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'A vítima reconheceu Cuca como estuprador', diz advogado suíço do caso

Do UOL, em São Paulo

25/04/2023 14h23

O advogado Willi Egloff, que representou a vítima de estupro na Suíça, em 1987, afirmou ao UOL que a menina reconheceu Cuca como um dos agressores e que o sêmen dele foi usado como prova. Em sua entrevista de apresentação no Corinthians, o treinador disse que ele não foi reconhecido pela vítima.

O que aconteceu

Willi Egloff disse que Cuca foi reconhecido como "estuprador" pela menina de 13 anos atacada em um hotel em Berna, na Suíça, em 1987. Em entrevista ao UOL, o advogado afirmou: "A declaração de Alexi Stival [o Cuca] é falsa. A garota o reconheceu como um dos estupradores. Ele foi condenado por relações sexuais com uma menor."

Egloff também confirmou a informação do jornal "Der Bund", de Berna, segundo a qual o sêmen de Cuca foi encontrado na garota. Segundo ele, o exame foi realizado pelo Instituto de Medicina Legal da Universidade de Berna.

O advogado confirmou a informação que a vítima dos jogadores do Grêmio tentou cometer suicídio depois do crime. Egloff disse que foi procurado pelo pai da vítima para acompanhá-la durante o processo, que durou dois anos e foi concluído em 1989, com a condenação de Cuca e outros três jogadores.

Abaixo você pode encontrar a entrevista completa com o advogado.

Cuca ainda não comentou as declarações do advogado. O Corinthians foi procurado via assessoria de imprensa, mas até agora não se pronunciou. Quando o fizer, essa reportagem será atualizada.

Quem é Willi Egloff

Egloff foi procurado pelo pai da vítima para auxiliá-la na denúncia. Formado na Universidade de Zurique em 1974, ele atuou no caso e teve acesso aos autos do processo. Hoje trabalha em um escritório e presta consultoria nas áreas de direito de mídia e direito autoral.

Por que as declarações de Egloff são relevantes

Em sua apresentação no Corinthians, Cuca negou qualquer participação no crime e afirmou que não foi reconhecido pela vítima. Ao saber dessa declaração, Egloff disse que Cuca foi sim reconhecido. A imprensa tem tentado acesso aos documentos do processo para checar a veracidade das alegações do treinador, mas o caso segue em segredo de Justiça para proteger a privacidade da vítima.

O advogado disse também que o sêmen do então jogador foi encontrado na vítima, o que seria uma prova material da participação dele no crime. Essa informação já tinha sido publicada pelo jornal "Der Bund" em 1989.

Veja a entrevista com o advogado Willi Egloff

Egloff - Reprodução - Reprodução
Willi Egloff, advogado suíço que auxiliou a vítima na Suíça no caso Cuca
Imagem: Reprodução

UOL: Alexi Stival (apelidado de Cuca) negou qualquer envolvimento no crime, dizendo que estava apenas no quarto quando a garota foi cercada pelos outros jogadores. Para provar a alegação, Cuca afirmou que a vítima negou que ele (Cuca) tivesse participado do crime. Segundo ele, em três declarações, a vítima disse que Cuca não a atacou. "Por três vezes ela esteve lá na frente, e não é que não me reconheceu, é que eu não estava. A vítima é a moça [e disse]: 'O rapaz não está [presente no crime]'", afirmou Cuca.

Você pode confirmar essa declaração de Cuca?

Egloff: A declaração de Alexi Stival (Cuca) é falsa. A garota o reconheceu como um dos estupradores. Ele foi condenado por relações sexuais com uma menor.

UOL: O jornal Der Bund menciona que o sêmen de Cuca foi encontrado na vítima. Você confirma que esta foi uma das provas usadas no processo? Você se lembra de como este exame foi feito? Em 1987, a análise forense de DNA ainda estava em seus primeiros anos.

Egloff: É correto que o sêmen de Alexi Stival foi encontrado no corpo da garota. O exame foi realizado pelo Instituto de Medicina Legal da Universidade de Berna.

UOL: O mesmo artigo menciona que a vítima tentou cometer suicídio depois do crime. Isso realmente aconteceu? Não gostaríamos de invadir a privacidade da vítima, mas essa informação ajudaria o público a entender a extensão do trauma pelo qual ela passou.

Egloff: Esta informação está correta. No entanto, eu não me lembro com certeza se isso aconteceu imediatamente após o evento ou mais tarde.

UOL: Nós temos tentado obter acesso ao processo completo na Justiça suíça, mas sabemos que ele está atualmente em segredo. Esses documentos seriam importantes para verificar a veracidade das alegações de Cuca. Existe alguma maneira de acessar esse processo?

Egloff: Como o caso foi realizado sob proteção de privacidade, é difícil ter acesso ao arquivo.

UOL: Você se lembra exatamente por quais crimes os réus foram condenados? Você pode mencionar o artigo do Código Penal Suíço que eles violaram?

Egloff: Alexi Stival foi condenado por violar o art. 181 (coerção) e o art. 191 (fornicação com crianças) do Código Penal Suíço. Desde então, o Código Penal Suíço foi revisado várias vezes. O antigo art. 191 corresponde ao art. 187 (atos sexuais com crianças) do atual Código Penal Suíço.

UOL: Como você ficou sabendo do crime? Como conheceu [a vítima] e seus pais e qual foi o seu papel no processo?

Egloff: Fui contratado pelo pai [da vítima]. Como advogado da vítima, tive acesso completo ao processo.