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Ex-interinos da seleção dão dicas a Ramon: 'Me chamaram de louco'

Ramon Menezes, técnico interino da seleção brasileira - RAFAEL RIBEIRO/CBF
Ramon Menezes, técnico interino da seleção brasileira Imagem: RAFAEL RIBEIRO/CBF

Do UOL, em Rio (RJ) e Santos (SP)

23/03/2023 18h00

Técnico interino da seleção brasileira, Ramon Menezes está em uma posição relativamente rara, mas pela qual outros passaram antes dele. Zero promessa de futuro no cargo, necessidade de fazer o Brasil jogar bem sem conhecer os jogadores há muito tempo e a pressão pelo resultado. O adversário deste sábado (25) é Marrocos, às 19h (de Brasília).

O UOL foi ouvir dois dos interinos mais recentes na história da seleção, Ernesto Paulo e Candinho, para entender um pouco o que deve estar se passando na cabeça de Ramon e buscar dicas sobre como o interino deve agir.

Quem são eles?

Ernesto Paulo comandou a seleção por um jogo, em 1991, no hiato entre a demissão de Paulo Roberto Falcão e a chegada de Carlos Alberto Parreira. Perdeu por 1 a 0 para País de Gales.

Candinho foi o responsável pelo jogo contra a Venezuela, depois da demissão de Vanderlei Luxemburgo, em 2000: o Brasil goleou por 6 a 0.

O que prometeram a Candinho e Ernesto

Candinho: "Eu fiquei dois anos na seleção brasileira e assumi interinamente quando o Vanderlei Luxemburgo foi demitido, faltavam 15 dias para um jogo das Eliminatórias contra a Venezuela. O presidente Ricardo Teixeira me pediu para fazer o jogo, já que não haveria tempo de substituir o Vanderlei. Eu queria sair no dia seguinte em solidariedade ao Vanderlei, mas fiz esse jogo, que foi o segundo. Já havia dirigido o Brasil em um 0 a 0 com a Espanha enquanto o Vanderlei foi ver os meninos que disputariam a Olimpíada".

Ernesto Paulo: "Eu já estava com a experiência de ter sido campeão sul-americano e vice do Mundial Sub-20. Eu tinha a possibilidade na época de continuar, mais três amistosos. Mas com essa derrota, aceleraram o que já estava praticamente certo, o Parreira, que estava treinando o Corinthians".

Candinho treinou a seleção brasileira depois da saída de Vanderlei Luxemburgo - JUCA VARELLA - JUCA VARELLA
Candinho treinou a seleção brasileira depois da saída de Vanderlei Luxemburgo
Imagem: JUCA VARELLA

Ideias de jogo e convocação

Candinho: "Não houve nenhuma interferência, eu convoquei quem quis para esse jogo da Venezuela. Como não haveria tempo para treinar, eu optei por buscar entrosamento mais rápido. Convoquei o sistema ofensivo do Vasco, com Juninho Paulista, Juninho Pernambucano, Edmundo e Romário, voltei a levar o Romário que não estava indo. Na defesa, optei por Antonio Carlos e Clebão, que tinham entrosamento do Palmeiras. Eu pensei nesse ataque do Vasco e fiz, ninguém me pediu nada, ninguém reclamou. Fiz o que achei melhor".

Ernesto Paulo: "O interino tem que ser autêntico. Principalmente quem está começando. Montei a seleção que eu queria. Eu já estava com a experiência de ter sido campeão sul-americano e vice do Mundial. Estava também no Botafogo. Levei Carlos Alberto Santos, Djar, que já estavam comigo. O Ramon está montando a seleção que ele projetou, com jogadores que vão disputar o Mundial Sub-20. Ele está vendo o lado da seleção e o lado dele. Tem que botar a identidade dele, não pode se preocupar com ninguém".

Ernesto Paulo, ex-técnico do America e ex-interino da seleção - Divulgação - Divulgação
Ernesto Paulo, ex-técnico do America e ex-interino da seleção
Imagem: Divulgação

Como conseguir respeito do grupo

Candinho: "O Ramon precisa ter convicção, confiança no trabalho e nas escolhas dele. Ele trouxe alguns líderes como o Casemiro e outros meninos que ele confia. Alguns jogadores ali jogaram juntos, outros se adaptam durante o treino e vai dar certo".

Ernesto Paulo: "Primeira coisa é pedir o auxílio deles. Na época, eu estava como treinador principal do Botafogo. Cafu era meu jogador da seleção olímpica, assim como o Márcio Santos. Eu queria convocar Mozer, Ricardo Gomes, Branco, Romário. Seria uma equipe mais forte. Não tive condição. Mas fiz uma equipe boa e aproveitei jogadores que estariam na seleção olímpica. Se você chega com humildade, o profissional vai te ajudar. O grupo me ajudou muito. Era para ser 3 a 0 no primeiro tempo para nós, mas a bola não entrou. Até o 0 a 0 já não era ruim. Mas saiu o gol lá aos 44 minutos. O treinador é interino, mas ele é o treinador da sub-20. Então, é o técnico da casa".

A influência do resultado

Candinho: "A gente ganhou de 6 a 0 na Venezuela com show do Romário e o Ricardo Teixeira queria que eu ficasse, pediu muito para eu continuar depois daquele bom resultado e a aprovação da torcida, mas eu tenho caráter. Entrei na CBF por causa do Vanderlei e não poderia continuar. Pedi demissão logo depois da vitória. O Ramon fez o que tinha que fazer. Convocou meninos de futuro que ele conhece, buscou entrosamento, valorizou o futebol brasileiro. Quando convoquei, me chamaram de louco. Mas eu ganhei. E ele [Ramon] tem tudo para conseguir um bom resultado também".

Ernesto Paulo: "O resultado importa em tudo. No futebol, perdeu é uma coisa. Ganhou? "Pô, deixa o Ramon aí, o Ramon que é bom, não precisa trazer outro". No futebol, tem que ganhar. Se perder, é olhado com outros olhos. Marrocos é mais difícil do que o País de Gales que eu peguei. Ficou em quarto na última Copa do Mundo, em casa, está com moral. É mais difícil. Mas nada é impossível. Brasil é Brasil. Tomara que o Ramonzinho consiga fazer uns 3 a 0".