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Paulo Andrade busca ser 'a voz' da Liberta e sonha com Brasileirão e Euro

Do UOL, em São Paulo

25/04/2023 04h00

Paulo Andrade contou em entrevista para o UOL que quer se tornar a voz da Libertadores, assim como já tem a identificação com a Premier League.

O narrador também citou que tem o sonho de narrar partidas do Campeonato Brasileiro e da Eurocopa, competições em que ainda não trabalhou. Paulo é narrador da ESPN e do Star+, que exibirão mais de 150 jogos de Libertadores e Sul- Americana em 2023.

Ser a voz da Libertadores: "É exatamente isso que eu quero, que as pessoas lembrem de um lance e seja minha voz que venha na mente delas. (...) Quero ser um narrador marcante. Então, não tem prêmio maior do que escutar as pessoas repetindo palavra por palavra de uma narração minha de um gol ou lance importante do time delas."

Sonho do Brasileirão e da Euro: "Eu, na televisão, nunca narrei o Campeonato Brasileiro e gostaria de narrar. Para me aproximar ainda mais dos torcedores brasileiros, quem sabe, mais para frente, narrar um Brasileirão. Tem também a Eurocopa, já narrei tanto futebol internacional, mas nunca uma Euro."

O que disse Paulo Andrade

Como é narrar Libertadores e Sul-Americana?

"É uma honra e é um grande desafio, já que passei anos e anos narrando futebol internacional. É uma novidade e eu gosto muito de ser desafiado na carreira, de enfrentar coisas novas. (...) Então, quando pinta uma oportunidade como essa, de ter o contato muito mais próximo com o torcedor brasileiro, com a paixão brasileira pelo próprio time do coração, é muito legal.

Confesso a você que, num primeiro momento, eu lutei um pouco para acertar o tom da narração dentro daquilo que eu considero ideal, porque é diferente de você fazer um jogo absolutamente neutro. Quando você faz um jogo de um time brasileiro, e que sua torcida é a esmagadora maioria que está assistindo, contra um time estrangeiro, você tente a fazer a narração voltada para essa torcida, sem torcer e sem distorcer"

Adaptação para o futebol brasileiro

"Eu me preparo mais para esses jogos. Como eu pareço ter a aprovação das pessoas pelo que venho fazendo no futebol internacional nos últimos anos, eu achei que seria legal trazer o mesmo nível e número de informações para os jogos dos brasileiros na Libertadores também. Primeiro, que tenho uma enorme responsabilidade com os torcedores e faço questão de, por respeito às torcidas brasileiras, mostrar bem quem está do outro lado, de explicar quem é o adversário. Os torcedores têm o direito de saber que tipo de time eles estão enfrentando. Então, a preparação demanda mais tempo, eu demoro mais."

"Quando comecei a fazer Libertadores, eu não quis ser o dono da verdade. Então observei como a competição era transmitida aqui no Brasil, como os narradores faziam os jogos. Acho que eu tenho o dever de manter um pezinho nisso, mas, ao mesmo tempo, dar a minha assinatura. Neste momento, vou para as transmissões da Libertadores muito mais seguro de mim."

Relação com os torcedores nas redes sociais

"As críticas e os elogios aumentaram, porque a vitrine é muito maior e a audiência dos jogos também. Ainda bem, eu recebo bem mais elogios, mas, ao mesmo tempo, eu estou mais suscetível a críticas, e até críticas passionais. Vai ter gente que vai falar: 'Você narrou com mais apetite o gol do Flamengo do que o do Palmeiras, você é um puxa-saco do Flamengo'. Pelo fato de mexer com a paixão das pessoas, eu fico mais vulnerável a esse tipo de avaliação. Acho que faz parte do jogo."

"Eu vejo com muita alegria [os torcedores brasileiros acompanhando as minhas narrações], porque recebo muitos comentários como: 'Caramba, que legal ouvir você narrar o meu time depois de tanto tempo'. Isso é gratificante demais, porque a gente sabe o valor daquele momento, daquelas duas horas de jogo, ainda mais de Libertadores. Então, eu carrego isso, de certa forma, como um peso, no bom sentido, e como responsabilidade. Acho que a minha concentração e meu foco são ainda maiores nestes jogos. Eu trago como combustível ouvir/ler uma pessoa falando que minha narração foi emocionante, porque o torcedor vai esperar ainda mais no próximo jogo."

Gols marcantes da carreira

"Tem o gol do Alisson, que é um gol muito especial, muito diferente e que envolveu uma série de aspectos emocionantes. Tanto que o próprio Alisson gostou tanto da narração que quis, de alguma forma, ter um contato comigo para me parabenizar e dizer que tinha gostado e sentido nas minhas palavras a emoção que ele mesmo sentiu. Os gols mais legais da minha carreira são aqueles em que eu consegui encaixar o contexto, a emoção, onde pude ter uma sacada diferente.

O do Manchester City, em 2012, que foi o do milagre, porque eles perdiam o campeonato e viraram o jogo em 4,5 minutos nos acréscimos, então o contexto ficou muito favorável para aquela narrativa. Teve também o gol da Alemanha na final da Copa de 2014, foi um gol muito legal, porque era exatamente aquilo que eu queria fazer. Eu até brinco que eu queria que o grito de gol não acabasse nunca. O do Gabigol, na Libertadores, porque foi meu primeiro gol em uma final de Libertadores e acho que consegui colocar o que o Gabigol representa em momentos decisivos para o Flamengo. Ainda bem, existem alguns gols especiais."

Hegemonia do Brasil nas competições continentais

"Para nós brasileiros é ótimo. Que bom que existem tantas vagas para times brasileiros e que eles têm feito jus a essas vagas. Mas, por outro lado, seria legal se o futebol sul-americano pudesse, economicamente e até administrativamente, se organizar para chegar ao nível que nós temos hoje. Porque, com toda nossa [futebol brasileiro] desorganização, nós estamos acima dos demais. (...) Eu não vejo, num primeiro momento, a chance dessa equiparidade acontecer, pelo menos não num futuro bem próximo. Acho que cada um está procurando sua evolução, mas a do futebol brasileiro está alguns passos à frente das outras escolas sul-americanas."

Disparidade entre futebol europeu e brasileiro

"Acho até que nós já chegamos [mais próximos do futebol europeu] de alguma forma. Há quinze anos, na Libertadores não importava contra quem era a partida, o quanto a bola rolaria, o que importava era seu ônibus escapar das pedradas, das coisas que jogavam das arquibancadas. Então, tinha a mística da catimba e a gente olhava mais para o que envolvia o jogo do que a qualidade técnica partida em si. Acho que isso diminuiu consideravelmente com o passar do tempo.

A transmissão da Conmebol é de primeiro nível, não deve nada às transmissões internacionais, o nível técnico do futebol sul-americano, principalmente brasileiro, está melhor, existe menos essa coisa da catimba, do extracampo para ganhar um jogo a qualquer preço. É lógico que ainda tem um caminho longo, ainda existe a cultura sul-americana da reclamação, do bolinho envolta do árbitro. É passo a passo, não dá para querer acelerar o processo, mas se pegarmos um recorte de 10, 15 anos, a Libertadores já é disputada em um outro nível, mas mantendo toda sua mística e magia. Hoje tem muito mais futebol do que em anos anteriores."

Elogios do Alisson

"Não é sempre que acontece, aliás quase nunca, porque, por mais que a gente 'conviva' com esses caras, o nosso contato com eles é bastante restrito, não é uma coisa fluente. Então, para mim foi inesperado e absurdamente gratificante. Eu pensei: 'Se o Alisson, que era o dono da emoção, entendeu que as minhas palavras refletiram o que ele sentiu naquele momento, então a missão está cumprida'.

Naquele dia eu recebi até uma mensagem do Tite falando que ficou arrepiado. Então, quando a gente tem esse tipo de contato com caras que são os protagonistas e eles aprovam seu jeito de narrar, porque eles entendem muito de futebol, é muito gratificante, o elogio é redobrado, porque eles vivem isso."

Tite

"Antes da Copa, o Tite chamou alguns jornalistas para conversar. Quando encontrei com ele, não vou falar o palavrão, mas ele me disse: 'Você tem noção do quanto você narra? Tem noção do quanto você é bom?'. E eu fiquei pensando: 'Cara, é o treinador da seleção brasileira falando isso para mim'. Ele é um cara que entende muito de futebol, que entende do jogo, que já passou por tanta coisa. Então, ouvir isso do Tite foi especialíssimo e vou levar para sempre na minha vida profissional."

Mudança no mercado

"Tem que ter espaço para todo mundo, para todos os tipos de narradores o que gosta de bordão, o que não se apoia nos bordões - que é o meu caso -, aquele que gosta mais de conversar, quem faz a transmissão voltada para o público da internet, como a Cazé TV, que faz muito sucesso. Enfim, que bom que estão surgindo muitos nomes e de estilos diferentes.

Isso posto, eu vou tentar fazer aquilo que eu gostaria de ouvir. Eu faço uma narração mais tradicional, apegada em questões técnicas, então gosto muito de dar agilidade, quero falar o maior número de nomes possíveis. Acho que é um dever meu ser ágil e contar para quem estiver em casa, antes que ele perceba, quem está tocando na bola, de quem foi o gol. Quando isso não acontece, fico remoendo na minha cabeça. Ao mesmo tempo, a experiência ter permite ser mais despojado naturalmente. Acho que consigo colocar um pézinho em cada ponto, sendo tradicional, mas também fazendo uma brincadeira. Isso é o que eu escolhi para mim, mas acho que tem espaço e público para todas as formas."