Novatos e promissores: os segredos dos chamados 'azarões' da Copinha

A Copa São Paulo de 2024 tem algumas surpresas entre os 16 melhores times do campeonato, que começou com 128 clubes na disputa. Entre elas estão três novatos: Ibrachina, Aster Itaquaquecetuba e Atlético Guaratinguetá.

Seus anos de vida, somados, não completam nem uma década, mas eles já foram responsáveis por eliminar times tradicionais como Vitória, Bahia e o último campeão da Copinha, o Palmeiras. Mas o resultado, segundo os próprios times, não é coincidência.

Aulas de inglês e intercâmbio: Ibrachina é iniciativa de instituto chinês

O Ibrachina FC foi fundado há apenas três anos, em 2021, com sede na Mooca, zona leste de São Paulo. O clube é um braço esportivo do Instituto SocioCultural Brasil/China, que compartilha a mesma sigla.

A ideia partiu dos irmãos Thomas e Henrique Law, que quiseram expandir o projeto Ibrasocial, uma escolinha de futebol que atende crianças vulneráveis na Vila Carioca, próxima de Heliópolis, favela de São Paulo.

Percebemos que os meninos tinham um grande potencial para se tornarem atletas de alto rendimento se tivessem a estrutura e o acompanhamento adequados em sua formação.
Henrique Law, ao UOL

Hoje, o Ibrachina tem equipes nas categorias sub-15, sub-17 e sub-20. Os jogadores não precisam provar nenhuma conexão com a China para entrar nas equipes, mas a gestão está negociando intercâmbio em algumas universidades do país.

É mais uma questão de oportunidade do que de preocupação. A internacionalização é um passo importante na carreira de um jogador, por isso estimulamos nossos atletas a aprender inglês e estamos estudando a possibilidade de fornecer aulas de mandarim aos meninos.

Para entrar no clube, os meninos passam por peneiras, recebem indicações de outros profissionais do futebol ou são "garimpados" por olheiros nos projetos sociais do Instituto.

"Além do Ibrasocial, também mantemos a parte esportiva do Projeto Futuro Brilhante, em São Mateus", conta.

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O clube ainda não pretende se lançar no profissional, mas Henrique diz enxergar essa etapa como uma "evolução natural" para o futuro.

No momento, estamos focados apenas na formação dos atletas de base. Vários jogadores que começaram com a gente já foram para clubes grandes. Posso citar como exemplo o Riquelme, que hoje veste a camisa do Palmeiras, e estava em nossa seleção no mundial sub-17.

Esse é o segundo ano seguido que o jovem Ibrachina chega entre os 16 melhores da Copa São Paulo. Dessa vez, ele chega ao campeonato certificado pela CBF como um "clube formador" de novos jogadores. Segundo Henrique, essas conquistas são reflexo do comprometimento —e da meta— com o crescimento do projeto.

Isso vem de planejamento, preparo e dedicação de todos os profissionais e atletas comprometidos com nossos objetivos. E vai além disso. Vemos esse comprometimento no olhar e nos gritos da torcida, que tem os pais, irmãos, amigos e vizinhos desses jovens talentos, que se emocionam com a gente a cada gol.

"Recém-nascido", Aster Itaquaquecetuba eliminou o Palmeiras

O Aster Itaquá virou sensação na Copinha depois de eliminar o atual campeão, o Palmeiras, que lutava pelo terceiro título seguido na competição. O time de Itaquaquecetuba, na região metropolitana de São Paulo, é o caçula da competição, com apenas seis meses de trabalho.

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Em 2023, o Aster —conhecido por seu time no Espírito Santo, criado em 2019— anunciou nas redes o início oficial de sua filial em Itaquaquecetuba, adicionando a cidade à marca. Ao contrário da sede capixaba, que também tem equipe profissional, sua base paulista foca apenas na formação dos jogadores — assim como os outros "azarões" dessa Copinha.

O Aster Itaqua foi oficialmente filiado à Federação Paulista de Futebol em outubro de 2023, o que permitiu sua inscrição em todos os campeonatos de base organizados pela entidade.

Em sua primeira participação na Copinha, a equipe sub-20 se classificou em primeiro no grupo 23 (vencendo Santo André, Cruzeiro-AL, Oeste e empatando com Sport).

O projeto de "importar" o time teve apoio da prefeitura de Itaquaquecetuba; a gestão comemorou a volta de um clube à cidade após 23 anos sem futebol.

O objetivo, até o momento, também é formar jogadores para outros mercados. O site do Aster Brasil afirma que atletas da base já foram para o Botafogo e para o Braga, de Portugal.

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Fundado por ex-goleiro, Guaratinguetá prioriza jogadores da cidade

O clube foi fundado pelo ex-goleiro João Carlos Fonseca, o Cacalo, que jogou na Esportiva, o primeiro clube profissional de Guaratinguetá, por 17 anos.

Aposentado, ele virou preparador de goleiros com passagens pelo Corinthians e pelo futebol na Coreia, e voltou à cidade do interior paulista com a vontade de criar um novo clube para a cidade.

Foi então que o A.C Guaratinguetá nasceu, em 9 de novembro de 2021, com três sócios: Carlos Arine, o atual presidente; Marcinho Guerreiro, ex-jogador com passagem pelo Palmeiras; e Luís Fábio, que não trabalhava com futebol.

A gente surgiu com a ideia de ser clube formador, primeiramente, até pela ideia de formar seres humanos. A gente acredita que o trabalho social e o esporte caminham juntos.
João Salvador, supervisor de futebol do clube, ao UOL

Em 2022, o clube teve equipes em todas as categorias do sub-11 ao sub-17, além de sub-17 feminino. Já em 2023, a participação em campeonatos foi enxugada, com grupos no sub-17 feminino e sub-20 masculino.

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No ano passado, a Copinha do Guaratinguetá acabou com eliminação na primeira fase do mata-mata: os meninos foram eliminados nos pênaltis em jogo contra o Fluminense.

O Guará seguiu com parte do elenco, mas trouxe alguns reforços para a temporada 2024 —que já é a melhor de sua curta história. "Começamos a trabalhar 4 meses antes da competição, com um grupo muito bom. Os atletas são muito boas pessoas, que é o que a gente preza", destaca João.

Os jogadores são escolhidos de três formas, mas priorizando moradores da cidade. "A primeira peneira é só para quem mora em Guaratinguetá e região, como Lorena e Aparecida. A gente faz uma depois para pessoas de qualquer lugar. A outra chance é indicação, de empresários ou clubes parceiros."

O supervisor de futebol confessa que, hoje, os jogadores de fora são essenciais para formar um time —que "perde", em média, três meninos a cada campeonato, negociando seu passe. O atacante Wendell, por exemplo, foi emprestado ao Palmeiras no ano passado.

Disseram que a Red Bull ia chegar entre os 16, Bahia ia chegar entre os 16, e que nós éramos os azarões. Mas são pessoas que não têm informação do trabalho que é feito aqui. Dentro de campo são 11 contra 11, todo mundo lutando pelo mesmo sonho, e na Copinha ainda mais, porque é só um jogo que decide se você morre ou fica vivo. Quem puder acompanhar nossa história um pouco mais vai poder ver que estão errados.

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