua freguesia.

O encerramento do calendário do Juventus no ano também impacta a Esfiha Juventus e, inclusive, pegou os garçons de surpresa. O maître do espaço conversou com o UOL e disse que não sabia da decisão da atual diretoria. "É mesmo? Não vai mais ter jogo?", indagou, incrédulo, antes de repassar a notícia aos colegas —todos com décadas trabalhando na casa.
O estabelecimento de dois andares passa por reforma, mas não fica com seu grande salão desocupado. Enquanto a reportagem esteve por lá, já passado o horário tradicional de almoço, diversas pessoas entraram e saíram do local. O restaurante é outro lugar muito frequentado em dias de jogos, quando seu faturamento praticamente dobra com o agito.
O chefe dos garçons acredita que o negócio não será prejudicado, mas fez coro ao lamento. "Em dia de jogo, toda a região vibra", contou. Essa energia só deve voltar à Javari daqui a oito meses, com início da Copinha.
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