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Time do RS com nome em inglês formou titular de Mourinho e mira Europa

Players RS, time de futebol gaúcho com parceria na Europa  - Divulgação/PRS
Players RS, time de futebol gaúcho com parceria na Europa Imagem: Divulgação/PRS

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

13/08/2022 04h00

Olhar para a tabela da Série B do Gauchão (correspondente à terceira divisão) é perceber algo curioso. Entre nomes de cidades, equipes tradicionais e um grupo de investimento internacional, surge um clube com sotaque inglês: o Players RS. Mas a agremiação, apesar de não ser muito conhecida, tem história, formou um jogador titular com José Mourinho na Roma e fechou parcerias na Europa. Além de investir alto em um outro capital valioso: o social.

A história do Players RS está na ponta da língua do técnico e idealizador do clube. É Edmilson Silva quem levanta a bandeira da equipe em todos os cantos. Ex-jogador com passagem pelo futebol do Rio de Janeiro e vários outros clubes em Europa e Ásia, ele se empolga com a oportunidade de mostrar seu projeto.

"Eu tive muitas dificuldades em cada país que vivi. Tive que superar isso e aprendi muito. Me especializei em formação de jogadores depois de ser atleta. E, junto com Luís Carlos dos Santos, começamos um projeto para ajudar a comunidade carente, as crianças que não têm condições, utilizando o futebol", contou ao UOL Esporte.

"Não quero que esses meninos tenham as dificuldades que tive", completou.

Diferente de outros clubes de formação, o Players não cobra nenhuma taxa dos atletas e abriga jogadores, atualmente, entre 16 e 20 anos. O plano para 2023 é estabelecer idade máxima em 18 anos. Nenhum atleta ou colaborador recebe salário, são meninos que buscam no futebol uma oportunidade de vida, e profissionais que trabalham de forma voluntária. A preferência, para evitar deslocamentos, é por pessoas da região metropolitana de Porto Alegre, já que o time atua no município de Canoas.

"Nós disputamos o Gauchão com os meninos que têm vínculos conosco. Então, emprestamos com valor de compra estipulado. Se chegar a acontecer, recebemos o valor e conseguimos manter o clube, além de repassar o que é de cada parceiro", disse.

"Mas nosso cunho social é muito maior do que o empresarial. Hoje, o clube funciona com o dinheiro que recebemos, e com parte do meu e da minha família. Chegamos a parar por dois anos, pois não tive como tocar, ficou muito caro", explicou.

A busca de Edmilson hoje é por aporte público através da Lei de Incentivo ao Esporte. Assim, ele crê que conseguirá pagar seus funcionários e dar melhores condições aos jogadores. "Hoje não conseguimos nem pagar as passagens de deslocamento de todos", contou.

Por que Players? E parcerias pelo mundo

Edmilson Silva, técnico e idealizador do PRS, clube do Rio Grande do Sul - Divulgação/PRS - Divulgação/PRS
Imagem: Divulgação/PRS

Mas a pergunta de um milhão de dólares é: por que Players? A resposta é bem simples: para facilitar o entendimento do mercado internacional. O nome em inglês mira atrair e ajudar a compreensão de futuros parceiros.

"Eu joguei muito fora e percebi que o nome poderia chamar atenção do mundo, que nossos jogadores possam estar na direção dos clubes, facilitar negócios e reconhecimento", disse Edmilson (na foto acima).

Está dando certo. Já foram 12 jogadores negociados com clubes do exterior pelo Players. Há parcerias firmadas na Itália, em Portugal, na Eslováquia, na Suécia, Coreia do Sul, além de clubes brasileiros.

O elo mais firme é com Marítimo, de Portugal. Pela parceria, o PRS pode utilizar jogadores das escolinhas do clube espalhadas pelo Brasil, além de ter liberação para jogar e treinar no Complexo Esportivo da Ulbra, uma vez que o clube de Portugal que tem convênio com a Universidade Luterana do Brasil para usar o espaço desde 2020.

"Nós escolhemos os jogadores na escolinha para completar nosso grupo. E eles têm preferência de levar atletas nossos se quiserem. Mas não é exclusividade, senão fecharia nosso mercado todo", disse Edmilson.

Berço de titular de Mourinho

Roger Ibañez e José Mourinho se cumprimentam durante duelo amistoso entre Roma e Raja Casablanca, em Roma, na Itália, em 14 de agosto de 2021 - Fabio Rossi/AS Roma via Getty Images - Fabio Rossi/AS Roma via Getty Images
Imagem: Fabio Rossi/AS Roma via Getty Images

O grande nome formado pelo Players até agora é Roger Ibañez. Com 23 anos, o zagueiro é titular da Roma treinada por José Mourinho e já disputou mais de 100 jogos pelo clube italiano.

"O Ibañez saiu do projeto, foi para o Sergipe, depois foi vendido para o Fluminense e hoje está na Roma. Nosso objetivo é este: enviar jogadores para que eles fiquem", contou Edmilson, orgulhoso da formação do defensor.

"Na Europa se trabalha de outra forma. Eles querem coisas que os brasileiros não têm. Os brasileiros tinham ou têm o drible. Isso sempre chamou atenção lá fora. Mas a parte tática do brasileiro é zero. E isso é algo que batemos muito aqui para levar os garotos prontos para Europa e grandes clubes", sentenciou.

É exatamente este mercado que está na mira do Players. Segundo Edmilson, a ideia é firmar laços cada vez mais firmes com equipes de fora do país, para que conheçam o trabalho e firmem novas parcerias.

Roger Ibañez, no Players e no Fluminense, clubes de sua formação no Brasil - Divulgação/PRS - Divulgação/PRS
Imagem: Divulgação/PRS

Esposa presidente e sonho com estádio

"Subir, ser campeão, não é nosso objetivo principal. Como eu disse, o principal é tirar os meninos das ruas, é dar alternativas de vida para eles. Mas se for o caso, vamos avançando", brincou Edmilson, que treina a equipe. E os resultados têm aparecido.

O PRS se classificou para a próxima fase da terceira divisão estadual com uma rodada de antecedência. Mas subir de divisão aumentaria também os custos, algo que já fez o time 'desacelerar' em alguns momentos. Agora, a promessa é 'ir até onde for possível'.

Sheila Lencina (d), presidente do PRS, clube do Rio Grande do Sul - Divulgação/PRS - Divulgação/PRS
Imagem: Divulgação/PRS

O sonho é a construção do estádio que prestaria homenagem a Luis Carlos, que iniciou o projeto com Edmilson e morreu vítima de câncer.

"Temos este sonho, porque o clube também é dele, por tudo que fez, que nos ajudou", disse Edmilson.

Isso tudo só será possível com uma participação especial. É Sheila Lencina, esposa de Edmilson, que atualmente é presidente do clube e cuida de toda parte operacional.

"É uma honra para mim. Hoje posso dizer que faço parte. Cuido de toda parte dos atletas, do BID, do sistema, é muito bom e gratificante. Acompanhar o Edmilson em tudo que ele fez, nesses nossos 20 anos juntos, e também no futebol, e agora transformar isso em um projeto familiar é maravilhoso. Tentamos passar nossos valores para os meninos e isso é muito legal", contou Sheila.