Promovido ao elenco profissional do Fluminense por Fernando Diniz em 2022, o volante Alexsander, hoje no Al-Ahli, da Arábia Saudita, afirmou em entrevista ao UOL que levou um susto com a postura do treinador em seus primeiros treinos.
Do susto ao conselho
Os gritos de Diniz assustaram Alexsander. Apesar do susto inicial, o volante e os demais jogadores que trabalhavam com o treinador à época no Fluminense tentavam ver as cobranças de uma maneira diferente, apesar de ficarem chateados às vezes.
De início, você toma um susto. Ele fica gritando, mas depois você começa a entender que ele está fazendo isso para o nosso bem, para aconselhar. Às vezes você tem mesmo que tomar esse choque de realidade. A gente procurava sempre ver por esse lado, não do lado de confronto, de que ele estava querendo brigar. Mas sim de que ele estava querendo que a gente evoluísse, fosse diferente. Às vezes, a gente não quer ouvir certas coisas, é normal, e acaba ficando um pouco chateado. Mas depois, no outro dia, já está tudo bem. A gente conversa, tem jogo. Alexsander, ao UOL
O impacto inicial não causou má impressão. A relação entre Diniz e Alexsander foi de "pai para filho", segundo o jogador. Foi com o treinador no comando que Alexsander se firmou no Fluminense e se tornou uma peça importante, atuando como volante e lateral.
A gente conseguiu ter uma engrenagem muito boa. Literalmente, falava como um pai mesmo, tivemos essa relação de pai para filho, de confiança, de uma pessoa que é experiente, que conseguia já enxergar lá na frente os nossos passos no futebol.
Hoje na Arábia Saudita, Alexsander não esquece um conselho dado pelo atual treinador do Cruzeiro. A orientação veio em conversa sobre pressão externa e a realidade de jogar em um clube como o Fluminense.
[A relação] Foi muito boa desde o início, porque ele sempre procurava deixar a gente à vontade, falar que a gente tem que fazer o que a gente sempre fez, que é jogar futebol, não ter medo, tem que ter coragem para jogar. Tem torcida, pressão, mas ele sempre deixou claro que confiava em mim, que era para eu ficar à vontade e fazer como se eu estivesse jogando uma pelada na favela, em questão de estar tranquilo, de ter essa confiança em mim.
Diniz não foi o único "pai" de Alexsander no Fluminense. Atletas mais experientes como Fábio, Felipe Melo, Marcelo e Ganso acompanharam de perto o surgimento do jogador e deram conselhos quanto ao futuro dentro e fora do futebol.
Eles sempre aconselhavam na tomada de decisões, em relação de coisas dentro e fora de campo, falando o que era certo fazer, porque eles já passaram por isso. Eles foram muito importantes no meu processo de evolução, de um molequinho para ser um jogador do Fluminense, lidar com a torcida. Isso que aprendi, eu passo para moleques também.
Aflição com situação do Fluminense
Alexsander disputou 15 jogos pelo Fluminense na atual edição do Brasileirão. Vendido em agosto, ele tem acompanhado de longe o drama da equipe carioca na luta contra o rebaixamento à Série B.
Aflito e encontrando problemas para acompanhar alguns jogos por causa do fuso horário, ele acredita que o time conseguirá se livrar da queda.
Eu vejo alguns jogos quando é um pouco mais cedo, às vezes tem um jogo aqui que é 4h30 (horário local) e não tem como assistir eu já tenho que estar dormindo. Quando é um pouquinho mais cedo, eu vejo um pouco. Estou sempre acompanhando as notícias [...] O coração fica um pouco aflito, o Fluminense não merece estar nessa posição. Tem de estar brigando sempre por títulos, por coisas que o Fluminense sempre fez. Desde molequinho a gente é acostumado com estar brigando por títulos. Eu tenho certeza que o Fluminense vai continuar na Série A porque tem moleques capacitados e jogadores bem capacitados para isso.
Arábia Saudita ao invés da Europa
Alexsander foi um dos vários jovens brasileiros contratados por clubes sauditas na última janela. Além dele, o futebol local contratou Wesley (ex-Corinthians), Ângelo (ex-Santos e Chelsea) e Marcos Leonardo (ex-Santos e Benfica).
Ser contrário ao 'habitual' agrada Alexsander. O jogador explicou o motivo de ter topado ir para o mercado saudita antes mesmo de ir para a Europa, de onde vinha recebendo algumas sondagens.
É bom contrariar um pouco, ser diferente das expectativas. É um desafio importante na minha carreira. O futebol aqui está crescendo bastante, muitos jogadores estão vindo para cá. Eu acho que fazer um pouco diferente também não é tão ruim. É um passo gigante na minha carreira para eu estar aprendendo outra cultura totalmente diferente, outras pessoas, outros estilos de pensamento também. Eu fico feliz por isso e eu vou estar sempre me desafiando.
O que mais ele disse?
Adaptação na Arábia Saudita: "O calor aqui é muito. A questão da língua também [atrapalha], porque agora que eu estou começando a pegar o inglês. Quem me ajudou bastante no início foram Ibañez e Firmino [companheiros de time]. Essa é a minha primeira saída do Brasil, então pegou um pouco no início, mas agora eu já estou começando a me adaptar melhor em relação a isso. E tem a questão do treinador [Matthias Jaissle], é outra mentalidade, não tão diferente, mas é porque eu jogava com o Diniz, que tem um estilo único de jogar e aqui já tem outro."
Clã brasileiro na Arábia Saudita: "A gente só anda junto aqui. A gente sempre está marcando para fazer as coisas. Eu vou na casa deles ou vice-versa, a gente conversa, sempre troca uma ideia para estar as famílias juntas, para poder estar se atualizando das coisas aqui, porque eles já estão há mais tempo, então eles me ajudaram bastante no início também, e a gente continua com essa amizade assim."
Recepção boa dos jogadores sauditas: "É muito legal, porque eles estão sempre brincando com a gente, querendo aprender algo em português também. Eles são muito receptivos. E até os estrangeiros também que estão ali, o Kessié e o Mahrez. Então, são muito legais nessa parte. Foi algo que eu gostei bastante também, porque isso me ajudou a poder ter mais liberdade para poder falar, para poder fazer as coisas no campo."
Sonha com Europa? "Todo jogador sonha em jogar na Champions, em estar mais visível, mas eu acho que aqui também está sendo muito importante para mim. Hoje eu estou totalmente focado no Al-Ahli, para poder me destacar aqui, para a gente poder ser campeão aqui.
Seleção é possível? "Já vinha sendo convocado na base, acho que eles já me conhecem. A questão é de estar sempre me mantendo preparado, porque a gente nunca sabe quando vai acontecer, quando vai convocar. Eu tenho na minha cabeça que vou chegar lá, é um sonho de criança e eu vou estar sempre trabalhando bastante para isso, independente de onde eu estiver jogando, se é aqui, se é em outro país, eu vou estar sempre me dedicando e estar sempre preparado."
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