O dia em que Maradona defendeu aposentados na Argentina: 'Até a morte'

Na semana passada, cerca de 30 torcidas organizadas de futebol da Argentina se uniram a aposentados e foram às ruas para protestar contra a perda de direitos de idosos e o declínio no valor das aposentadorias. A manifestação fez a imprensa local resgatar uma histórica fala de Maradona em defesa aos aposentados.

O que aconteceu

Maradona saiu em defesa dos aposentados e disse estar com eles 'até a morte'. A declaração foi dada em meio a um tumulto nas ruas de Buenos Aires, no dia 14 de outubro de 1992.

El Pibe seguia a pé de um velório até os tribunais do centro —os locais eram separados por alguns quarteirões. Ele precisava comparecer periodicamente ao gabinete de uma juíza para cumprir alguns requisitos depois de ter sido detido no ano anterior por porte de cocaína. Enquanto isso, organizações de aposentados marchavam até os tribunais contra uma decisão do então presidente Carlos Menem que os prejudicava.

No meio do tumulto, Maradona teve o boné roubado e se irritou após uma pessoa lhe dizer que ele não saía em defesa dos aposentados. O craque argentino, então, respondeu à pergunta de um jornalista: Por que você ficou bravo, Diego?

Porque esse idiota diz que eu não defendo os aposentados. Estou de corpo e alma com os aposentados. O que fazem com eles é uma vergonha (...) Como não vou defender? Teríamos que ser muito covardes para não defendê-los

Como eu não vou me irritar? Estou até a morte com os aposentados, porque o que fazem com eles é uma vergonha Maradona, em entrevista a jornalistas

A história acima foi relembrada em reportagem do TyC Sports após o protesto da semana passada. A emissora destaca que Maradona 'usou sua voz para desafiar o poder político e econômico, especialmente durante o governo de Carlos Menem na Argentina'.

O interesse social que Diego Maradona demonstrou durante e depois de sua carreira sempre permanece relevante - se é que algum dia deixou de sê-lo. Sem contar sua extensíssima lista de partidas beneficentes, o ídolo mostrou empatia por sua origem humilde, solidarizou-se com professores e comprometeu-se 'de corpo e alma' com os aposentados

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Maradona x Boca Juniors

Diego Armando Maradona jogava pelo Sevilla na época. O time espanhol visitava a Argentina para jogos amistosos contra o Boca Juniors que, inclusive, tiveram a participação do camisa 10.

No domingo, dia 11 de outubro, o craque havia assistido ao triunfo de 1 a 0 na Bombonera, que seria decisivo para o Apertura de 1992, primeiro título nacional de seu clube do coração em 11 anos. No dia seguinte, Maradona jogou em Córdoba o primeiro dos dois jogos Boca x Sevilla.

Na noite daquele 14 de outubro, Diego voltou a uma Bombonera ocupada por 30 mil torcedores para o segundo amistoso. O craque argentino não só entrou em campo, mas também vestiu a camisa dos dois times: no primeiro tempo pelo Sevilla, que venceria por 3 a 2, e no segundo pelo Boca, pelo qual marcou um gol e levou a torcida à loucura.

Como foi o protesto de quarta-feira

A manifestação em Buenos Aires na quarta-feira (12) reuniu aposentados, torcidas organizadas e sindicatos. O protesto era contra os cortes nos benefícios previdenciários e a suspensão da cobertura de medicamentos imposta pelo governo de Javier Milei.

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Atos públicos dos aposentados ocorrem todas as quartas-feiras há anos. Nos últimos meses, porém, eles passaram a ser duramente reprimidos pela polícia, que tem utilizado gás lacrimogêneo e força física contra os manifestantes idosos. A adesão na última quarta foi significativamente maior impulsionada pelo apoio das torcidas organizadas.

A ação policial incluiu o uso de gás lacrimogêneo, balas de borracha e jatos d'água, resultando em diversos feridos e indignação popular. Durante os confrontos, manifestantes incendiaram uma viatura policial e uma motocicleta, além de vandalizarem sete veículos da Secretaria de Segurança de Buenos Aires.

O fotógrafo Pablo Grillo, de 35 anos, que cobria o evento, foi atingido na cabeça por um cartucho de gás lacrimogêneo. Ele passou por uma cirurgia de emergência e permanece internado em estado grave na UTI.

Na madrugada seguinte, a Justiça de Buenos Aires determinou a libertação de 114 dos 124 manifestantes detidos. A juíza Karina Andrade, em decisão divulgada pelo jornal Clarín, argumentou que as prisões violavam direitos constitucionais, como a liberdade de expressão e o direito ao protesto.

O balanço oficial registrou 53 feridos, incluindo manifestantes, policiais e jornalistas. O governo de Buenos Aires calculou os prejuízos materiais em aproximadamente 275 milhões de pesos (cerca de R$ 1,5 milhão).

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