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Arnaldo revela conselho a Galvão Bueno sobre saída da Globo: 'A fila anda'

Colaboração para o UOL, em Salvador

21/08/2022 04h00

No UOL Entrevista Esporte, o ex-comentarista de arbitragem Arnaldo Cezar Coelho revelou o conselho que deu ao narrador e amigo Galvão Bueno, seu companheiro de transmissões por mais de duas décadas, e que vai deixar a emissora carioca no fim do ano.

"O Galvão está se despedindo e tem conversado muito comigo. Eu disse: 'Galvão, renovação, a fila anda, e você já se reinventou. Você vai ser sempre lembrado, a tua voz vai aparecer por não sei mais quantos anos. É difícil, não é fácil, mas você se acostuma se estiver preparado para sair'."

"Entrei pela porta da frente e saí pela porta da frente, ainda mais na minha situação, de praticamente ser sócio da Globo, porque tenho uma afiliada, então sou sócio. Pegou muita gente de surpresa, mas era uma decisão. Eu acho o seguinte, você tem que saber entrar e saber sair na hora certa, tem essa história de se despedir e não se despede", afirmou o fundador e diretor da TV Rio Sul, afiliada da Rede Globo no Rio de Janeiro.

Arnaldo lembrou ainda o episódio de sua despedida como comentarista de arbitragem da emissora dos Marinho, ao lado de Galvão e Walter Casagrande, hoje colunista do UOL, na Copa da Rússia em 2018.

"Eu aproveitei um silêncio na transmissão, depois que o Casagrande fez um depoimento importante sobre a vida particular dele e que o presidente russo não entrava em campo porque estava chovendo e não tinham levado o guarda-chuva dele. Foi o momento que o Galvão estava abraçando o Casagrande, que estava chorando com essa declaração e o Galvão ficou emocionado, aí eu cheguei e disse que queria falar uma coisa. Que a vida da gente é feita de fases, eu atravessei várias Copas do Mundo, apitei uma final de Copa como essa e acho que chegou meu ponto final em Copas com a TV Globo."

Na entrevista, Arnaldo não poupou críticas à utilização do VAR no futebol brasileiro, propôs uma solução para as polêmicas de impedimento e ironizou o uso excessivo da tecnologia, dizendo que nas próximas Copas o equipamento será operado por árbitros de videogame e por meio do Metaverso. Confira os principais trechos:

'Imagem da TV é mentirosa' e linha de impedimento do VAR tem que ter 12 cm

"Inventaram que o VAR tinha que marcar impedimento também, anularam a função do bandeirinha, tudo que é gol vai ser checado, então aumentaram o protocolo, que é uma palavra horrível, nas funções do VAR. Ele vai interpretar se foi pênalti ou não, uma interpretação vista na TV, que é mentirosa, a imagem é mentirosa, eu garanto para vocês. Quando eu digo mentirosa é porque a imagem da TV é formada por uma sequência de fotografias, baseado na fotografia o VAR chama, mostra essa imagem fechada e não mostra sequência do lance. A mesma coisa no lance de mão, está errado", opinou Arnaldo.

"O erro é que eles continuam com a linha de impedimento como se fosse aquela linha de cavalo de corrida. A linha de impedimento tinha que ter 12 cm, como tem a linha de fundo, a linha lateral, a linha de gol, a baliza de diâmetro, por que não bota uma linha branca de 12 cm, se o jogador tiver com alguma parte do corpo sobre essa linha branca, é mesma linha, e mesma linha é gol. Vamos ter mais gols", sugeriu o ex-árbitro.

'Apitar a Copa é mais fácil que o Brasileirão'

Segundo Arnaldo, que apitou a final da Copa de 1982 na Espanha e cobriu várias outras como comentarista, arbitrar um jogo de Mundial é mais fácil do que nos campeonatos nacionais. "Apitar Copa do Mundo é muito mais fácil que apitar jogos do Brasileiro e da Copa do Brasil, porque lá a responsabilidade é muito maior e os jogadores sabem que não podem fazer coisas erradas, têm muito mais respeito pela arbitragem."

Apesar disso, ele prevê polêmicas em função do VAR no Qatar. "Algumas equipes podem estar treinadas a pressionar o árbitro para provocar interferência do VAR, como a França fez na última Copa, entendeu a grande influência do VAR sobre o árbitro. Interferiram contra o (árbitro argentino Néstor) Pitana na final contra a Croácia. Ele ficou no VAR três minutos para confirmar um pênalti, se coçava todo de nervoso, saiu da tela, voltou para ver. Se uma seleção está pensando em usar o VAR para colocar pressão, pode dar problema na arbitragem."

Para Arnaldo, o VAR tem atrapalhado a carreira de alguns árbitros

Para Arnaldo, o VAR tem prejudicado a carreira até mesmo de árbitros promissores. Ele usou como exemplo Wagner Magalhães que, antes de ser profissional, apitava em comunidades do Rio. "Imagina apitar um jogo na favela? Esse Wagner fez uma carreira brilhante. Sabe apitar, tem bom senso."

Para Arnaldo, tudo mudou quando ele trabalhou junto com o VAR e fui justo numa final. Foi na Copa do Brasil, em 2018 vencida pelo Cruzeiro por 2 a 1, contra o Corinthians. "Ele primeiro deu um pênalti que o VAR se meteu, depois anulou um gol do Pedrinho numa falta que aconteceu, possível falta no Dedé do Cruzeiro. Aí eu falei meu Deus, o VAR..."

Por fim, Arnaldo criou uma imagem curiosa pra ilustrar como ele vê a atuação do VAR:

"Algum de vocês já dirigiu carro com uma pessoa falando do lado 'vai pra direita, vai pra esquerda', escutando o telefone tocar e com o rádio ligado? Ninguém se concentra, você não tem (foco)."

Apesar das críticas, o ex-árbrito se disse favorável à utilização da tecnologia no futebol. Na visão dele, no entanto, o VAR tem que ser acionado apenas em lances claros. "VAR tem que entrar mudo e sair calado. Só pode entrar quando o Maradona fizer um gol com a mão, que até o pipoqueiro do estádio viu, como foi na Copa de 1986. Afora isso, bico calado."

Confira a entrevista na íntegra