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Era 11h42 quando as postagens começaram a pipocar nas redes sociais. Jogadores se uniram contra um inimigo em comum. Para eles, o gramado sintético.
O que aconteceu
Nos bastidores, três figuras de peso foram apontadas como líderes: Lucas Moura, do São Paulo, Thiago Silva, do Fluminense, e Neymar, do Santos.
A onda que se viu na terça-feira é fruto de uma articulação recente. Mas a linha de raciocínio antiga. A campanha foi direta: "Futebol é natural, não sintético".
Mesmo texto, mesma foto, mesma hashtag. A jogada foi ensaiada, e com uma equipe por trás.
Classificação e jogos
A adesão envolveu nomes de pelo menos dez dos 20 clubes da Série A: São Paulo, Santos, Fluminense, Flamengo, Vasco, Cruzeiro, Inter, Corinthians, Juventude e Fortaleza.
A reclamação principal é o efeito do sintético na qualidade e na característica que dá ao jogo.
Dos três principais articuladores, Lucas é quem fala sobre o assunto há mais tempo, por ter voltado ao Brasil primeiro. A recente chegada de Neymar e o apoio de Thiago Silva deram força para que o incômodo, que é geral, se tornasse uma campanha.
Não é coincidência que os três tenham puxado uma fila de jogadores com passagem pela seleção brasileira ou pelo futebol europeu.
A iniciativa ganhou força no último final de semana e o trio começou a sondar jogadores sobre a participação no movimento. Com o apoio de grande parte dos atletas, os três combinaram a postagem.
A ideia foi dar uma cara de coletividade, e não de iniciativa isolada.

As conexões
Tão logo as publicações foram ao ar, ficou fácil perceber a teia entre os nomes mais badalados que aderiram a causa.
Lucas Moura e Thiago Silva jogaram juntos no PSG. O meia tricolor fez o assunto rodar entre outros jogadores do São Paulo.
Coutinho é amigo de Neymar desde a base da seleção. Foi um ponto de contato no Vasco, cujo capitão, o argentino Vegetti, também postou.
Thiago Silva levou o tema a colegas de Fluminense, como Samuel Xavier e Manoel. Ganhou repost de Nenê, do Juventude.
Do Internacional, Alan Patrick jogou com Neymar no Santos. Teve a companhia do volante Bruno Henrique logo nas primeiras postagens.
No Flamengo, Gerson capitaneou a questão. Arrascaeta também postou. Ex-companheiro deles, David Luiz, no Fortaleza, não ficou em silêncio e teve novos parceiros de time postando também.
Memphis, do Corinthians, é próximo a Neymar — têm até a mesma fornecedora de material esportivo. O Corinthians teve nomes como Garro, Talles Magno, Hugo Souza e Matheuzinho participando da ação.
Os vira-casaca
No Cruzeiro, Gabigol faz parte do "núcleo" Neymar, por ser até cunhado dele no momento - está namorando Rafaella Santos.
O goleiro Cássio também se manifestou, mas o envolvimento de Dudu foi o que mais deu o que falar.
O ex-atacante jogou no sintético do Palmeiras. Foi campeão (e se machucou) lá. A participação dele na campanha foi vista como mais uma "traição" ao torcedor palmeirense, em uma guerra que já envolveu ofensas a Leila Pereira, presidente do clube.
Outro que teve problema na adesão, em razão do passado recente, foi Tiquinho Soares. Ele agora é companheiro de Neymar no Santos, mas até o ano passado fazia muitos gols no tapetinho do Botafogo instalado no Nilton Santos.
O que Tiquinho fez? Apagou a postagem e subiu no muro.
Hoje, estou em um clube que tem suas ideologias. E como funcionário do Santos, preciso defender a instituição dentro e fora dos gramados. Por outro lado, fui chamado de ingrato por torcedores do Botafogo, clube que tenho enorme carinho. Com isso, resolvi apagar e ficar fora de um debate que pode gerar algum tipo de polêmica. Clubes e entidades com certeza irão tomar a melhor decisão para os atletas.
Efeito nos clubes
Alguns clubes já sabiam o que aconteceria. Mas não tinham noção de quando exatamente os jogadores colocariam as postagens para o mundo ver.
Calhou de ser uma terça-feira de uma semana que provavelmente vai anteceder uma discussão direta dos clubes sobre o assunto, no conselho técnico da Série A. A manifestação dos jogadores esquentou o debate.
Durante o dia, foi possível ver o engajamento positivo que os jogadores tiveram nas redes.
O contra-ataque ficou por conta de Botafogo, Atlético-MG e Palmeiras — três clubes da Série A com gramado sintético — além das empresas Total Grass e Soccer Grass. Concorrentes, mas fornecedoras dos campos artificiais no Brasil.

O discurso do Ney
Neymar sequer jogou em gramados sintéticos desde que voltou ao Brasil, mas já vetou uma partida do Santos no Allianz Parque. O Peixe chegou a encaminhar um acordo com o Palmeiras para mandar o jogo contra o Água Santa no estádio, mas Neymar e seu estafe foram contra.
"Tivemos uma questão envolvendo a recuperação do Neymar. A grama do Allianz, assim como outras, é de boa utilização. Mas, quando já tínhamos organizado junto ao Palmeiras e organizado até junto à Federação Paulista a tentativa de transferência, veio esse parecer do departamento médico e de todo o estafe da saúde para que a gente tivesse uma precaução. Nada que não pudesse ser confirmado. Apenas uma precaução", disse Marcelo Teixeira, presidente do Santos.
A recusa de Neymar se deu pelo Peixe ser mandante na partida e o camisa 10 querer evitar atuar em gramado sintético. Quando o Santos for ao Allianz como visitante, o craque estará no grupo.
Lucas recentemente também pediu para não jogar no estádio palmeirenses no clássico entre São Paulo e Palmeiras. Ele acabou entrando na segunda etapa.
Apesar de ter tomado corpo logo após recusas de Neymar e Lucas pelo Allianz, pessoas próximas ao trio afirmam que o movimento não é contra o estádio palmeirense, nem mesmo apenas contra lesões. Da parte dos jogadores, o foco está na jogabilidade.
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