Depois de quase 14 anos atuando no futebol europeu, com passagens por Bayer Leverkusen, PSV e RB Salzburg, o zagueiro André Ramalho decidiu explorar novos desafios e optou por voltar para o futebol brasileiro, por onde nunca chegou a atuar profissionalmente.
Propostas não faltaram. Diversos clubes do Velho Continente e do Brasil, inclusive o Internacional, fizeram contatos para contratar o defensor. Mas Ramalho não teve dúvidas quando o Corinthians bateu a sua porta. Mas por que o Timão? A resposta já estava na ponta da língua: "É o Corinthians", como disse o defensor em entrevista ao Zona Mista do Hernan, do UOL.
"Durante todo esse tempo que eu tive de férias e final de contrato, acho que nunca tive tanta proposta na minha carreira, tanto do Brasil como de fora. Foi um momento que tive que pensar muito em tudo, não só para qual clube eu estava indo, mas o que seria melhor para a minha carreira e vida pessoal. A primeira vez que comentei do Corinthians para os meus familiares, porque não costumo abrir muito da minha vida para quase ninguém, eles sentiram que eu tinha uma tendência pelo Corinthians, pela forma como comentei. Acho que decide pelo coração mesmo. Nunca ninguém precisou me explicar o que significa esse time, sou daqui (São Paulo) e sei muito bem como é".
Nem a fase conturbada e de instabilidade nos bastidores assustou Ramalho. Ciente dos desafios, o zagueiro viu que o projeto apresentado renderia frutos, e agora pode aproveitar um pouco do 'respiro' no Brasileirão.
"Quando veio o interesse foi algo que me animou muito, a gente tem que entender que é um prazer e uma satisfação enorme vestir essa camisa, uma honra que não é todo jogador que tem. Para mim, vir uma proposta do Corinthians e poder ter a oportunidade de vestir essa camisa foi algo que eu não poderia deixar passar, independente de toda a situação, sabemos das dificuldades, que vem de um ano de reestruturação em quase todos os setores. Eu estava ciente, mas sabia da grandeza do clube e que o clube estava buscando novas contratações e retornar a ser um protagonista no futebol brasileiro".
Elenco 'blindado'
"Tanto o Fabinho (soldado) como o próprio presidente são grandes responsáveis por estar blindando de muita coisa que acontece extra-campo, que é importante nos dar essa tranquilidade para que a gente possa focar somente no que está no nosso controle, o treinamento, o dia a dia. Às vezes, muita gente quer causar uma instabilidade dentro do clube, plantando algumas notícias, que como falamos entre a gente, não temos que ouvir esse tipo de coisa e se possível nem deixar chegar até nós".
Se antes o ambiente interno era afetado por notícias extra-campo, hoje o Corinthians vive uma espécie de 'blindagem', a qual André Ramalho credita as figuras do executivo de futebol, Fabinho Soldado, e o presidente Augusto Melo.
Para o zagueiro, 'muito se deve' a Soldado. A figura do dirigente, que deixou o Flamengo no início da temporada para chefiar os departamentos de futebol do Timão, vem agregando ainda mais o elenco e ajudando a focar na bola.
"Desde que eu o conheci (Fabinho Soldado) tive uma ótima relação, e deu para ver que um dos motivos de estarmos conseguindo crescer, hoje, tanto o nosso time como o clube também, se deve a ele com certeza, por estar fazendo esse grande trabalho neste ano. Muito se deve a ele, vejo com bons olhos o que ele vem fazendo e essa blindagem, que nos ajuda muito e possa nos preocupar somente com o dentro de campo".
Corinthians protagonista em 2025
Praticamente livre do rebaixamento, o Corinthians foca suas atenções em novos objetivos nesta reta final de temporada. André Ramalho quer um 2025 diferente para o clube paulista e, se possível, com vaga na próxima edição da Copa Sul-Americana.
O último título do Timão foi o Paulistão de 2019, conquistado em 21 de abril daquele ano. De lá para cá, o Corinthians disputou 24 torneios sem vencer nenhum. André Ramalho vê a hora de dar um basta nesse jejum e recolocar o alvinegro no caminho das vitórias. Para isso, a mentalidade precisa ser diferente para 2025.
"Esse tem que ser o nosso objetivo (voltar a ser protagonista em 2025). Temos um elenco qualificado para isso e estamos em um clube dessa proporção. Logicamente temos que entender que estamos falando do ano seguinte e o nosso foco ainda tem que ser passar por essa situação, tudo que vem acontecendo e finalizar bem o ano, não só se distanciar da zona do rebaixamento, mas também brigar pela Sul-Americana. Muita gente fala da Libertadores, mas a gente sabe que é muito difícil porque tem que ganhar todos os jogos para isso, o que é possível, porém temos que manter os pés no chão".
"Esse ano brigar o máximo possível e, sim, 2025 trabalhar para poder ser o Corinthians que todo mundo conhece, que é brigar por todos os títulos possíveis. Essa é a missão do clube e a nossa, esse tem que ser o pensamento para todos que estão aqui, quem pensa diferente disso acho que não tem que estar aqui, a mentalidade de todo mundo aqui, dentro desse clube, tem que ser sempre jogar por títulos e brigar pelo mais alto lugar".
A virada de chave
Corinthians x Palmeiras, dia 4 de novembro, 32ª rodada da competição nacional. Uma derrota poderia complicar de vez a situação do Timão no Brasileirão ou afastar o time do Z4. As recentes eliminações na Copa do Brasil e Sul-Americana pesavam contra o time paulista no clássico, mas o trabalho mental para o Derby foi diferente.
A vitória foi um divisor de águas para o seguimento do time na reta final de temporada. Tirou um peso que, segundo Ramalho, faz o Corinthians voltar a mirar 'coisas maiores'.
"O futebol é muito mais complexo do que o povo pensa. Estamos em um time que vem se reestruturando, o Corinthians de 2023 era um time e o de 2024 é outro, tem poucas peças que estavam ano passado e que agora continuam aqui. Isso é um processo, se você falar o que temos que melhorar como um time é a nossa constância em fazer jogos regulares e concretizar vitórias, acabou não acontecendo contra o Flamengo e nem na sul-americana, mas aconteceu contra o Palmeiras. Acho que isso se deve ao nosso foco e concentração, sabíamos da importância desse jogo, estávamos frustrados com o fato de termos sido eliminados recentemente, e sabíamos que esse jogo poderia ser um divisor de águas para nós, não só no Campeonato Brasileiro, mas na forma como vamos finalizar esse ano.
"Isso exige um trabalho mental para todo mundo estar unido e caminhando na mesma direção. Entendemos a importância desse jogo e mostramos isso. Conseguimos não só um bom resultado, mas também fazer um bom jogo e mostrar para todo mundo que temos time para brigar por coisas maiores".
Memphis com a 'mentalidade certa'
'Ligados' pelo PSV, Ramalho e Memphis não chegaram a atuar juntos no time holandês, mas coube ao destino que os dois agora dividam vestiário no Corinthians.
Memphis não veio ao Brasil 'para passar tempo', como conta Ramalho. A vontade em apreender e se adaptar a uma nova liga e idioma surpreendeu o defensor.
"Ele entendeu muito rápido o que é jogar no Brasil e o que é o Corinthians. Ele faz questão de estar aprendendo, se informando, e não é a toa que já está familiarizado com o clube, brinca lá também. Todo mundo vê ao redor as coisas que ele faz, nas redes, tem tudo para dar cada vez mais certo. É um cara interessado e que não vem aqui para passar tempo e chegou com a mentalidade certa".
São apenas dois meses de Corinthians, mas Memphis se tornou peça incontestável no ataque Alvinegro. Em 10 jogos, o atacante balançou as redes três vezes e deu quatro passes para gol. Para Ramalho, era a peça que faltava na equipe.
"Ele tem um perfil que a gente precisava no time, é um cara que consegue segurar a bola, entende o jogo, temos isso no grupo obviamente, porém ele vem com uma qualidade extra, não é a toa que disputou a última Eurocopa, mostra muito o nível dele".
O Zona Mista do Hernan, apresentado pelo colunista do UOL André Hernan, vai ao ar às segundas-feiras, às 12h, no canal do UOL Esporte no YouTube.
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