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Cléston, Marquinhos e Birigui: como Rockgol foi parar em museu

Paulo Bonfá e Marco Bianchi, na exposição do Rockgol no Museu do Futebol - João Victor/Divulgação
Paulo Bonfá e Marco Bianchi, na exposição do Rockgol no Museu do Futebol Imagem: João Victor/Divulgação

Do UOL, em São Paulo

04/10/2022 04h00

Já se passaram 25 anos desde a primeira edição do Rockgol com Paulo Bonfá e Marco Bianchi, que comandaram a atração entre 1997 e 2010 na MTV Brasil, O saudoso torneio de futebol entre músicos posteriormente também virou programa de auditório. Agora, o Rockgol comemora a data com uma exposição no Museu do Futebol, em São Paulo.

A mostra ocupa mais de 300 metros quadrados do museu localizado dentro do estádio do Pacaembu, na zona oeste da capital paulista. A exposição abre para o público hoje (4) e vai até 28 de fevereiro de 2023. Mas como o icônico programa que misturava humor e futebol foi parar no museu? A ideia foi do próprio Bonfá, que é o curador da mostra.

Antes da pandemia, ele queria saber se era viável e se tinha elementos suficientes para fazer uma exposição sobre o Rockgol. Para isso, foi atrás de objetos originais relacionados ao programa. O resultado dos últimos anos está no Museu do Futebol.

"A história que a gente vai contar é para que funcione para quem era fã e para quem não tem ideia, mais jovem, não gostava de futebol. Para as pessoas, vai ser muito divertido, vai mexer com a memória afetiva", disse Bonfá.

Já Bianchi foi consultado por Bonfá sobre a ideia de levar o Rockgol para o museu e declarou que a iniciativa foi totalmente do ex-narrador da atração.

"Concordei e apoiei desde o início. Fiquei só como um entusiasta à distância. Foram muitos anos, muitos programas, muitas edições do Rockgol, debates esportivos gravados em estúdio de 2003 a 2010. Então, é muita coisa. Precisa ser bem criterioso e paciente para poder selecionar aquilo que vai compor", disse o ex-comentarista do torneio e do programa.

Vista da exposição do Rockgol, antigo programa da MTV - João Victor/Divulgação - João Victor/Divulgação
Vista da exposição do Rockgol, antigo programa da MTV
Imagem: João Victor/Divulgação

A mostra apresenta 30 bandeiras de times do Rockgol que nunca existiram na vida real e eram usadas apenas no campeonato entre bandas. As músicas cantadas pelas torcidas nos torneios também estão lá. A exposição tem 50 fotos inéditas dos campeonatos. Um mini documentário sobre o programa também é exibido, além da seleção de camisetas e uniformes emblemáticos do campeonato entre músicos.

A exibição conta ainda com o cenário original do Rockgol de 2007 que o próprio Bonfá guardou em um depósito por achar bonito demais para ser descartado. Os visitantes podem sentar e tirar fotos como se fossem o apresentador do programa.

O lendário goleiro Cléston, que não se chama Cléston

Cléston ganhou fama no Rockgol - Reprodução/MTV - Reprodução/MTV
Cléston ganhou fama no Rockgol
Imagem: Reprodução/MTV

Um dos personagens mais lembrados dos tempos de Rockgol é o goleiro Cléston, um DJ que tocava com Gabriel, o Pensador, que ganhou destaque ao realizar grandes defesas. A exposição tem espaço dedicado ao lendário atleta. E um detalhe: ele não se chama Cléston, e sim Cleyston, mas adotou o nome artístico DJ Cléston graças ao sucesso obtido no Rockgol.

"Meu filho mais velho tem 9 anos, e o do meio tem 7. Eles estão em uma escolinha de futebol. Um dia, o professor falou para o goleiro: 'Cléston!', e os alunos repetiam. E aí perguntei para o meu filho se ele sabia o que era Cléston. Ele falou que não, e eu: 'fui eu que inventei'. Aí fui no YouTube achar vídeo", disse Bonfá.

"Nessa primeira edição que fomos fazer o Rockgol narrado e transmitido, sentei na cabine, me entregaram as escalações em cima da hora. O time era muito ruim, e o goleiro apareceu muito. E aí eu: 'Cléston!', fui me empolgando. Quando terminou o primeiro tempo, veio uma produtora e falou que o nome dele não era Cléston. Eu falei: 'o goleiro não pode ter um nome no primeiro tempo e outro no segundo tempo. Agora, ele é Cléston'. Aí ele virou Cléston para sempre."

Marquinhos do Rockgol

Boneco Marquinhos, personagem do Rockgol - Gustavo Setti/UOL - Gustavo Setti/UOL
Boneco Marquinhos, personagem do Rockgol
Imagem: Gustavo Setti/UOL

Outro personagem místico do Rockgol lembrado na mostra é o boneco Marquinhos, um manequim que vestia camisa do São Paulo e era uma das atrações do programa. Ele só surgiu quando o Marquinhos real, meia do São Paulo em 2004, faltou ao programa em cima da hora. Bonfá e Bianchi tiveram que achar uma solução.

"O Marquinhos confirmou presença, mas o São Paulo foi eliminado pelo São Caetano no Paulista, e ele ficou com medo de ir ao programa e pegar mal por ser um programa de humor. O programa no estúdio era montado para receber os convidados. A solução foi pegar o manequim no almoxarifado, colocamos uma camisa do São Paulo, aí colocamos o boneco na cadeira e fizemos o programa como se o Marquinhos estivesse."

Marquinhos virou lenda e sumiu depois do fim do programa. Bonfá teve de localizar o paradeiro dele para a exposição. "O manequim estava na bacia das almas de uma loja na rua das noivas [em São Paulo]. Não se usa mais. O Marquinhos não tinha braço, sem glamour. O dono da empresa não entendia por que a gente queria comprar aquele lá. Ele não era único no mundo, mas saiu de linha há muitos anos, tinha de resgatar."

Diretamente de Birigui, só que não

Rockgol Birigui - Reprodução/MTV - Reprodução/MTV
Rockgol era disputado em São Paulo, e não em Birigui
Imagem: Reprodução/MTV

Quem assistiu aos jogos do Rockgol via imagens da "MTV Sports Arena", diretamente de Birigui, como Bonfá dizia, mas a verdade é que os jogos nunca foram realizados na cidade do interior paulista, e sim na capital mesmo. Ainda assim, muita gente acreditava que as partidas eram disputadas em Birigui. Bonfá chegou até a receber propostas para levar a disputa para outra cidade. Ele ainda ganhou a chave da cidade de Birigui, de verdade, e apareceu no jornal local. Está tudo na exposição.

"Um dia, um assessor do prefeito de Birigui me ligou dizendo que queria que eu recebesse a chave da cidade. Foi feita uma chave, fui lá para receber a chave. A câmara municipal, cujo presidente era de um partido diferente do prefeito, resolveu conceder uma placa para também ter uma cerimônia. O time Bandeirante de Birigui nos recebeu, nos deram uma camisa autografada. Estávamos todo o dia na capa do jornal", contou.

Mas por que Birigui? "A resposta mais comumente aceita por mim e pelo Bianchi é que alguém, quando a gente era criança, tinha família ou fazenda em Birigui. Aí, falava que passava as férias em Birigui, e a gente achava o nome engraçado", explicou Bonfá.

A mostra no Museu do Futebol também traz uma área dedicada aos produtos fictícios que o programa criava para anunciar no Rockgol. Bonfá selecionou os quatro mais famosos: Birigui Booster, "água em pó"; Aguardente Caninha Curió, que serve para "desratizar" a residência; Amendoim João Ponês, "nos sabores pipoca, azeitona e aventura"; consultoria capilar Paulo Bonfá Ringling Brothers Capillar Consultants.

Por fim, Bonfá explicou que os músicos não foram consultados para a mostra porque ele não queria criar falsas expectativas. A exposição é fruto de uma curadoria autoral do ex-apresentador do programa.

"A preocupação era que as pessoas pudessem aproveitar. Não é para acadêmicos, para o cara fazer pesquisa, não tem estatísticas. É para os músicos curtirem mesmo, a pegada de resgatar alguns momentos marcantes e que as pessoas lembrassem das suas épocas."

Serviço:

Exposição Rockgol 25 Anos
Museu do Futebol - Praça Charles Miller, s/n
Pacaembu - São Paulo - SP
De 4 de outubro de 2022 a 28 de fevereiro de 2023
Ingressos: https://bileto.sympla.com.br/event/67330/d/153663