O que aconteceria se Lionel Messi fosse jogar em um clube do Brasil
Lionel Messi já definiu que não será mais jogador do Paris Saint-Germain a partir de 30 de junho e ficará livre no mercado. O futuro imediato do craque argentino passa longe da América do Sul, mas e se ele aparecesse por algum clube do Brasil?
Melhores do mundo, como Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Romário, desembarcaram por aqui nas últimas três décadas. Mas o contexto atual é diferente. Por isso, o UOL ouviu especialistas em alguns setores do mercado — finanças, marketing e direito — para entender que tipo de impacto o atual melhor do mundo teria no clube em questão e no mercado brasileiro em 2023.
Receitas gerais
Messi traria dinheiro para os clubes. "Temos que analisar o Messi pelo que ele faz. Ainda é um atleta com grande potencial competitivo. Se ele decidir partidas e levar o clube aos títulos, isso tem um impacto financeiro positivo, à medida que parte importante das receitas dos clubes está associada à performance dentro de campo. E hoje não temos atletas decisivos a ponto de fazerem tamanha diferença no Brasil. Seria possível ter impactos com receitas de bilheteria e sócio-torcedor, pois haveria um aumento no interesse em vê-lo em campo. E este seria um impacto sistêmico, afinal, Messi jogaria 19 partidas como visitante no Brasileirão", disse César Grafietti, economista e sócio da consultoria Convocados.
Marketing
Impacto na chegada de Messi, mas não a longo prazo. "Impacto e resultado de marketing são duas coisas não necessariamente conectadas. É evidente que uma contratação como a do Messi traria muito impacto ao mercado, muitas possibilidades surgiriam e um nível de atenção alto se daria, sobretudo no primeiro momento, ao clube que o fizesse", afirmou Bruno Maia, CEO da Feel The Match, ex-VP de marketing do Vasco.
No longo prazo, não necessariamente. Primeiro porque o Messi não é um cara muito interessado em marketing, tem uma imagem discreta, poucas relações comerciais e um estilo que torna difícil imaginá-lo realizar uma transação ancorada em compromissos extracampo. Segundo porque, do lado do clube, os maiores impactos estariam ligados ao fato de este contratante estar presente em campeonatos fortes, bem distribuídos globalmente, e com capacidade de estender esse impacto a muitos lugares a cada vez que o Messi entrasse em campo". Bruno Maia, CEO da Feel The Match, ex-VP de marketing do Vasco
Patrocinadores
Clube de Messi ganharia novos parceiros para pagar o argentino. "Certamente, alguns patrocinadores novos surgiriam para o clube, que teria que negociar rescisão de alguns para criar novos espaços e, provavelmente, direcionariam boa parte da margem nova gerada por essas receitas para cobrir exclusivamente um salário deste atleta, gerando uma provável discrepância no elenco e tendo que administrar efeitos de ter um jogador de outro nível para o contexto que descrevemos, de um campeonato de baixo impacto e pouca capacidade de gerar efeito de consumo, na proporção que um investimento deste vulto demandaria", declarou Bruno Maia.
Despesas do clube
Conta pode não fechar. "Não existe almoço de graça. Esse suposto impacto nas receitas vem associado a custos elevados. Quanto ganha Messi? 30 milhões de euros livres anualmente? São R$ 150 milhões anuais, mais encargos e benefícios, o que leva essa conta para perto de R$ 200 milhões. O adicional de receitas que ele agrega não parece perto de cobrir esses custos. Logo, é sempre mais fácil ver essas transações pelo lado positivo, o que costuma ser um erro recorrente por parte dos dirigentes. A conta raramente fecha", disse César Grafietti.
Atratividade do campeonato
Messi repercutiria no Brasil, não no resto do mundo. "Do lado do clube, os maiores impactos estariam ligados ao fato de este contratante estar presente em campeonatos fortes, bem distribuídos globalmente, e com capacidade de estender esse impacto a muitos lugares a cada vez que o Messi entrasse em campo", falou Bruno.
No Brasil, hoje, Messi estaria fadado a repercutir no próprio Brasil. Algumas camisas a mais deste clube seriam vendidas e alguma fração de royalties viriam disso. É completamente diferente quando se fala da hipótese de um Mbappé ir jogar no Real Madrid, que tem visibilidade mundial toda vez que entra em campo. Ou do LeBron James ao se mover para o Lakers. Os recentes movimentos do Oriente Médio, também de baixo interesse global, têm mais a ver com uma expectativa de construção de imagem daqueles países do que retorno de marketing" Bruno Maia
"O mercado nacional ainda é muito incipiente com relação a negócios desse calibre, até porque hoje os clubes não têm uma visão como os clubes da Premier League, da La Liga e outros mais que são inseridos em ecossistemas mais sofisticados", disse Marcos Motta, advogado e sócio do escritório Bichara & Motta.
"Há exposição maior da marca do clube internacionalmente, e isso é bom desde que haja uma divulgação organizada da competição", completou César Grafietti.
Complexidade contratual
No Brasil, o foco de uma contratação dessa seria muito unidimensional, que é uma contratação onde o foco é o clube e o jogador, apenas. Quando você faz uma operação de calibre como Neymar ou Cristiano Ronaldo, de jogadores grandes, as contratações têm um aspecto pluridimensional. Por quê? O foco nesses mercados não é o clube e não é o jogador. O foco é o produto. Então, você constrói uma operação lastreada em propriedades que vão muito além da relação linear contratual de trabalho". Marcos Motta
Não é só pagar salário a Messi. "As remunerações praticadas não são baseadas somente em salário, porque é impossível você bancar uma contratação de um special one apenas com isso, em função de fair play financeiro. O clube se vê obrigado a considerar propriedades intelectuais, salário, remunerações de patrocinador e de conteúdos. Ou seja, a relação nesses mercados mais sofisticados é de produto para produto. O jogador é um produto e o clube é um hub de conteúdo. Nessa composição de fatores, você chega a uma remuneração do atleta, que não é só salário e direito de imagem."
"Os clubes brasileiros não estão inseridos em um ecossistema monetizável, além da relação linear, atleta-clube. Esse tipo de operação só se sustenta quando há uma relação produto para produto, e não jogador para clube. Se você pega um contrato de um Manchester United, a parte trabalhista você faz em cinco minutos, até porque o empresário já acertou as bases salariais, a comissão e os contratos são padrões. Agora, quando entram as relações comerciais, aí que a mágica começa. Porque o clube quer poder explorar todas as propriedades intelectuais do atleta. E o atleta quer ter para ele as suas propriedades intelectuais. O jogador é criador de conteúdo, ele tem como monetizar de maneira muito vantajosa as suas propriedades", finalizou Marcos Motta.
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